Começo, por esta altura, a preocupar-me com a minha decisão de amamentar em exclusividade até aos seis meses a minha Madalena.
Estamos em cima dos quatro meses e daqui a pouco começo a trabalhar. O pediatra da minha filha acha que devo começar já a introdução alimentar para poder acompanhá-la nesta caminhada. Sinto de repente, uma pressão para introduzir leite artificial para a qual não estou preparada. Eu, que me considero uma pessoa informada, estou baralhada!
Ainda a Madalena estava na minha barriga e nas aulas de preparação para o parto já nos ensinavam sobre os benefícios do aleitamento até aos seis meses. A Organização Mundial de Saúde é clara, recomenda o leite materno exclusivo nos primeiros seis meses de vida, mantendo-o até aos dois anos, se a mãe e a criança assim o desejarem, em complemento de um plano alimentar nutricionalmente adequado e seguro. Portanto, até aos seis meses o aleitamento deve ser promovido e incentivado em exclusivo, principalmente pelos profissionais de saúde. Ouviram?
Ensinam que o leite materno é o melhor alimento que podemos oferecer ao nosso pequeno ser; que é o mais completo e o único que satisfaz 100% das suas enormes necessidades. Ensinam também que é através do leite materno que são transportadas as defesas contra as agressões do meio, defesas essas que o organismo naive do bebé ainda não é capaz de produzir.
Apregoam que deve ser exclusivo até aos 6 meses, porque o tubo digestivo não está completamente maturado antes desta data e que uma introdução alimentar precoce pode desencadear respostas alérgicas.
Repreendem-nos quando temos dúvidas sobre a quantidade ou qualidade do nosso leite porque até mesmo uma mãe desnutrida tem leite de qualidade para o seu bebé.
Mas, quando passamos a porta do consultório e o ambiente se torna mais privado, sacam logo a conversa do biberão com leite artificial. Fiquei verde.
Não é de admirar que menos de 20% das Mães do nosso País consigam chegar aos 6 meses de amamentação em exclusivo quando os metas propostos em 2010 seriam de 50%. Estamos muito mal e a culpa pela primeira vez é da senhora doutora e da senhora enfermeira que diz a estas almas assustadas que amamentar é coisa de tribos em África.
Então, toda a teoria e estratégias de promoção do aleitamento materno vão “cano abaixo” logo que a mãe diz que vai voltar a trabalhar? É contra indicado voltar ao trabalho? Não seria suposto os profissionais de saúde auxiliarem na busca de soluções em conjunto com a Mãe para que ela não desista de amamentar o seu bebé? Fui em busca de dicas e conselhos para levar avante a minha decisão e venho para casa aliciada pela promessa de que, com o leite artificial a minha pequena noctívaga passará a uma bela adormecida. Bastou isto e estive quase, quase a render-me, até porque eu preciso de dormir.
Em conversa com algumas amigas, também elas mamãs bastante recentes, apercebi-me que sou a única com esta vontade, apercebi-me que todas elas foram incentivadas a introduzir o leite artificial ou papas ou sopas por profissionais de saúde. Começaram com um biberão à noite, depois da maminha “para complementar” e ao fim de 7 dias já se queixavam que tinham pouco leite ou que o bebé já não pegava na maminha.
Tive que fazer um esforço mental para nomear as outras válidas razões para amamentar a minha pequenita até aos 6 meses em exclusividade. Não quero abdicar do vínculo afetivo que é gerado enquanto dou de mamar, um momento que durante pelo menos 6 meses é só nosso. Não quero transportar os sacos de leite e frasquinhos e pozinhos cada vez que me apetecer sair. Não quero triplicar as visitas ao pediatra porque abandonei o escudo protetor da minha filha. Não quero gastar rios de dinheiro num alimento formulado para ser semelhante ao que tenho para oferecer à minha bebé.
É verdade que daqui a um mês estou de volta ao trabalho mas felizmente a bebé Madalena tem um Pai, que compreende que às vezes o caminho mais fácil não é o melhor caminho. Por isso, fomos em busca de várias soluções, algumas partindo de experiências de outras pessoas que sentiram o mesmo que nós.
Estratégias para manter o aleitamento materno exclusivo, mesmo quando estamos a trabalhar:
– amamentar sempre que estiver com a criança e em livre demanda. É especialmente importante durante a noite quando os níveis de prolactina estão mais elevados, de maneira a garantir uma boa produção de leite durante o dia;
– usufruir da redução de duas horas no horário de trabalho, prevista na Lei Portuguesa, para efetivamente amamentar. Pode ser práctico juntá-las à sua hora de almoço de maneira a poder deslocar-se até à sua casa e dê de mamar assim que chegar e antes de sair.
