Ser mãe é um modo de vida, não uma fase passageira

Ser mãe é um modo de vida, não uma fase passageira

Ser mãe é um modo de vida, não uma fase passageira

Recordo-me perfeitamente de estar no final da gravidez da nossa filha. Inchada, com asma resultante da gravidez, um refluxo que só me permitia dormir sentada, pés que pareciam batatas. De repente aparecer na televisão a Kate Middleton, poucas horas depois de dar à luz pela segunda vez, em pé, na rua, com o recém-nascido ao colo, num maravilhoso vestido amarelo, com ar sereno de quem não tinha feito nada de especial nas últimas horas.

Senti de imediato a pressão para ter um pós-parto igual. Até me senti uma drama queen por estar estatelada no sofá a respirar com dificuldade, quando aquela mulher depois de um parto estava ali firme e hirta, penteada e maquilhada.

Quando a nossa filha nasceu voltei a sentir que era menos capaz do que a Kate.

No dia seguinte ainda precisava de uns bons 10 minutos para me levantar, arrastava-me pelo quarto, usava uma mola que mal prendia o cabelo, estava pálida e olheirenta e o único vestido que me apetecia usar era o vestido de noite largo e manchado de leite da noite anterior. Estava exausta, não queria tirar fotos nem esboçar sorrisos forçados, apenas permanecer encostada à nossa filha, a apreciá-la, com direito a dormitar pelo meio.

Estive rodeada de pessoas fabulosas, mas com o regresso a casa começaram os zumbidos de “agora tens de recuperar a tua forma“, “em breve a tua vida vai voltar à normalidade“, “tens de voltar a cuidar de ti como antes”.

Por que é que temos de fingir que não mudámos, que não nos tornámos mães?

Por que é que temos de “voltar à normalidade” como se nada tivesse acontecido? A que se deve tanta pressa? Ser mãe é um modo de vida!

A maternidade e o pós-parto tornaram-se uma espécie de capítulo curto na vida das mulheres que deve ser rapidamente lido e encerrado, sem tempo nem espaço para o viver. É como se existisse uma competição subtilmente incutida de “ganha quem recuperar mais rápido a forma, retomar a sua rotina e transparecer não ter sido mãe!”.

Ser mãe não é um capítulo. Ser mãe é um modo de vida.

É a própria história. Um aspeto que estará presente em nós pela vida fora, diria até uma característica. Não é uma fase passageira. É um modo de vida! Uma escolha que fizemos e que merece ser plenamente experienciada. Ser mãe é uma eclosão! Como qualquer mudança de vida significativa exige tempo para lidarmos com todas as transformações inerentes. Com emoções mais e menos positivas, com certezas e dúvidas, e também com derrotas e vitórias.

Por que nos levam a pensar que devemos passar por cima disto todas apressadas? Desde quando uma mudança tão importante deve ser vivida com ligeireza?

Sou mãe, jamais serei a mesma, não me peçam para fingir que nada mudou!

O meu corpo ganhou um novo formato, aquele que permite à nossa filha encaixar-se perfeitamente nele, a minha vida ganhou outras prioridades, o meu coração cresceu desmedidamente, o meu pensamento foca-se em fazer a nossa filha feliz pois essa é para mim uma fonte de satisfação.

Claro que aos poucos me vou recuperando enquanto mulher, ganhei vagar e motivação para cuidar mais de mim, para esporadicamente sair a dois. Ainda assim, nada será igual, não é suposto ser! A nossa filha existe e faz parte de nós SEMPRE, mesmo quando não está presente.

Sou uma menina-mulher que se tornou mãe e que dois anos depois continua a aprender a desempenhar este papel. Estou em constante reconstrução, ganhei responsabilidades e a bênção de criar uma família.

Onde quer que me vejam irão ver uma mulher que nunca mais descansou o mesmo. Que se questiona sobre as suas práticas parentais, que cuida menos de si, mas que transporta nos seus olhos o brilho próprio de quem reconhece o valor da honra de ser mãe – não nos tentem tirar isto!

Mestre em Psicoterapia Cognitiva-Comportamental, Lisboa

A entrada no mundo da maternidade rapidamente se revelou menos “purpurino-brilhante” do que havia imaginado. Poderei ser uma mãe que se sente completa, com disponibilidade para a sua prol, se não cuidar de mim enquanto mulher? Poderei ser uma mulher feliz se não me sentir uma mãe livre?

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