Mais do que resoluções de ano novo, acho mais gratificante fazer uma retrospectiva do que fica agora para trás.
Há um ano já era mãe, mas era mãe de um bebé de quatro meses e meio. Tanto mudou que parece que passou meio século.
Vi a minha filha aprender a sentar-se, a gatinhar, a agarrar objectos, a divertir-se a conhecer novos sabores. Hoje é difícil segurá-la quieta, quase voa, vê em tudo uma brincadeira e transformou-me numa pessoa mais séria e mais divertida. Em igual proporção.
Há um ano eu não sabia muitas (demasiadas) coisas. Hoje sou melhor pessoa, melhor mãe, melhor mulher.
Descobri que é possível amar cada dia mais mesmo quando achamos impossível o nosso coração esticar mais um milímetro que seja.
Descobri que tenho muitos mais defeitos e tanta, mas tanta vontade de melhorar – e de esconder melhor aquilo que não consigo mudar e que é negativo para mim e para os outros.
Que é possível conciliar as tarefas mais inusitadas – como manicure fresca, lavar um ou dois pratos com o verniz a secar e ainda acudir ao bebé que está a chorar no berço – e ficar com as unhas impecáveis no final.
Que perguntamos muitas vezes as mesmas coisas pela delícia de ouvir vezes sem conta a mesma resposta.
Que ouvir “mamã” a meio da noite não me dá vontade de arrancar os cabelos – pode até fazer com que percorra a casa de cabelo desgrenhado e em piloto automático, mas com o coração mais quente.
Que as rotinas são essenciais para as crianças, mas também nos sabem bem a nós – por exemplo, entre a creche e a nossa casa há três paragens obrigatórias, faça chuva ou faça sol: primeiro o banco da paragem de autocarros (que era rasteiro ao chão e a minha filha adorava sentar-se e chegar com os sapatos à pedra da calçada), segundo a tampa de saneamento que está no passeio antes da nossa última curva e que tem centenas de estrelas em relevo (as coisas que inventamos para os entreter são de outro mundo), e que é um verdadeiro céu debaixo dos nossos pés, e o canteiro das flores roxas e vermelhas – a delícia da Mariana, que se despede delas com beijinhos e mil acenos. Se, por algum motivo, não fazemos este percurso, é como se faltasse alguma coisa ao nosso dia.
Descobri também como o tempo é precioso. E não o tempo de descanso, que o corpo acaba por se habituar, mas o tempo que temos entre mãos para dividir por tudo o que temos para fazer – e aqueles a quem queremos dedicá-lo.
Que muitas dúvidas, com esse precioso tempo, se transformaram em certezas. Outras certezas deram lugar a factos mais sensatos e outras ficaram mais aprofundadas. E novas dúvidas surgem todos os dias, para que o ciclo nunca se interrompa.
Que quero continuar a fascinar-me com a minha filha sempre, em todas as fases. Que não quero perder o rasto de quem ela é, de quem ela eventualmente se tornará. Porque ela faz de mim uma pessoa melhor pelo simples facto de existir e eu quero retribuir essa dádiva que ela é – respeitando a sua individualidade, o seu espaço, o seu tempo, o seu crescimento e intrometendo-me apenas naquilo em que possa contribuir de forma positiva.
Ora aqui está a minha resolução, no final das contas. Para 2016 e para o resto das nossas vidas.
A mais um ano de aprendizagem, de tanto amor, de todos os sonhos.
Mãe.
imagem@weheartir
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!