As crianças sentem tudo muito intensamente, muito apaixonadamente. E há algumas que as sentem ainda mais intensamente do que outras.
O córtex frontal de uma criança pequena ainda não está suficientemente desenvolvido de forma a que consiga controlar-se quando está aborrecida. E por isso chora, explode, entra no loop de pranto. Simplesmente não tem ferramentas para gerir sozinha as suas emoções. E é aí que mais precisa da nossa ajuda. Da nossa calma. Do nosso auto-controlo. Do nosso amor. Da nossa empatia. Da nossa amizade.
Mas muitas dessas manifestações podem ser evitadas, uma vez que são expressão de impotência, de frustração, de uma necessidade, de um medo, de necessidade de controlo. Mesmo que não o entendamos. Chamo-lhe manifestações porque não me parece que as pessoas sejam rótulos ou categorias e porque não acredito na simplificação das emoções a termos tão redutores como birras. As emoções são um sistema bastante mais intrincado do que meramente uma categoria ou um rótulo. E é preciso acabar com os rótulos antes que os rótulos acabem com os nossos filhos.
As crianças que sentem algum controlo sobre as suas vidas, que se sentem compreendidas e aceites nas suas emoções mais fortes, nos seus erros, nos seus momentos mais difíceis, em vez de serem castigadas ou repreendidas, manifestam-se desta forma com muito menos frequência.
A chave está em observar, prevenir as situações ou dar-lhes a volta. Assim como a água contorna os seus obstáculos em vez de enfrentá-los, assim nós devemos agir nos momentos menos bons dos nossos filhos.
Por exemplo, crianças que estão cansadas, com sede ou com fome tem muito menos recursos internos para lidar com a frustração. Se elas sentirem que podem ter o seu tempo para recuperar, se souberem que nós estamos lá para lhes dar espaço ou colo, se lhes mostrarmos empatia e amor, isso vai dar aos nossos filhos ferramentas para que consigam lidar com os seus sentimentos e aprender a regular as suas próprias emoções. Com o tempo. É preciso semear e colher com paciência.
Conhecendo bem os nossos filhos, apesar das imprevisibilidades inerentes ao ambiente, ao desenvolvimento cognitivo, físico e afectivo, sabemos bem o que desencadeia essas manifestações.
Há passos que podemos seguir para que consigamos, nestas alturas, regular as nossas emoções para não perdermos o controlo da situação e não entrarmos nós próprios, numa montanha russa de emoções.
- A primeira coisa a fazer, chamo-lhe, passo zero é respirar. Respirar muito ao longo de TODA a situação, de TODO o momento. Lembre-se que são os seus filhos que estão a ter um momento difícil e que simplesmente não conseguem controlar as suas emoções. É nestes momentos que os nossos filhos mais precisam de nós e que estejamos calmos. Respire e pense: Os meus filhos NÃO SÃO este momento que estão a ter. Os meus filhos ESTÃO A TER um momento difícil e eu estou aqui para ajudá-los. Apenas ajudá-los a lidar com este momento.
Isto irá colocar-nos no mindset certo para conseguir não apenas gerir melhor os seus filhos como também gerir as nossas próprias emoções. Depois de respirar, respire ainda mais e mantenha um tom calmo.
- Redireccione os seus filhos para outra coisa em vez de alimentar a situação negativa. Nem sempre é fácil, mas foque-se no positivo. Diga que precisa de ir ali beber um copo de água, porque está com sede. Não deixe que as suas próprias emoções tomem conta de si. Redireccione para outra coisa. Pura e simplesmente.
- Observe e tente aperceber-se se os seus filhos estão cansados ou com fome. Deixe de lado as lutas de poder. Não temos de provar que estamos certos só porque somos pais. Podemos – e devemos – ser flexíveis. Os nossos filhos têm direito a manifestarem-se e a mostrar-lhe que são pessoas com capacidade e poder no mundo. Não é nenhum erro nem falha ser flexível, apesar de a maioria de nós termos sido ensinados que os pais não podem ceder. Podem ceder – devem ceder – se sentirem que o pedido dos filhos, no cenário geral do seu crescimento – e não naquele momento em particular – não compromete a saúde, a segurança ou os direitos dos outros.
