A minha filha não é uma criança fácil de gostar
O dia que eu me apercebi de que a minha filha era “aquela” criança, foi quando tudo mudou para mim enquanto mãe.
Foi o dia em que comecei a sentir vergonha pelo comportamento da minha filha. Foi o dia em que me questionei se haveria algo de errado com ela, ou comigo, como pessoa que a trouxe ao mundo e responsável por torna-la um ser humano correto.
Foi num dia como outro qualquer. Tínhamos combinado um programa com amigos em nossa casa. Amigos que já lá foram inúmeras vezes. A minha filha de cinco anos e a deles de quatro andavam a jogar à “apanhada” a correr à volta do sofá. A minha filha não conseguia apanhar a amiga então começou num pranto e atirou-se para o chão a gritar: “NÃO CONSIGO APANHAR-TE! TENS DE CORRER MAIS DEVAGAR! TEM DE SER OU NÃO BRINCO MAIS CONTIGO!” – Eu olhei para ela num suspiro, como costumo fazer em situações destas, e olhei para a amiga dela que está quase sempre bem-disposta e sorridente, e foi aí que eu percebi. Foi nesse momento que eu soube. O meu maior medo, aquele que vinha a crescer nos meus pensamentos e a apertar-me o coração, era agora inequivocamente uma verdade: A minha filha não é uma criança fácil de gostar
E claro que não conclui isto por causa deste episódio. Isto foi só a gota de água. Não foi um episódio isolado. Já aconteceram situações semelhantes muitas outras vezes. É sempre assim! Quer esteja sozinha, com os irmãos, com os amigos, no meio da rua, em casa, a minha filha é sempre assim! É a mais mandona. A mais exigente. A que chora e chora numa loja porque não lhe compro uns collants de ginástica (Ela nem faz ginástica!). A minha filha chora à mínima coisa, e desata numa birra daquelas que, antigamente, eu achava que só as crianças de 2 anos faziam. Falta ao respeito a toda a gente e é rude. É temperamental. Incapaz de partilhar e constantemente preocupada com o raio dos brinquedos dela ou dos outros. Quer fazer tudo à sua maneira, e fica impossível se algo não corre como queria. É manipulativa. Pensa sempre em si própria. E está sempre preparada para dizer exactamente o que pensa e sente em qualquer momento. Se a minha filha não gostar de ti ou daquilo que estás a fazer, vais sabê-lo de imediato.
Eu odeio rótulos, mas tenho de admitir, a minha filha é uma força da natureza, um furacão, e como é óbvio, um pirralho. E sempre que interage com alguém que não conheço sinto-me num campo de minas, onde nunca sei quando nem como irá explodir.
Isto é especialmente problemático para uma mãe que não gosta de conflitos. Eu não sou do género de deixar que as pessoas me pisem, mas orgulho-me de ser generosa, gentil e ter bom coração. Eu gosto de agradar as pessoas e fazer os outros felizes. E a minha filha, não! As pessoas sempre me disseram que a coisa melhorava depois da fase dos dois anos. Mas com a minha filha, não!
A minha filha agora grita mais alto e um vocabulário mais elaborado. E não vejo, num futuro próximo, significativas melhoras. Quando a observo com pares, torna-se cada vez mais evidente que a minha independente, determinada e teimosa diva se destaca dos restantes miúdos. A minha filha é a definição de uma criança difícil. E eu quero aceita-la e ama-la por ser esta sua característica. Não quero compará-la com os outros miúdos, mas a verdade é que eu adorava que a minha filha fosse mais como o teu filho ou a tua filha, mais simpática e afável.
Por isso, para quem vier a conhecer a minha querida pirralha de olhos grandes, estás perdoada se não gostares dela. Eu própria, muitas vezes, não gostaria dela.
Mas eu sou a sua mãe, e conheço-a no seu melhor. Eu reconheço o seu potencial. As suas forças. Eu sei o quanto ela se esforça para fazer o irmão bebé dar gargalhadas, vejo o carinho com que dá festas ao nosso cão, e a forma como atravessa e conquista confiantemente uma sala cheia de estranhos, enquanto as outras crianças ficam coladas aos pais. Eu ouço quando suspira “Eu adoro-te!” à sua irmã antes de adormecer, ou quando vê outras crianças na fila do supermercado e pergunta “Queres ser meu amigo”? – coisa que eu nunca consegui fazer toda a vida. E está constantemente a encher-me de abraços apertados, beijinhos, colares feitos por si própria e desenhos meus, com cabelo de rapunzel.
Eu sei o quão maravilhosa a minha filha consegue ser.
Mas e tu? Se calhar se passasses um minuto, uma hora ou uma manhã com ela, se tivesses sorte também receberias todo o seu charme e carinho. Mas e se não fosse assim? Se passasses o teu tempo a responder às suas observações mordazes, a chamar a atenção por estar constantemente a tirar o brinquedo ao teu filho, a ouvi-la constantemente a chorar, a desejares estar em qualquer outro sítio do mundo menos ali, porque estás saturada e não aguentas.
Peço desculpa, mas eu estou a tentar. Com todas as minhas forças.
E eu preciso de acreditar que a minha filha também, porque num dia bom eu percebo que ela quase morde a língua para não dizer algo que sabe que eu não quero que diga, o que me dá muita confiança – ou em última análise, uma esperança moderada –que um dia a minha filha será uma pessoa integra e de carácter forte, exactamente como eu estou a tentar educa-la. Talvez um dia, a ideia de combinar um programa com os seus amigos não me deixe de coração fora do peito.
Mas entretanto, não tenhas medo de dizer aos teus filhos que lhe façam frente. Que lutem pelo brinquedo que querem. Que ganhem o jogo que a minha filha quer desesperadamente ganhar. Eu vou negar que disse isto, mas eu até agradecia que algum dos miúdos lhe desse uma canelada. A sério. Que a calassem. A minha filha precisa de amigos (e Deus sabe o medo que tenho que ninguém queira ser amigo dela), mas também precisa de miúdos que a ponham no seu lugar de vez em quando. A forma como estou a educar, incluindo os meus lembretes delicados, as conversas, as repreensões, as consequências e críticas, falhou.
Pode ser que, neste caso, a pressão dos colegas lhe traga um mundo novo.
Uma mãe tem, pelo menos, o direito a ter esperança.
Publicado em Scary Mommy, mãe anónima.
Traduzido e adaptado com autorização por Up To Kids®
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1 comentário
Parabéns! A sua filha não poderia ter melhor mãe!
Todo o seu trabalho a educa-la e frustrações vão compensar!