importância de ouvir

A importância de ouvir as nossas crianças

A importância de ouvir as nossas crianças

Hoje trago-vos um tema um pouco diferente, que sai um tanto de dentro do nosso espaço terapêutico e abre antes as portas da sala de aula e da escola, mostrando a importância que tem escutarmos as nossas crianças no seu processo de ensino e de aprendizagem.

Mas antes de chegarmos à voz delas, importa compreender alguns conceitos primeiro.

O processo de ensino

Em primeiro lugar temos de compreender que o processo de ensino e aprendizagem não é algo tão linear e direto como poderia parecer. Numa primeira visão, temos um aluno, receptor, que escuta uma fonte de conhecimento, sendo ela o professor. No entanto, esta é uma visão unidirecional e que não reflete assim tanto o que realmente acontece numa sala de aula.

O espaço/local de aprendizagem

A sala de aula, ou escola, ou mesmo em casa e ainda a terapia, são espaços compostos por indivíduos, com as suas próprias características e oportunidades de intervenção.  No caso da escola, temos os professores, com as suas próprias características cognitivas e afetivas e com os seus atos pedagógicos e currículo para aplicar. Por outro lado, temos a criança, que tem também as suas próprias características afetivas e cognitivas, e que tem as suas necessidades de participação e as suas manifestações comportamentais.

Ou seja, temos efetivamente o professor que pretende ensinar, mas depois temos de ter em conta um conjunto de processos mediadores socioafetivos, cognitivos, motores, emocionais, até se chegar à aprendizagem da criança.

Características e envolvente

Estas características, tanto da criança, como do professor, ou do espaço e do próprio currículo podem levar a situações de maior stress ou de questionamento, sendo que algumas características podemos alterar e trabalhar, mas outras não. Ou seja, podemos mudar uma criança de lugar caso ela não consiga ver o quadro, mas dificilmente conseguimos alterar um diagnóstico que traga, ou o seu envolvimento social e económico.

Mais importante ainda, temos algumas questões que são visíveis e que reparamos logo, como por exemplo a criança ter uma cadeira de rodas, ou não vir asseada de casa, ou mesmo chegar notoriamente com fome; mas há questões que não são visíveis, que continuam a ser de extrema importância, como a briga que a criança assistiu antes de chegar à escola, ou a medicação que tem de tomar, algum diagnóstico relacionado com o seu comportamento, ou mesmo uma dificuldade que tenha na aprendizagem, e que se sinta inibida de dizer.

Neste caso, nós, enquanto adultos ou professores, temos várias escolhas.

Ser diretivo ou ouvir as crianças

Podemos optar por um processo mais fechado em que não partilhamos objetivos, em que decidimos tarefas e tempos, em que somos diretivos e em que decidimos tudo. Ou por outro lado, podemos optar por ouvir o que as crianças têm a dizer sobre as suas próprias histórias, dificuldades ou formas de alcançar os objetivos propostos.

Esta escolha, que não é linear e que não se situa no preto ou no branco, pode ser vista como uma opção por levar a criança a ser o foco do processo de ensino e aprendizagem, aumentando a sua motivação para a escola ou para a aprendizagem, e ainda tornando a mesma significativa para ela.

Criar objetivos em conjunto com as crianças

Assim, partilhando com a criança os objetivos que pretendemos que esta alcance e partilhando a tomada de decisões neste processo de ensino e aprendizagem, temos a oportunidade de apresentar tarefas que são mais desafiantes e diversificadas. Oferecemos opções de escolha e promovemos a autonomia e liderança da criança dentro do seu próprio desenvolvimento. Por outro lado, temos um processo de feedback que é individualizado e não por comparação. Aqui a própria criança também pode entrar e permite que o professor, pai, auxiliar ou terapeuta vão, junto com a criança, ajustar os objetivos intermédios e atividades consoante as suas próprias capacidades e necessidades.

Claro que este processo é um desafio, e claro que muitas vezes as próprias infraestruturas ou sistemas colocam em causa esta alteração. Mas pensemos, serve de muito pouco ensinar uma criança a escrever, se ela não vir a possibilidade que tal abre para a criação das suas próprias histórias. Serve de muito pouco aprender os números se a criança não conseguir contar as suas conquistas. E serve de muito pouco mandar uma criança sentar-se e calar-se, quando falamos do seu caminho e da sua história.

Por isso, fica o desafio:

Que consigamos ultrapassar-nos e ouvir as nossas crianças sobre algo que nos interessa mutuamente, o seu crescimento.

 

Image by mozlase__ on Pixabay 

Com uma vontade de saber interminável e uma vontade de partilhar ainda maior sobre a temática infantil, educação e saúde mental.
Psicomotricista a trabalhar em saúde mental infantil , Ana Fonseca

Da necessidade de comunicar com os pais, educadores e restantes intervenientes nasceu a plataforma Terapeuta Ana Fonseca que não é nada mais do que uma forma de comunicação sobre a temática mais fascinante do mundo: as crianças.

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