Eu hei de ser grande um dia. E fazer essas coisas esquisitas que as pessoas fazem quando crescem: Preocupar-me à toa. Adormecer a meio de um filme. Usar guarda-chuva. Comer verduras sem ser obrigado. Passar um Sábado de sol a limpar a casa. Resistir a um frasco de nutella. Achar a água da praia fria demais para entrar nela. Ir para uma fila de espera e ainda pagar no fim. Passar o dia a sonhar com a cama. Ou a semana a sonhar com o fim de semana. Dizer que não gosto de fazer anos. Nem do Natal. Nem do Carnaval. Meter-me no carro para ficar parado no trânsito. Engomar. Fazer dieta…
Sim, eu sei que um dia hei de fazer coisas esquisitas tal como todas as pessoas grandes, umas mais outras menos, acabam por fazer. Mas até lá deixem-me ser criança: Ser pago por uma fada sempre que me cai um dente. Saltar da cama às 7 da manhã aos Domingos. Inventar coreografias ao espelho. Decorar as letras das músicas dos desenhos animados. Disfarçar-me de um animal qualquer. Pode ser de ovelha. Fazer caretas enquanto como sopa. Imaginar que sou o Homem-Aranha. Ou a Rapunzel. Brincar no parque até ficar com terra nos bolsos. Observar insetos. E répteis. Levar os meus brinquedos para o banho. Jogar videojogos. Fazer desenhos na areia. Andar de bicicleta. Andar de carrossel. Fazer bolinhas de sabão. Acreditar no Pai Natal. Andar de gatas pela casa a ladrar. Ou a miar. Calçar os sapatos do papá. Desenhar um bigode na cara. Trazer amigos para passar a tarde. Rasgar as calças nos joelhos. Fazer um piquenique. Rebolar com um cão pelo chão. Fazer uma festa com um pacote de gomas. Ficar feliz só por vestir um casaco do Faísca McQueen. Imitar um palhaço. Rir de patetices. Acampar mesmo que seja dentro de casa. Pedir um desejo a uma estrela. Esconder-me debaixo da cama. Fazer malabarismo com duas laranjas.
Eu hei de ser grande um dia. Até lá deixem-me seraquilo que sou: uma criança. Uma GRANDE CRIANÇA!
* Texto escrito durante uma longa viagem noturna com a ajuda de três pequenos colaboradores com hábitos nada esquisitos.
2 comentários
Muito bonito e que reflecte a realidade da vida. Se não tivermos as brincadeiras e os sonhos nas idades próprias, quando é que os vamos ter? Além disso considero que crianças felizes têm um grau de maior probabilidade de crescerem como pessoas intrinsecamente felizes. Com isto quero dizer que serão pessoas que, provavelmente, estarão mais viradas para o mundo exterior, para, de uma forma quase imperceptível, estenderem uma mão a quem mais precisa numa dada altura; são os chamados “elos de ligação” na família, no ambiente laboral, na sociedade onde se inserem. Poderão vir a ser pessoas muito bem “resolvidas” e isso é meio-caminho andado para uma vida com bastantes momentos felizes.
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