A desumanização da escola
A falta de “afetividade” e de “humanização” é um mal geral. Sabemos disso. Em alguns setores sente-se um esforço para uma mudança, com medidas de inclusão, aceitação da diferença e preocupação pelo outro e pela saúde psicóloga de todos.
Nunca se falou tanto de saúde mental, mas também a sociedade nunca esteve tão doente neste “campo”.
Centremo-nos nas crianças e nos espaços que frequentam, porque é delas que queremos falar.
Será que em casa e na escola esta mudança na aceitação e respeito pelo outro está a acontecer mesmo?
Não falaremos dos currículos escolares, das medidas de inclusão praticadas ou da própria relação escola-casa. Seriam necessários muitos parágrafos para o fazer e não temos nem tempo nem espaço para isso.
Foquemo-nos apenas na relação que se estabelece com as crianças quando estas frequentam a escola. Como ela as recebe, como as respeita e como se adapta a elas.
Podemos olhar para as nossas organizações e locais de trabalho e fazer a mesma reflexão. Demasiado semelhante na maioria dos casos, certo? O problema é que falamos de crianças e, muitas vezes, será nos momentos que estão na escola que irão desenvolver competências sociais e emocionais fundamentais para a vida.
Sabemos que muito será da competência dos cuidadores, em casa e em família.
No entanto, a escola necessita de pensar realmente em cada um dos seus alunos. Não bastam as teorias, as recomendações ou os Projetos Educativos bem escritos.
Precisamos de uma prática consistente e pensada.
A desumanização da escola
Não podemos permitir que (por várias vezes) o lugar na mesa do almoço de uma criança seja esquecido porque foi para a terapia e mais ninguém se lembrou dela. Não podemos permitir que alguém obrigue uma criança a comer a sopa que acabou de vomitar por estar a chorar. Nem tão pouco podemos permitir que alguém peça para que uma criança vá ao quadro resolver um problema para que todos os colegas percebam como é “tão mau” a matemática. Não podemos permitir que gritem com uma criança a chorar, esperando que ela segure o choro…
Sabemos que “maus exemplos” existem em todo o lado e “maus dias” todos temos.
Contudo, não é suposto acontecer com tanta frequência e de forma tão repetida.
Teremos de fazer muito mais e melhor se queremos uma sociedade empática, cooperante, inclusiva e evoluída. As crianças são o que veem e o que vivem, que não nos iludamos quanto a isso.
Trabalhar com crianças é isso mesmo: fazer sempre o melhor e sempre por elas. É cansativo? É, claro, mas será sempre a única maneira possível.
Somos pelo brincar e pelo experimentar para aprender.
Somos pela imaginação e pelo sonho.
2 comentários
Concordo com tudo o que foi dito, mas também tenho, como professora, uma opinião muito própria.
Tenho 53 anos e dou aulas há muitos anos. Fui criada pelo velho regime conservador, nem 8 nem 80, mas deu-me ferramentas de sobrevivência que hoje em dia, as crianças não têm. Protegemos em demasia, dramatizamos em demasia, sejamos pragmáticos no que diz respeito à educação. A criança necessita de VIVER o sim e o não, o bom e mau, o sucesso e as frustrações, etc, etc mas o que acontece é exatamente o contrário. A criança é demasiado protegida e só vê a parte zen da vida. a ESCOLA TEM UM PAPEL FUNDAMENTAL pois é aí que vai passar a vivenciar a sua rede social mais alargada, mas e a família, em especial mães e avós (perdoem-me quer também sou mãe)?
Hoje se alguém castiga uma criança, é acusada de violência pelos pais, se a colocamos com trabalhos escolares, é demasiado agressivo, se a comida não é adequada porque não são 4 na escola, mas aos milhares, há queixas, que sociedade é esta em que a escola tem que educar miúdos e os respetivos pais? Onde se falhou????!!!!!!!
Permissividade é bom mas cautela…..
Obrigada Paula pelo seu contributo. É sempre bom entender as várias perspetivas.