Quando somos pequenas, ouvimos histórias de amor. Histórias de encantar em que um príncipe e uma princesa se encontram e são felizes para sempre. Crescemos a acreditar nesta verdade. À espera de encontrar o tal príncipe mais-que-perfeito. Mas depois… Surgem as desilusões, que, a bem dizer, são mais que muitas no decorrer da existência. Mas focando-nos nas histórias de príncipes encantados, podemos falar em quatro desilusões básicas:
1ª Desilusão: Raramente ou nunca nos apaixonamos pela pessoa que idealizámos ser o modelo do príncipe
2ª Desilusão: Quando achamos que estamos apaixonadas pelo dito príncipe….. e….puf…. Percebemos que, afinal, não é perfeito.
3ª Desilusão: Após múltiplas desilusões com o príncipe, ele vira sapo e percebemos , finalmente, que ele não é um príncipe!
4ª Desilusão: Quando percebemos que os príncipes NÃO EXISTEM.
Quando percebemos que os príncipes e princesas e as relações perfeitas não existem, damos um salto quântico na evolução da consciência. Percebemos que tudo o que existe é ilusório e os constructos e paradigmas de felicidade desenhados e enraizados na nossa mente desmoronam por completo. É uma morte súbita. É um choque profundo.
Inicialmente, tentamos agarrar-nos a eles enlouquecidamente. Custa-nos matá-los verdadeiramente porque sustentam a nossa Vida. E Agora? Afinal, como se é feliz? Sem príncipe? Sem família perfeita? E sozinha? Acreditamos não ser possível.
Ficamos em luto. No luto de nós próprias. No luto de tudo aquilo em que acreditámos até aqui. No luto de uma família fragmentada. No luto de uma relação sonhada que caiu. No luto da nossa própria existência como foi vivida até aqui. Esta dor que nos acompanha destrói-nos profundamente. A cada momento vemos cair véus. Véus de idealizações e suposições do que seria uma realidade feliz. A cada momento nos questionamos para quê. A cada momento pensamos que seria mais fácil permanecer numa relação já inexistente. A cada momento tendemos a crer que a dor deste luto não vai desvanecer e que mas valia voltar atrás. E nesse momento, em que vacilamos, em que a mente nos engana descortinando apenas os bons momentos vividos na relação, fazendo-nos ponderar um regresso ao conhecido e estável, temos que fazer uma escolha. A escolha entre uma existência amorfa, apática e automática e uma existência vibrante, viva e autónoma. A escolha entre uma paz podre, uma aparente paz alicerçada em dependência e comodismo e uma paz genuína profunda e real. Em que somos nós as suas autoras.
A dor de todo este processo pode fazer-nos crescer. Tanto. Ao dissolvermos todas as ilusões que viviam em nós e nos faziam acreditar e depositar numa relação (por pior que esta pudesse ser) toda, ou quase toda, a nossa felicidade, dissolvemos a parte de nós que não encarava a realidade na sua mais verdadeira forma. Dissolvemos a parte de nós que criava expectativas e passamos a aceitar as vivências como são, passamos a aceitar as pessoas como são, os relacionamentos como são, as dinâmicas como são. E aceitando a realidade genuinamente como ela é, decidimos ficar ou não ficar com essa mesma realidade na nossa vida. Deixamos de tentar mudar o que não é interno e mudamos o que queremos mudar internamente. Adaptamo-nos responsavelmente, despidas de resignação. Passamos a escolher mais e a ter consciência de que todas as escolhas têm perdas. E ganhos. Mas escolhemos. E escolhemos aquilo que queremos verdadeiramente que permaneça na nossa vida.
E assim, sim: podemos ser felizes.
Para sempre.
Por Joana Nunes, para Up To Kids®
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Nesta permanente procura , dedicou-se ao estudo consciência Humana, tendo-se formado em Psicologia Clínica e feito várias formações no âmbito desta temática.