Sabem quando, ao vermos as outras pessoas, nos apercebemos de coisas que fazemos e não gostamos? Eis coisas que me tenho apercebido e que não gosto e, portanto, vou evitar fazer. Sogra e mãe, sim, algumas são inspiradas em vocês. É normal, são vocês que convivem connosco, está bem?
- Falar de morte desnecessariamente.
Não gosto. Passei a ser super sensível a isso. Dizer que o boneco morreu por estar estendido no chão não me parece saudável, não entendo porquê. Claro que a morte é algo natural e que os miúdos devem saber do que se trata, mas andar a lidar com o luto dos bonecos 10 vezes ao dia, não me parece uma coisa agradável. - Fez dói-dói? Ahh! Cadeira má! Dá tau-tau na cadeira!.
Não. Não se dá tau-tau em ninguém. Muito menos na cadeira que estava lá antes e que foi a bebé que não prestou atenção. Fez dói-dói, dá miminho e é seguir em frente sem violência. Um dia será a mãe que lhe faz dói-dói sem querer e depois leva meio tabefe que até anda de lado. - Não come mais? Menina feia! És feia, não gosto de ti!
Não. Ninguém é feio por não ter apetite. Nem se deve deixar de gostar de alguém por não o conseguirmos obrigar a comer. E ser feio não devia ser um castigo e muito menos estar ligado ao afecto que temos por essa pessoa. - Olha, Olha, vem ali um memé, olha!
Se não vier nenhum memé, se não vier nenhum pássaro, não se diz que sim. É errado mentir. É errado criar expectativas. A não ser achemos mesmo que possa vir um. A confiança é algo que se constrói. Estas técnicas depois deixam de funcionar e não ensinam grande coisa. A mim, se me disserem “é hoje que cai o salário na tua conta” e depois não cair, fico furiosa. - Quer comer mais mulão? Mumiu bem? Vamos apertar o passato?
Bom. Culpadíssima. Faço este reparo à minha mãe e sogra e ainda hoje lhe perguntei se ela queria comer mais uma tóta (tosta). É tentador, sim senhora, mas não é bom. A Irene, ainda por cima, consegue aprender facilmente palavras e ensiná-las mal é um desperdício e até confuso. - Vá, a gente depois toma ali banho. Vamos já.
Mais uma vez, prometer coisas que não se cumpre só porque achamos que eles têm a memória curta. Podem não ficar a pensar nesta, mas ficarão ou ficaram noutra. Não é bom e não estamos a aprender a funcionar com eles. Só a mentir. - Não.
Não gosto. Só não, não. Pronto.
Foi isto que vocês sentiram. “Então, é isto? É não e pronto? E não explica?“. - Ehhhhhhhh, festa!!!! Palminhas!
É comum. Eu provavelmente também o faria se não passasse tanto tempo com a Irene como passo, mas não entendo a necessidade de excitar os miúdos sem motivo. Estarem eles a andar, a explorar e estar a alguém a dizer BEM ALTO “olha isto, olha aquilo!“. Tenho vindo a aprender um novo modo de apreciar as coisas que é: observando. Conhecendo-os. Para além disso, faz-me confusão fazer “festa” por nada. Se ela conseguir fazer algo, sim! Se vir algo que a deixa feliz, compreendo que queiramos partilhar esse momento, mas… por nada? - Maminha? Outra vez?
A Irene anda numa fase em que mama de 3 em 3 minutos. Salto de desenvolvimento, dores de dentes, não sei. É aborrecido? É. É normal? É. Recriminar a miúda não está certo. Ela tem essa necessidade, que lhe faz SÓ bem. E este foi um erro meu. Sempre que ela pedia eu dizia “que chatice” para ela perceber que a mãe queria fazer coisas e… ela passou a dizer “que chatice” sempre que vem mamar. Já lhe passou, claro. Agora tento ensinar-lhe a frase “mas que belas e firmes mamas que tens” para que ela diga antes de se servir. - Não fez nada dói-dói, não seja maricas!.
Não tratamos a miúda por você mas, às vezes, pela 3ª pessoa do singular. É querido, pronto. Da mesma maneira que não gostamos que alguém negue os nossos sentimentos, não neguemos os deles. Se eles choram, ou ficaram magoados ou apanharam um grande susto. Validemos isso que é já metade da ajuda para tudo passar.
Estas são as que têm andado na minha cabeça para reflexão. E vocês? Há alguma destas com a qual concordem? Outras que queiram sugerir?
Por Joana Gama, publicado originalmente em A mãe é que sabe
Autorizado para Up To Kids®
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2 comentários
De facto há pais/mães/avós/terceiros que arranjam métodos pouco ortodoxos para conseguirem obter resultados com as crianças. Estas ficam “abébézadas” até mais tarde e criam um mundo de fantasias e de angústia sobre o desconhecido de que alguém lhe fala…. É bom tratar as crianças com carinho, alegria, disciplina (alguma) mas, principalmente, dar-lhes confiança em si próprias para que elas se sintam felizes e consigam pensar (e até dizer) “eu sou capaz”. Acho que este texto é bastante exaustivo quanto aos exemplos a não seguir e que os
apresentados são bastante pertinentes para consciencializar determinados adultos que empregam alguns destes métodos para conseguir os seus objectivos. Parabéns!
Que me lembre, destas nunca fiz. Quando têm falta de apetite ou simplesmente não apetece, damos alternativa (porque comem sempre tão bem que um dia mau é tolerável). Às vezes digo: “Vamos ver se vem o cão?”. É uma pergunta e as probabilidades de ver algum são mesmo muito elevadas. Mas de certezinha que fiz outras… Mas a memória de mãe é tão incrivelmente fantástica que só nos lembramos dos mimos e sorrisos e abraços e vitórias! 🙂