Mais 5 minutos
– Mãe, vem cá ver o que eu fiz no meu quarto!
E ela pediu-lhe mais 5 minutos para terminar de lavar a loiça. Lavou a loiça, limpou o fogão, limpou o balcão da cozinha e ainda conseguiu tirar qualquer coisa do congelador para fazer para o jantar.
– Mãe, acho que já passaram cinco horas. Tu disseste cinco horas não disseste? Anda cá ver o que eu fiz no meu quarto…
Não, não eram cinco horas, eram só 5 minutos.
Arre que criança sem paciência nenhuma!
A mãe já vai lá acima. Primeiro tem de ir tirar a roupa da máquina. Tem também de estendê-la.
E precisa de pôr aquela toalha na lixívia, que está cheia de nódoas. Ah! Quase que se esquecia… Falta-lhe também tirar os lençóis da cama para lavar.
– Mas mãe, eu estou à tua espera. Quando é que vens? Tu disseste que eram cinco minutos e já passaram mais de cinco minutos de certeza!
E a mãe continuou o frenesim de apanhar a roupa seca, estender a molhada…e depois reparou que a entrada da casa precisava de ser varrida e lá foi varrê-la. Depois o telefone tocou.
– Mãe, tu vais ficar tão contente com o que eu fiz no meu quarto! Eu juro que tu vais adorar!
A mãe mandou-o calar. Era um telefonema importante.
Alguém do escritório a perguntar sobre uns papéis. A mãe caminhou quilómetros pela casa fora a tentar explicar à pessoa importante do outro lado da linha, onde estava o papel. O telefonema durou muito tempo. Muito mais do que cinco minutos. Ele sentiu-se triste, muito triste. Afinal já tinham passado muitos cinco minutos desde que ele pediu à mãe para ir ver que ele arrumou o quarto todo sozinho.
Esta é uma história que se passa em muitas casas todos os dias.
Passa-se na minha casa muitas vezes, e talvez na sua também, Esta é uma história, que não sendo verídica, rebenta de tanta verdade, e queima o coração de cada um de nós-pais e mães.
Não podemos deixar o frenesim dos dias, o caos da lida da casa (que nunca acaba), os nossos trabalhos, os TPC´s, os compromissos, impedirem-nos de termos tempo para os nossos filhos. Não podemos deixar que as nossas vidas nos impeçam de vivermos.
A vida é demasiado curta para acharmos que as nossas crianças podem esperar por nós para sempre.
Por Sofia Isabel Vieira, Mãe de 2, autora do projecto Pais com P Grande, aventureira, realizadora de sonhos…
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2 comentários
As mães têm muitas responsabilidades e afazeres, por vezes, não têm qualquer tipo de ajuda, o que dificulta muito a gestão dos seus dias.
Mas, para além de tentar organizar os dias da melhor forma possível, para que lhes seja possível respirar e tirar também um tempinho para elas próprias, há que saber estabelecer prioridades.
Lembro-me de que, quando os meus filhos filhos eram pequenos, me chamavam tantas vezes que eu até lhes dizia que me gastavam o nome, mas procurava sempre, entre afazeres ou mesmo no meio daquele afazer específico, atender aos seus chamados.
Às vezes, basta um minuto, para nos mostrarem ou pedirem qualquer coisa e em seguida podemos voltar ao que estávamos a fazer. Eles ficam satisfeitos com a atenção recebida e nós podemos fazer o que precisamos, sem estarmos continuamente com problemas de consciência.
Nem sempre é possível, mas na maior parte dos casos é.
Acho que esta mãe tem demasiadas responsabilidades. Precisa de delegar, ou de apoio. Se a mãe for aliviada, o amor que sente pelo filho não será reflectido apenas nos seus afazeres, mas na relação. Eu nunca criticarei uma mãe a partir de uma simples história.