– iniciar a recolha de leite com bomba extratora alguns dias/semanas antes e mantê-lo corretamente conservado em congelação. Assim, terá sempre leite materno de reserva caso necessite.
– extrair o leite no trabalho, no mesmo horário que seria oferecido ao bebé, caso estivessem juntos.
– pedir ao Pai, ou à pessoa que fica encarregue do bebé, que o vá “passear” perto do trabalho da mãe pelo menos uma vez por dia. Assim poderá dar de mamar no intervalo do trabalho.
Resta-nos ter confiança para responder aos senhores doutores e às senhoras enfermeiras um belo e expresso “NÃO”. Não vou substituir o Leite Materno por Sopa, porque a minha filha está no Pc 50-75, cresceu 14cm nos seus 4 meses de vida, é saudável e tem um desenvolvimento normal.
A Sopa será bem vinda, depois dos 6 meses.
Obrigada.
Por Carolina Fernandes, Nutricionista, para Up To Kids®
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Além de Nutricionista, sou Mãe de primeira viagem e como qualquer Mulher moderna feliz, procuro conciliar a vida pessoal com a profissional e ser bem sucedida nas duas.
6 comentários
Não ligue ao que dizem e faça o que acha melhor e conseguir. Amamentar em exclusivo é uma responsabilidade acrescida mas, para mim, sempre foi o que fez sentido! Obriga a coordenação, algum cansaço mas faz tão parte de ser mãe como garantir todas as outras as necessidades. A da alimentação tem esta magia de sermos nós a produzir. Dando directamente ou extraindo para conservação, aconselho TODAS as mulheres a fazê-lo. 6 meses passam a voar! A minha Alice tem 6 meses e 3 semanas e começou a comer a sopa e a fruta numa das refeições, todas as outras são ainda leite materno porque esta com um óptimo crescimento ponderal sem necessitar de introdução de papa. Tudo de bom para si e para o seu bebé.
Comecei a trabalhar tinha o meu piolho 1 mês. Estava 10H longe dele. Consegui manter a amaentação exclusiva até aos 5 meses e meio, altura em que achei que ele já estaria pronto para iniciar a AC (e também porqu já tirava quantidades absurdas de leite todos so dias e era cansativo). É prfeitamente possível. Só exige esforço, dedicação e algum apoio das pessoas mais próximas. Boa Sorte
Muito bom o artigo, infelizmente hoje em dia parece que a mãe que amamenta é cada vez mais um bicho raro, ouvimos muitos comentários maldosos e vemos muitos olhares de reprovação por fazermos algo para o qual o nosso corpo foi programado. Faz-me muita impressão ver como as mulheres hoje em dia têm tão pouca confiança no processo de amamentação, devia haver mais informação, profissionais treinados para ajudarem a mulher antes mesmo de saírem do hospital com os seus bebés. Os profissionais de saúde, sejam médicos ou enfermeiros não têm, na grande maioria das vezes, formação para aconselhar as mães durante este processo e acabam muitas vezes por dar indicações erradas. Só quero fazer uma ressalva, a OMS recomenda a amamentação exclusiva até aos 6 meses e depois como complemento até pelo menos aos 2 anos, se a mãe e o bebé quiserem a amamentação pode e deve ser prolongada por mais tempo.
Olá Carolina, vim ter a este blog pela primeira vez e gostei bastante do que li.
No que concerne a este artigo penso que posso dizer umas coisas que talvez a ajudem.
Amamentei, quase em exclusivo, ambos os meus filhos até aos 5 meses. A mais velha, hoje com 9 anos, mamou até aos 11 meses e o mais novo hoje com 4 anos, mamou até aos 18 meses. Deixaram ambos o peito quando quiseram e não por ter sido retirado.
Da mais velha, fui trabalhar quando ela fez 3 meses (mudança de emprego) ficando ela com a avó, esse mês continuou a beber leite meu em exclusivo, tinha muito leite congelado e mesmo a trabalhar sempre tirei, nunca bebeu leite artificial. Quando ela fez os 4 meses tive de introduzir a sopa ao almoço, devido à minha ausência, contudo nunca tirei a mama e ela mamava de manhã e à noite no meu peito e ao longo do dia no biberão mas sempre o meu leite (aqui a solução da introdução da sopa foi para não introduzir leite artificial).
