5 questões importantes sobre os trabalhos de casa
Hoje é quarta-feira, dia de ir à psicóloga.
Para mim é mais um dia em que chego a casa às 20h, mais um dia em que tenho quatro páginas de trabalhos de casa para fazer, sem saber se os vou conseguir fazer e com medo de levar mais um recado na caderneta.
Sinto-me triste e irritado porque até me esforço para tirar boas notas, mas cada vez que chego a casa estou tão cansado que já nem consigo pensar direito. Muitas vezes não percebo o exercício e acabo por pedir ajuda à minha mãe, que depois de olhar e ficar a pensar sobre o que lá está escrito, responde que não me consegue ajudar porque não percebe como se ensina a matemática de hoje em dia.
Nesta altura, penso: “como faço isto?”.
Já frustrado por não perceber, passam-me duas coisas pela cabeça: invento uns números para fingir que fiz as contas ou deixo os exercícios em branco. Acabo por escolher a primeira opção.
Hoje estou então nervoso e com medo de não conseguir fazer os trabalhos todos. E principalmente com medo de não os conseguir fazer bem. Quando dou por mim tinha acabado de contar tudo isto à minha psicóloga, à frente dos meus pais que ficaram espantados a olhar para mim.
A minha psicóloga esteve a contar as horas que passo na escola e chegou à conclusão que passo cerca de nove horas por dia na escola. Cinco dias por semana dá um total de quarenta e cinco horas por semana. Ela disse que até compreendia que fosse importante e necessário fazer os trabalhos de casa, que servem para consolidar os conteúdos dados na aula, para desenvolver a memória de trabalho (ou lá o que isso quer dizer), esclarecer dúvidas e trabalhar a autonomia.
Depois, ela disse aos meus pais que ia falar com a minha professora e colocar-lhe algumas questões importantes. Vou tentar escrever tal e qual como a minha psicóloga disse.
5 questões importantes sobre os trabalhos de casa
1. A rentabilidade real da criança na realização dos trabalhos de casa
“Como é que às 20h da noite uma criança consegue ter disponibilidade mental, disposição ou capacidades (e.g. raciocínio, memória, atenção/concentração) para consolidar algum conhecimento dado na aula? “
2. Os trabalhos de casa funcionam exatamente no mesmo modelo dos trabalhos em aula
“A realidade é que os trabalhos para casa que a maioria dos professores manda, são as fichas do livro que as crianças estiveram a fazer todo o dia na sala de aula. Não podem as crianças fazer essas fichas no dia seguinte?”
3. Definir dias específicos para os TPC
“Os professores não podiam apenas escolher um dia por semana para mandar umas atividades relacionadas com a matéria dada, e depois no fim-de-semana enviavam então as ditas “fichas” ?”
4. Os trabalhos de casa nem sempre são realizados autonomamente
”É um facto que a maioria dos pais não consegue ajudar os filhos com os trabalhos de casa. Alguns porque não têm tempo e estão cansados, outros já não se lembram. Ou porque a maneira de ensinar e até os conteúdos das disciplinas de português e matemática são diferentes da forma como aprenderam. Vão os pais constantemente à escola pedir explicações da matéria à professora para depois poderem ajudar os filhos em casa?”
5. Ela ainda disse que ia colocar um desafio aos professores da minha escola:
“Fica a questão de saber, se os professores estão dispostos a cumprir os desafios que esta nova realidade (carga horária) impõe para alcançar o sucesso escolar dos alunos. Se conseguem transformar as horas em que os alunos estão na escola, em horas de verdadeira aprendizagem e motivação, de forma a que não seja necessário tanto trabalho extra de segunda a sexta-feira. Pelo menos, só enquanto as crianças ainda estão no primeiro ciclo e só têm entre a seis a nove anos de idade.”
No fim, perguntou o que eu achava.
Fiquei de boca aberta com tantas horas que passava na escola. Nem fazia ideia! Com tantas perguntas que ela ia colocando aos meus pais, até me baralhei. Fiquei um pouco confuso, mas lembro-me de lhe ter perguntado se podia acrescentar mais uma pergunta.
A minha pergunta é simples: “Nesta vida de adulto, quando tenho tempo para ser criança?”
1 comentário
O meu filho Dinis tem 7 anos anda na 1ª classe. Precisa de apoio de ensino especial (a escola negou, apesar de concordar e dos Berros do hospital).
Ele entra ás 9h sai ás 12.30 volta a entrar ás 14h e sai ás 16h. Vai para o ATL fazer os trabalhinhos com imensa imensa imensa dificuldade.
Já não é a primeira nem a décima vez que deparo com trabalhos feitos dentro da sala de aula, ele diz que faz com a professora mas que são 2, 3 páginas em que os exercícios estão completamente errados desde o inicio até á ultima linha. Avisei o ATL por causa dos outros meninos e realmente era o que eu previa. A professora MANDA fazer mas não se dedica a explicar como se faz. É triste que estejamos no século em que estamos fala-se em bulling entre as crianças e os adolescentes mas no tabu do bulling do ensino escolar, no bulling dos professores ninguém se atreve a falar. Tanto aparato para estragarem a foto toda.