A escola está a perder os rapazes
Uma corrente de pensadores na área da educação tem produzido investigação muito interessante acerca da tendência que existe nas escolas, para desaprovar a essência dos alunos rapazes.
Ao mesmo tempo, a OCDE, inspirada pela análise do último relatório PISA (programa internacional que avalia a literacia dos estudantes) lança um alerta claro sobre a desigualdade de género na educação. Claro que faz todo o sentido refletir sobre este tema.
Mesmo assumindo que os rapazes podem ser frenéticos, desorganizados e arrebatadores, no sentido em que absorvem muita da nossa energia, parece-me contra natura julgá-los à luz do bom comportamento das raparigas.
E porquê? Uma analogia à leitura explica-o bem: banda desenhada e poesia são diferentes, e isso pode ajudar a perceber porque é que os rapazes se estão a afastar da escola.
Se analisarmos os números, a preocupação cresce: eles abandonam a escola mais cedo, são expulsos da sala de aula com mais frequência, ganham menos prémios de honra, lêem pouco e (não menos importante) acham que estudar é uma seca.
Ser um rapaz normal nas escolas de hoje não é fácil.
O que há alguns anos era olhado como traquinice, hoje merece tolerância zero. Os tempos de recreio diminuíram dramaticamente e já não há espaço (nem agenda) para brincadeiras não estruturadas que permitam aos rapazes gerir a vontade física de explorar o mundo como gostam, à força de correria.
As escolas deveriam fazer uma análise cuidada desta realidade, percorrendo o caminho necessário para recuperar os rapazes que se vão afastando do seu núcleo.
Para combater a desigualdade de género é preciso conhecê-la bem.
Perspetivar o mundo do ponto de vista masculino, pode ser importante para perceber como havemos de envolver mais os rapazes na escola. Um exemplo nada ao acaso: se o objetivo é converter os meninos que lêem pouco, então guardemos a poesia para mais tarde. Os rapazes gostam de ação e aventura. Portanto, esse é o trunfo que devemos usar quando lhes indicarmos um livro para lerem, mesmo que isso vá rasgadamente contra aquilo que pais e professores estejam habituados a praticar.
O mesmo estudo da OCDE demonstra que, aos 15 anos de idade, as raparigas são mais evoluídas na leitura que os rapazes o equivalente a um ano letivo. Vale bem a pena repensar a prática para que diminua esta diferença entre níveis de desempenho.
E agora, as ilustres composições. Se escrever sobre piratas e naves espaciais é muito mais interessante para rapazes do que dissertar sobre a beleza do outono, porque não sugerir-lhes temas que cativam mais?
Admitamos: já sabemos quase tudo sobre o outono, e há muito pouco sobre ele que um rapaz de onze anos queira descobrir. Para além disso, corrigir o que diz o Capitão Gancho deve ser bem mais divertido do que repassar conteúdo sobre as cores da estação.
Ainda bem que não estão convencidos, porque a razão melhor ficou para o final: é preciso apostar na imaginação desta metade de alunos malandros, respondões e com a mania que são engraçados, porque um dia eles irão fazer vida com a outra metade, serena, contida e metódica.
Desta missão fazem parte todas as filhas, mães e avós do mundo.
Nada como um pouco de poesia para percebermos porque é que a escola tem que chamar a si,os nossos rapazes.
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