O mais novo, fiz 5 meses de licença, mamou em exclusivo até aos 5 meses tendo introduzido a sopa nessa altura e progressivamente os restantes alimentos. Também com este bebé, deixei leite congelado que a avó dava na minha ausência. Mamou no meu peito até aos 18 meses e no biberão mas sempre leite meu. Nenhum dos meus filhos sabe o que é leite artificial.
Ambos os meus filhos estão e estiveram sempre no percentil 95, ela hoje com 9 anos tem 1,45m e ele com 4 anos tem 1,13m. São extremamente saudáveis, nunca liguei a conversas de terceiros do “ah estás outra vez a dar mama, ainda há 20m mamou”, sempre respondi que dava mama a pedido e que a licença é para isso mesmo, cuidar do bebé a 100 %.
Ambos, desde o 1º mês de dormiam uma média de 7/8 horas por noite, nunca os acordei para comer pois se estavam a crescer e saudáveis não havia essa necessidade.
Os médicos e enfermeiras, dão uma no cravo e outra na ferradura, ora aqui só para nós o leite artificial é produzido por grandes farmacêuticas, os médicos têm sempre no seu consultório uma ou outra amostra desses leites e “empurram” sempre, no entanto comigo nunca conseguiram dizer grande coisa, convenhamos percentil 95 só com leite materno era capaz de ser demais tentar “vender” o leite artificial.
Se por vezes andava cansada, principalmente quando fui trabalhar, sim, sim muito cansada, exausta mesmo, ir à casa de banho tirar leite na hora de almoço e almoçar a correr, chegar a casa o mais depressa possível e dar mama porque estava quase a rebentar e fazer tudo o resto que há para fazer numa casa, é desgastante. Se fazia tudo outra vez? Sim, claro, sem pensar duas vezes. Quando vejo uma mãe a dar mama, vêm umas saudades….
O meu conselho é, diariamente tira o máximo de leite que conseguires e congela, experimenta pôr o teu leite no biberão e pede a outra pessoa para dar sem tu estares no mesmo espaço (convém fazer isto varias vezes sempre na mesma hora criando uma rotina) nessa mamada tira o leite que lhe deverias dar e congela. Para que ela saiba o que é uma colher (sim aos 6 meses os bebés já têm imensos hábitos e rotinas e vai estranhar imenso a colher) no mês dos 5 para os 6, senta-a no ovo e dá-lhe o teu leite às colheres 😉 não é preciso ser muito, mas só para ela interiorizar, ela vai achar um piadão e assim quando substituíres o teu leite por sopa ou outro já não vai ser uma novidade.
Beijos e boa sorte
Olá Catarina, só gostava de partilhar que amamentei o meu filho em exclusivo até aos 5 meses e depois até parcialmente até aos 2 anos, superei as minhas próprias expectativas. Tenho a agradecer a colegas e amigas, mas sem dúvida a persistência na ideia de amamentar e ignorar alguns “desconselhos” é essencial.
Ainda tentei ir dar de mamar ao almoço mas era uma estafa e um stress que ao fim de uma semana de voltar a trabalhar ia perdendo o leite. Valeu-me o Promil receitado pela pediatra e o conselho de uma colega para introduzir comida (sopa e não leite). Foi fulcral as 2h de redução o que me permitiu dar de mamar antes de ir para a creche e assim que o ia buscar. Não achei assim tão mal introduzir as sopas, como forma de alternar ao almoço e como incompatibilização com as bombas de extração de leite. just sharing from mom to mom. 🙂
Força, Carolina! Todas essas estratégias são óptimas (no meu caso o facto de ter conseguido guardar um pequeno stock de leite congelado para qualquer eventualidade ajudou-me a estar mais calma e tranquila). Não consegui os seis meses em exclusivo, mas continuo a dar de mamar aos onze meses e assim continuarei enquanto a minha pequenita quiser e for bom para as duas. Este é ainda um tema polémico (como, meu Deus, como, se estamos em 2015?) e as pessoas olham para quem amamenta depois dos três/quatro meses como se de hippies nos tratássemos, mas acredito que é mesmo o melhor para os nossos filhos e estamos a contribuir para um futuro mais saudável. Vão continuar a haver pressões (essa questão do dormir à noite pesa, mas é uma escolha…) mas acredito que uma mãe sente sempre o melhor caminho a seguir. E por isso repito, força nesse caminho e tudo de bom para si e para a Madalena!