
A Adolescência, esse tema complicado…
Queridas famílias, falemos dos nossos filhos pequenos, mas falemos também dos nossos filhos adolescentes…
Todos sabemos que a adolescência é um período complicado, temos as alterações hormonais e físicas, o limbo entre a infância e a idade adulta, a par com a escolha e identificação em determinados grupos sociais, os namorados e as namoradas, as roupas, as modas, as redes sociais, o afastamento progressivo dos pais, a necessidade de sair cada vez até mais tarde, as crises de identidade, e muitas vezes a desmotivação na escola…
São muitos os factores e mudanças com que lidar, em famílias que têm outros filhos, pais que trabalham até tarde, e pouco tempo e disponibilidade para tudo, é muita coisa de facto.
Às vezes pensamos que os adolescentes estão a mudar o comportamento só para nos irritarem, para nos testarem, para serem independentes porque já se julgam adultos.
Apesar de isto poder ser verdade, podem existir outras razões que contribuam para estes comportamentos.
A verdade é que esta fase é crítica e difícil para todos. Sobretudo para os pais e ainda mais para os adolescentes, que se sentem perdidos entre aquilo que até agora tinha sido a infância e que progressivamente se vai tornando numa maior responsabilização para se comportarem como gente crescida. Agora querem escolher um grupo de amigos com quem se identificam, um grupo que seja “cool”, social e com muitos programas e amigos agregados. Escolhem como agir, o que devem vestir e o que devem fazer para serem aceites.
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Não é à toa que escrevo sobre este tema. Tenho tido cada vez mais adolescentes na consulta, que vêm por iniciativa própria e pedem ajuda desesperadamente, porque já não sabem como agir, qual o objectivo das suas vidas, quem são os verdadeiros amigos, o que estão a fazer nesta vida, porque é que em casa há tantas discussões. É interessante ver como eles próprios procuram ajuda…
Os adolescentes procuram ajuda por várias razões, uma delas é o facto de não quererem falar com os pais ou familiares sobre as suas preocupações, porque isso seria demasiado penoso para todos e acabaria em discussão na certa (pelo menos é o que os adolescentes pensam e me transmitem). Para começar, muitos não falam sobre o que realmente os preocupa, pois isso seria admitir que estão indecisos, perdidos, muitas vezes infelizes e desmotivados para a escola, para os amigos, para a vida em geral. E muitas vezes não querem magoar os pais, ou mesmo ouvir raspanetes, ou ficar de castigo, ou perderem privilégios, como o de saírem com os amigos (pois esta é uma das coisas que os faz sentirem-se enquadrados no meio social e lhes dá bastante significado nesta fase da vida).
É difícil, esta fase é difícil. Não pretendo tecer considerações acerca do que os pais ou adolescentes devem fazer. Cada caso é um caso. Mas considero importante o estabelecimento de limites, a atribuição de tarefas, a responsabilização do adolescente em relação aos estudos, o respeito pelos adultos, o respeito pelo outro.
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Sei que nesta fase os adolescentes se afastam, e parece que sentem “cócegas” quando lhes queremos dar um abraço, um beijinho, ou um sinal de afecto. “Já sou um adulto”- pensam – e o afecto de um adulto, e sobretudo dos pais, é sinal de ainda ser criança, de fraqueza e dependência do mesmo.
Mas nem sempre isso é verdade. Se há uma coisa que falta em muitos adolescentes hoje em dia, é precisamente o afecto, o diálogo e a compreensão em casa.
Um sinal de afecto, expresso por uma festa no cabelo, um elogio, um abraço ou um beijinho quando tem uma nota melhor, por algo que ele(a) tenha feito correctamente, por uma ajuda que tenha dado quando não estávamos à espera, por ter ido logo para a mesa, por ter ajudado o irmão. Afinal eles fazem tantas coisas bem feitas, mas são muitas vezes chamados à atenção apenas pelo que fazem mal. Demos-lhes atenção pela positiva, e não só pela negativa.
O diálogo, perguntar coisas simples, sobre o dia-a-dia, se precisam de alguma ajuda, se gostariam de fazer algum programa específico que os animasse no fim-de-semana, ou se gostariam de fazer alguma actividade extra curricular que os motive. Perguntas rápidas e nunca demasiadas, sabemos as irritações a que estão sujeitos nesta fase. Podem sentir também que nos estamos a intrometer nas suas vidas, e aí, por momentos, podemos dar-lhes algum espaço para crescerem nas suas próprias decisões, sem os enchermos de perguntas e opções a tomar. Demos-lhes espaço, o espaço que eles começam a precisar para encontrarem o canto onde pertencem. Deixemo-los estar sozinhos quando precisam, sabendo que o adulto está presente do outro lado da casa se precisarem de falar.
Mas estabeleçamos também os limites. Os pais estão disponíveis para falar, são amigos, mas acima de tudo são pais. São os pais que os educaram e ainda educam, que se preocupam com o bem-estar dos seus filhos. Não precisamos de estar sempre a relembrá-los disto, mas é importante que os pais se lembrem que são, acima de tudo: pais.
Os limites aplicam-se igualmente aos horários de saídas, à utilização de redes sociais online e à internet. Estimulemos as interacções à séria com os amigos, cara a cara, presenciais. Ajudemo- los a interagir em vez de se esconderem atrás dum ecrã e de fotografias criteriosamente seleccionadas. Mas para isso tem de haver abertura e disponibilidade dos pais para permitirem que os seus filhos vão ter com os seus amigos de forma relativamente autónoma (como era no nosso tempo afinal!).
Em casa podem atribuir tarefas de responsabilidade, respeitando os horários de estudo, mas estimulando a interação em família e reforçando de forma positiva o comportamento quando as tarefas são cumpridas.
Se queremos que os nossos filhos sejam responsáveis e coerentes, nós pais, devemos dar o exemplo. Mantenhamos uma promessa, uma combinação específica, tentemos não inverter a verdade (ou seja: mentir!), pois eles apanham todas as nossas manhas mais cedo ou mais tarde. E o que acontece quando se apercebem que lhes mentimos ou distorcemos a verdade? Deixam de confiar, adoptam comportamentos de maior revolta, deixam de conversar connosco ou de se exporem, porque deixaram de acreditar.
E por último, deixemo-los fazerem escolhas, com a ajuda do adulto, que lhes pode apresentar as várias saídas possíveis, as consequências de diferentes actos e ajudá-los a amadurecer a capacidade na resolução de problemas. Não digamos logo que Não, sem ouvirmos e falarmos sobre as alternativas e as consequências possíveis do que estão a pedir. Conversemos. Quanto aos estudos? Aí vem um tema também complexo…Eles querem passar de ano, eles querem ser aceites e bem recebidos na escola. Mas às vezes não parece, estão desmotivados, ou têm mesmo dificuldades que não nos transmitiram recentemente. Demos-lhes a oportunidade de falar com alguém, um amigo ou outro adulto, que os ajude a perceber de onde vem a desmotivação ou a dificuldade. Muitas vezes os problemas de comportamento em casa e na escola, estão basicamente a camuflar outro tipo de problemas emocionais da criança/adolescente.
Pensemos nisto.