A Tristeza de Perda
Provavelmente por ser Médica Veterinária, procuro muito frequentemente referências na vida animal para clarificar e desmistificar acontecimentos comuns nas nossas vidas. Nunca deixo de me surpreender ao sentir que as crianças conseguem aceitar com alguma paz, a tristeza da perda se a perceberem, e encaram-na com a mesma humildade e simplicidade que os animais encaram o trilho que a vida lhes reserva.
O Zaire era o cão do Avô.
Um Perdigueiro Português branco, de castanho malhado e focinho arrebitado. Passados dez longos anos como caçador acérrimo, vivia os seus dias deitado à porta de casa, a dormir ao Sol.
A Luísa visitava-o de vez em quando, e observava com olho clínico as marcas que o Tempo deixava no velho corpo: a magreza, os tremores, o andar cambaleante e o cansaço.
Um dia quebrou o silêncio: “O Zaire está doente. Vai morrer?”
Estava doente, tinha dores, estava cansado, em breve iria deixar o corpo na terra, e a vida que tinha dentro dele iria para um lugar especial.
Na visita seguinte, o Zaire não estava deitado à porta. Visitamos o montinho de terra por baixo de uma cerejeira de jardim. “Vou ter saudades do Zaire, Mãe”
Alguns anos depois, passadas várias perdas na família, também a Bisavó da Luísa partiu com 104 anos.
Tal como o Zaire, a Bis estava velhinha e cansada. Resignada na sua tristeza, a Luísa comentou: “Agora a Bis vai fazer companhia ao Zaire, podem passear em cima das nuvens e vão fazer uma grande festa de chá com as pessoas todas que já lá estão” suspirou ao de leve e terminou com uma simplicidade pura e comovente: “Vou ter saudades da Bis, Mãe”
imagem@dogaround
1 comentário
Linda a simplicidade das crianças. O meu filho não conheceu os avós, tento o meu pai como o do meu marido já tinham falecido quando ele nasceu. Para colmatar a falta dessa referência masculina sempre disse que os avós estavam juntos no céu a jogar às cartas…