Meu amor,
Não sabes que és fruto de um amor com mais de uma década, que começou com dois miúdos (um de dezanove e uma de dezassete anos) que não sabiam nada da vida mas sabiam que queriam ficar juntos – sim, esses miúdos com quem vives agora.
Não sabes como os astros tiveram de se alinhar e o pai e a mãe tiveram de crescer para estarem prontos para te receber – e ainda crescem todos os dias, contigo.
Não sabes como foste desejada e planeada, como a nossa vida recomeçou depois de teres nascido – um dia quente, uma noite mal dormida, poucas dores e depois tu no meu peito.
Não sabes que eras um bebé pequenino, sem espaço na barriga da mãe, e que tivemos medo porque ganhavas pouco peso de cada vez – e hoje és robusta, cresceste cá fora e que bom que é respirar de alívio.
Não sabes como era mágico ver-te dançar dentro da minha barriga, mesmo estando tão apertada – ninguém acreditava que com dezasseis semanas eu já te sentia, mas comunicámos sempre muito, só tu e eu.
Não sabes como és parecida com o pai e que já nas ecografias se adivinhava que eras a cara dele – se tiveres também o seu bom coração, o sentido de humor e optimismo então tens meio caminho andado para seres feliz.
Não sabes que a música que sempre te cantei quando estavas na barriga, que agora te faz sorrir instantaneamente é a música que cantava com o avô e que tem o mesmo efeito em mim – é uma das nossas coisas, só nossas.
Não sabes que o pai e a mãe são os melhores amigos um do outro e que isso faz toda a diferença porque nos conhecemos como ninguém – e um dia, se tiveres sorte, vais encontrar alguém assim.
Não sabes que todos os dias ultrapassas pequenos obstáculos, te desafias e que estás quase a gatinhar – é tão bom ver que não desistes.
Não sabes que essa impressão que sentes na boca é o teu primeiro dente a nascer e vais ficar abismada quando daqui a uns anos ele cair – e vais ficar linda desdentada.
Não sabes que o facto de acordares sempre a sorrir é um prenúncio de muitos acordares felizes que te esperam – espero que nunca mudes.
Não sabes que quando te mando ao ar e ris, nervosa, não te vou deixar cair – mas acreditas, confias.
Não sabes que há um mundo complicado e cheio de problemas lá fora – e ainda bem que és alheia a isso.
Não sabes que te vais apaixonar muitas vezes, ter a certeza de tudo, achar-te muito crescida e que nós não sabemos nada – todos nós o fizemos e, se calhar, vais ter de nos lembrar disso mesmo.
Não sabes o quanto vais errar – e só assim aprender.
Não sabes que vais sofrer por amor – e como depois tudo isso passa.
Não sabes como te vai custar perder amigos que achavas que eram para sempre – mas os que ficam vão fazer tudo valer a pena.
Não sabes como vai ser bom quando uma música ou um cheiro te fizerem viajar no tempo – viagens boas, viagens más, viagens…
Não sabes como é possível falar sem palavras – apesar de o fazeres todos os dias.
Não sabes o valor do perdão – e de como a vida é muito mais fácil quando deixamos o que não importa lá atrás.
Não sabes como é bom comer um gelado numa tarde de verão – mas pela maneira como comes a tua fruta adivinha-se que vais adorar.
Não sabes que vais amar muitas pessoas de formas muito diferentes – e que vai haver sempre espaço para todas.
Não sabes que vais sentir saudades e algumas vezes chorar por sentir falta de alguém – e que isso significa que esse alguém é ou foi muito importante para ti.
Não sabes como estarmos perto pode tranquilizar o dia mais agitado – o mais parecido é o que sentes quando choras e nos vês chegar ao pé de ti.
Ainda não sabes como o simples facto de existires torna o dia de tantos de nós mais feliz – pais, avós, tios, padrinhos, é só escolheres.
Não sabes como esperei toda a minha vida por ti.
Mas vais saber. A mãe encarrega-se disso.
Por Marta Coelho,
para Up To Lisbon Kids®
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Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
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