- Quando uma criança fica zangada ou perde o controlo, lembre-se que toda a raiva é uma defesa contra outros sentimentos desconfortáveis, como a vulnerabilidade, o medo, a mágoa, tristeza. Se conseguir chegar a esses sentimentos que estão escondidos a raiva dissipar-se-á. Pode perguntar: “Pareces zangado. Estás?” Deixe o seu filho responder. Escute. Com atenção. “O que posso fazer para te sentires melhor?” E o que quer que ele responda, devemos ouvir e aceder. Desde que – mais uma vez – não comprometa a segurança, a saúde ou os direitos dos outros. Provavelmente irá ouvir respostas como “um abraço” “um beijinho” ou “que brinques comigo”.
- Aceite os sentimentos dos seus filhos. Aceite a tristeza tal como aceita a alegria. Ensine os seus filhos que todos os sentimentos são válidos. Apenas a manifestação, a forma como expressamos esses sentimentos é que podem – e devem – ser trabalhados. Ensine os seus filhos a explicar o que estão a sentir.
- Tente controlar a situação antes que ela escale. Antes de estabelecer o limite ou antes de se preocupar em estabelecer uma consequência, reconheça o que os seus filhos lhe estão a pedir. “ Eu sei que tu querias muito….” E que ficaste triste/zangada porque …. Não foi? Precisas de um abraço?” ou “Como é que tu achas que podemos resolver esta situação?”
- Dê-lhes colo, se lhe pedirem ou ofereça-lhes o seu colo se vir que precisam.
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Quanto mais valorizadas as crianças sentirem que são as suas opiniões, menos necessidade terão de manifestar-se negativamente. Não somos assim também?
As palavras têm muito poder. E o que dizemos, a forma como dizemos ecoa na cabeça dos nossos filhos por toda a sua vida.
As flores não crescem em jardins de pedras. Precisam da ternura, da suavidade, da magia das gotas de água da chuva para crescerem fortes e saudáveis. É a chuva que faz com que cresçam bem. Não a trovoada. Lembre-se disto sempre.
Por isso, use estas dez pequenas gotas de água – mágicas – para regar os vossos pequenos diariamente, ajudando-os assim, a desenvolverem-se com a cabeça limpa.a sentirem-se amados. Compreendidos. Conscientes, preparados, mas com a cabeça saudável para que consigam chegar onde querem nas mais pequenas coisas. E saber lidar com as emoções é talvez o exercício, o teste, o desafio mais complexo de toda a vida. E quanto mais praticarmos, melhor. Um passo de cada vez. Um momento de cada vez.
As crianças sentem tudo muito intensamente, muito apaixonadamente. E há algumas que as sentem ainda mais intensamente do que outras. E é aí que mais precisam do nosso amor. Com estas pequenas frases mágicas estarão a semear a semente mais valiosa, aquela que vos vai envolver com os vossos filhos nos seus momentos mais difíceis. Para que consigam ser o melhor que podem ser. Sem serem perfeitos. Porque todos cometemos erros, temos acidentes, sentimos medo, muitas vezes nos sentimos desmotivados, cansados ou com fome.
E as crianças são iguaizinhas a nós. Apenas com uns centímetros a menos. E isso é fundamental lembrar sempre.
Tente aplicar as 10 frases mágicas que ajudarão os seus filhos:
“Juntos conseguimos!”
“Somos capazes de resolver problemas. Vamos encontrar uma solução.”
“Nós nunca desistimos”
“Posso ajudar-te?”
“O que posso fazer para te sentires melhor?”
“Porque estás a chorar, querida? O que aconteceu?”
“Não há problema. Deita tudo cá para fora, meu amor. Falamos depois.”
“Vamos respirar um pouco para nos conseguirmos acalmar os dois.”
“Pareces zangado. Estás?”
“Vejo que estás aborrecido. Será porque…?”
“Toda a gente fica nervosa. É natural e é ok.”
“Vamos tentar outra vez, agora de forma mais calma para te conseguir ouvir melhor, sim?”
imagem@flickr
2 comentários
Pingback: As 10 frases mágicas que ajudarão os seus filhos! – Sai da Casca
Texto riquíssimo. Espero ter o privilégio de mais textos como esse.