A Magia do Natal. Os natais de quando era miúda.

A Magia do Natal. Os natais de quando era miúda.

Magia do Natal

Lembro-me perfeitamente dos Natais de quando era miúda.

Nos quais a minha Mãe construía de raiz uma casa de bonecas, acendia as velas na árvore de Natal, desenhava e costurava os nossos vestidos. Não havia corridas às grandes superfícies. Para nós as grandes superfícies, como família numerosa, eram os armazéns da Matinha. Não havia mais nada. Nem encontrões para os 50, 60, 70% de desconto. Tudo era comprado com antecedência e sem grandes exageros: à conta e dentro do orçamento.

O reboliço era apenas na organização dos lugares na mesa, na cozinha que começava a funcionar dois dias antes, nos telefonemas à família para se decidir quem trazia o quê, e na nossa expectativa no que é que íamos receber desta vez.

Sabíamos que não era a boneca “XPTO” da moda ou algo de muito caro.

Mas o fator surpresa aliado à criatividade da nossa Mãe (que é a melhor Mãe do mundo ), eram tudo! Aqueles momentos nos quais sonhávamos e tentávamos imaginar o que é que estava por debaixo daquele enorme embrulho cheio de cores. O cheiro a pinheiro, a luz morna das velas e a música de Natal que tocava baixinho faziam parte do pano de fundo.

Entre primos e irmãos, fazíamos uma fila por ordem de idades, à porta da sala azul, onde os pais e tios nos esperavam contentes. Só nos deixavam entrar quando finalmente nos conseguíamos acalmar um pouco, o que não era tarefa fácil. Por vezes ainda havia chapada à porta! Todos bem vestidos com as fatiotas feitas pela Mãe, muito cheirosos e penteados, entrávamos envergonhados, de coração aos saltos de tanta emoção.

A Mãe fazia a distribuição dos presentes por ordem de idades, dos mais pequenos para os mais velhos. Eu era das últimas a receber, adorava sentir aquela adrenalina, enquanto festejava os presentes com os mais novos.

Estas são as minhas recordações de Natal.

Guardo estes cheiros e estas sensações e passo-as da mesma forma para os meus filhos. Continuamos a fazer o mesmo, só que agora quase não cabemos na sala azul. Entre pais, filhos, genros, nora e netos, adoptámos o amigo oculto e tornámos isso numa tradição de Natal. Fazemos uma espécie de jogo e todos se divertem sem que tenham 20 presentes de Natal e NADA para brincar!

As velas acesas quase incendeiam a árvore sintética, a Mãe teima em queimar um bocadinho de pinheiro para aromatizar a sala e a música de Natal quase não se ouve. As crianças entram em fila indiana e por ordem crescente, não antes de andarem ao estalo e acabarem com os laços na testa… a tradição não mudou muito, lá por casa.

O Natal não é esta loucura de consumo no qual as crianças fazem listas intermináveis (faz parte!) e os pais, em vez de fazerem uma triagem daquele exagero, correm a comprar cada um desses items.

Para quê? para que nada lhes falte? E quantas vezes é que vejo pais e avós a comprarem os presentes em frente aos miúdos e a dizerem-lhes que só podem abrir no dia de Natal?! Onde está aquela magia do Natal? Aquela saudável? Onde estão as histórias que se contam O ANO INTEIRO sobre a necessidade de se poupar, de se ajudar o próximo, etc?

Ter tudo não é saudável! É como a plenitude se se atingiu, provavelmente, é porque se morreu.

Como é que estas crianças vão valorizar aquilo que têm se não há nada, material, que não tenham?

Fica a reflexão para esta quadra maravilhosa.

BOM NATAL MEUS QUERIDOS!

Por Inês de Santar, autora do livro Amar-te-ei no Douro

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Inês de Santar é a segunda de seis irmãos. Em 2009 começou a escrever o seu primeiro romance e, em 2012, revela publicamente o seu gosto pela escrita, com a abertura da página Inês de Santar.

Como pais e educadores, haverá alguma forma de andarmos um passo à frente dos nossos filhos? Será isso necessário? Como fazê-lo?

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