Carta aos pais no parque infantil
Encontrei uma avó no parque, cujo lema era “quando as crianças brincam os adultos não interferem”. Advogava que assim é que as personalidades dos miúdos têm oportunidade de florescer e os pais podem ver, sem se meterem, se os filhos se defendem ou se agridem.
Concordo até certo ponto, porque já passei por situações de todos os tipos no que toca a parque infantis.
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Por isso, caros pais com quem me cruzo:
- Se os miúdos estiverem a correr divertidos, não se metam na brincadeira e deixem-nos estar – a não ser que estejam a incomodar alguém.
- Estejam atentos porque muitas vezes o vosso filho, com a desculpa de que vocês têm mais interesse no que se passa no telemóvel do que no que ele faz, empurra com força as crianças mais pequenas pelo escorrega abaixo.
- Se os vossos filhos chamarem nomes às outras crianças – “És mesmo parva, não é assim que se brinca!”- ou forem desagradáveis com elas -“não brincas connosco, ouviste?!”-, por favor interfiram e corrijam a atitude.
- Se a minha filha estiver a colocar pedrinhas no escorrega comigo a dez centímetros é porque eu autorizei e não vale a pena virem ralhar com ela dizendo que não se faz. Faz-se como em todas as brincadeiras: desarruma, arruma, não incomoda os outros e não tem de ser chamada à atenção por alguém que não a mãe. Pensem como gostariam que acontecesse se fosse o vosso filho.
- Deixem os miúdos sujar-se, explorarem novas texturas e brincadeiras, observar os outros para, eventualmente, os copiarem, apreciem o facto de eles estarem ali em vez de estarem com um tablet no colo e a atenção completamente focada em algo em que não participam verdadeiramente.
- Não comparem o vosso filho com os outros, principalmente em voz tão alta que se oiça no outro extremo da cidade e desmerecendo a vossa criança – porque o outro já se segura sozinho, porque os outros não querem ajuda para subir ou companhia dos pais para brincar.
- Acima de tudo estejam lá. De corpo e alma. Não precisam de estar fisicamente no recinto, mas é importante que os vossos (nossos!) filhos sintam que há regras para brincar. Que têm de respeitar o ritmo dos amigos, a vontade dos outros miúdos, o espaço que partilham.
Para que não ajam como se o que fazem não tem consequências.
Para que façam o que foram ali fazer: brincar e ser felizes.
Obrigada,
Uma mãe que está suficientemente perto para amparar as eventuais quedas da filha de vinte e um meses quando sobe ao escorrega sozinha, mas que lhe dá espaço para explorar o parque e conhecer novos amigos – tratando-os bem (quando não o faz ali estou eu, a emendá-la para que tudo continue como deveria ser).
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!