
A Intervenção nas crianças com Perturbação do Espectro do Autismo
A Perturbação do Espectro do Autismo (PEA) é uma condição que perturba o desenvolvimento global, que surge precocemente e que se manifesta num conjunto de características que diferem de criança para criança. A PEA é caracterizada por apresentar uma tríade de sintomas, nomeadamente diminuição da interação social e reciprocidade das relações, dificuldade na comunicação verbal e não-verbal e interesses restritos e repetitivos.
A criança com PEA apresenta dificuldades na interacção social, mostrando desinteresse e pouca curiosidade pelo meio envolvente e pelas pessoas. Revelam ser crianças mais distantes e com pouca reciprocidade na interacção social. Evidenciam rigidez relacional, tendo dificuldade em compreender e responder às emoções dos outros.
Relativamente à comunicação e linguagem, apresentam dificuldades na compreensão e descodificação das mensagens e na expressão de sentimentos ou necessidades. As dificuldades nesta área poderão ser variar desde a ausência de linguagem e intenção comunicativa até o uso de um discurso espontâneo fluente e bem estruturado. No entanto este discurso será monocórdio e sem grandes variações na prosódia. Geralmente são crianças que manifestam alterações da pragmática, ou seja, na utilização funcional da linguagem verbal oral.
Quanto ao envolvimento nas actividades, a criança com PEA evidencia interesses repetitivos e restritos. Mostra interesse por temas invulgares ou manipula os objectos mecanicamente com movimentos peculiares. Apresenta pouca flexibilidade no jogo simbólico, sendo-lhe difícil “brincar ao faz de conta”.
Presentemente sabe-se que a intervenção com crianças com PEA deve iniciar-se o mais precocemente possível, assim que a criança evidencia sinais, mesmo que o diagnóstico ainda não esteja concluído. A criança com PEA deve ser integrada em contexto educativo, uma vez que será o ambiente mais favorável para o desenvolvimento da interacção com os pares e da comunicação. Defende-se igualmente que a intervenção deve ser realizada nos contextos naturais da criança e com a família. É fundamental que a família assuma um papel ativo no processo de intervenção. É ela que passa grande parte do tempo com a criança e por isso deverá ser orientada pelo terapeuta. Este poderá ajudá-la a desenvolver capacidades sociais e comunicativas, através da passagem de estratégias que possam ser aplicadas diariamente nas suas rotinas.
Ao realizar a intervenção no contexto de sala de aula, o terapeuta terá oportunidade de orientar o educador na forma como deverá trabalhar com a criança com PEA. Este tipo de intervenção proporcionará mais oportunidades de aprendizagem à criança, pois todas as rotinas poderão ser aproveitadas para desenvolver as competências em deficit. A intervenção nos contextos também favorece a consolidação das competências, uma vez que se sabe que a criança com PEA tem dificuldade em generalizar as aquisições adquiridas individualmente e aplicá-las nas situações de dia-a-dia. A intervenção na sala de aula também possibilita que os pares com um desenvolvimento típico, sejam promotores do comportamento social. Deve-se aproveitar os momentos do brincar com os pares, para favorecer o desenvolvimento da capacidade de atenção partilhada, a tomada de vez e a imitação reciproca dos comportamentos.
É igualmente importante que o terapeuta ajude a educadora na organização do espaço, dos materiais e na rotina da criança. O espaço da sala deve estar organizado por áreas e estas devem estar identificadas com uma imagem correspondente, para ser mais fácil a criança visualizar. Os materiais devem também estar identificados, de forma a facilitar a criança saber onde deve encontrar determinado material, bem como onde deve arrumá-lo, quando termina a atividade. Outro aspeto fundamental a ter em conta é a organização das atividades. A criança com PEA não reage bem ao imprevisto e portanto “funciona” melhor se antecipar o seu dia e, perceber quais as tarefas que vai desenvolver. Isto pode ser feito, apresentando um mapa de atividades diárias que permita à criança ter conhecimento qual a actividade que vai desenvolver de seguida. Este método de intervenção visa melhorar e favorecer a autonomia da criança, facilitar o processo de aprendizagem e também diminuir a ocorrência de problemas de comportamento.
Susana Moreira- Terapeuta Ocupacional, para Up To Kids®
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