Em 2011, conheci o livro 13 reasons why, de Jay Asher, através de uma grande rede escolar – onde trabalhava na altura como professora. O professor com quem eu dividia a disciplina tinha escolhido esta obra e, imediatamente, me explicou as razões para desenvolvermos um trabalho com os alunos. Visto que o livro continha temas tabu, sensíveis e, claro, iria causar impacto nos alunos, esta decisão foi extremamente ponderada. O livro foi mantido e muitas propostas valiosas nasceram da experiência – e este é um dos motivos pelos quais escrevo esse texto.
Seis anos depois, e dez anos após o primeiro lançamento da obra escrita, a série 13 REASONS WHY, baseada no livro, foi lançada pela rede Netflix, uma das mais visitadas por adolescentes, o que significa que – longe dos muros das escolas – eles terão (ou já tiveram) acesso ao conteúdo, muitas vezes, de forma independente e, infelizmente, solitária.
Perante isto, pais, amigos e professores têm-me perguntado o que eu – como educadora e profissional da linguagem – considero sobre o acesso de jovens ao livro (cuja indicação etária é M/13 anos) e à série (estrategicamente, creio eu, sem indicação etária pelo distribuidor). Muitos perguntaram diretamente:
– Permitias que os teus filhos adolescentes assistissem à série?
De forma franca, eu respondo: não só permitia, como também faria um acompanhamento de como foram interpretadas as questões assistidas. Na verdade, considero que os jovens precisam de entrar em contacto com temas importantes para eles e para a sociedade, dialogando com os seus pais, amigos, professores, terapeutas e com quem se sintam à vontade para tal.
Em pleno século XXI, proibir é tão ultrapassado como não assumir que precisamos de conversar sobre violência sexual, alcoolismo, exclusão, depressão e bullying. É preciso acompanhar, conversar, ensinar e, sobretudo, dar espaço para que falem sobre o que vêem nos seus meios sociais. Acreditem: se não encararmos tudo como um tabu, os nossos filhos contam-nos os seus medos porque têm certeza de que podem contar connosco.
Muitos vão afirmar, categoricamente, que já viram aquelas cenas nos corredores das próprias escolas – que negligenciam, por diversas razões o estado emocional de seus constituintes – uma das principais justificativas pelas quais os educadores também se deveriam interessar pelo conteúdo.
Deter essas informações e fazer com que adquiram uma visão transversal deste tipo de problemas é importante para todos nós, certo? Novamente, reitero que os pais também têm acompanhar o ritmo dos filhos. Isto não significa que tenham que estar colados aos filhos adolescentes tipo fiscal no sofá da sala. Cada um pode ver por si, no seu espaço, a seu tempo – com as suas emoções preservadas. Podem, depois, conversar sobre a série durante uma atividade em família (almoço, jantar, caminhada). Diálogos comuns estreitam laços. Os adolescentes precisam de ouvir e de se expressar: esta é a máxima de uma boa relação. Mais do que nunca, é disto que precisamos num mundo com excesso de estímulos e onde os problemas emocionais andam à flor da pele.
Eu ainda não tenho filhos, mas trabalho com 450 adolescentes por ano. Jovens com histórias diferentes – que erram-e-acertam, que se descobrem, que desvendam o outro e a sociedade de maneiras, às vezes, incríveis, outras vezes, tristes de mais. Quase todos se identificaram com algum personagem da série. Isto é suficiente para que façamos um acompanhamento lúcido sobre perdas e ganhos durante esta fase tão conturbada e lotada de conflitos que é a adolescência. Se é uma série para eles, certamente, é uma série para nós também.
“ (Você) devia aprimorar a forma como os adolescentes cuidam uns dos outros” – diz um dos personagens a um adulto num dos capítulos mais emblemáticos da temporada.
Esta é a grande lição/missão que fica para nós: os adultos da relação.
Assistam e tirem as vossas conclusões.
Por Talita Rosetti, ContiOutra
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