
A maior frustração da maternidade
A maior frustração da maternidade
Como mãe sinto muitas vezes frustração.
Não apenas quando não consigo acalmar uma birra ou quando não consigo dormir uma noite inteira sem interrupções, mas principalmente quando os meus filhos estão doentes.
Ontem, depois do jantar, dei por mim a caminho do hospital com a minha filha. Outra vez. O costume. Na sala de espera, já cansada, ela deitou-se no meu colo, encostou a cabeça no meu peito e adormeceu. Senti-lhe o cheiro doce dos cabelos, as mãos quentes da febre e, exausta, chorei.
Chorei de cansaço e de frustração.
Na semana passada estiveram os dois doentes (a bem da verdade, ainda não deixaram de estar doentes desde o Outono) e já estou outra vez sentada no frio da sala de espera da urgência pediátrica.
Conheço de cor a tosse, a respiração, com ou sem expectoração, os nomes dos medicamentos, a dosagem, sim, faz essa bomba todos os dias, vamos aumentar a dose, vamos experimentar estes comprimidos, este é de doze em doze horas, os sinais de alarme, sim, eu sei quais são, se não melhorar em dois dias volta cá, então adeus, até daqui a dois dias.
Posso gritar?
Com o tempo vai melhorar, eles vão crescer, vamos ter saudades: todas já ouvimos isto centenas de vezes, mas a verdade é que o aqui e o agora é feito de miúdos doentes o tempo todo e eu garanto que não vou ter saudades. Estou de rastos, pareço um pano velho que agora só serve para secar as bancadas da cozinha, quando os oiço tossir começo imediatamente a tremer, não durmo bem há cem anos, a tensão quer que eu pare para descansar e recuperar forças, mas vivemos num círculo vicioso interminável.
Abracei a minha filha com força, beijei-lhe a testa e limpei as lágrimas. A maior frustração da maternidade é a do colo da mãe não ser capaz de curar tudo.
imagem@flickr
Tenho nos meus filhos e no mundo depois dos filhos uma enorme fonte de inspiração e o blogue nasceu da necessidade de escrever sobre o lado menos fofinho da maternidade.