
A pressão para ter filhos existe e temos de falar sobre isso
A pressão para ter filhos existe e temos de falar sobre isso
Durante o nosso crescimento existem vários marcos, etapas que é esperado que alcancemos, ainda que sejamos todos tão diferentes uns dos outros.
Crescemos a ouvir a pergunta da praxe “como é que vai a escola”, sejamos bons ou maus alunos. Perguntam-nos o que queremos ser quando formos grandes só por curiosidade, tantas vezes sem haver um interesse grande no assunto, porque raras vezes essa pergunta é seguida de um “e porquê?”. Depois vem “que área vais seguir” e mais tarde o “qual o curso que vais tirar”, como se não houvesse vida para quem não quer tirar um curso ou simplesmente não faça a mais pálida ideia do que vai fazer dali a uns meses, ainda que seja das decisões mais marcantes da sua vida.
“Já tens namorados” ou “Quando arranjas um namorado?”. Se formos rapazes há tendência para se ouvir um “és muito novo para namorar tão a sério”, se formos raparigas infelizmente começam a vislumbrar-se perguntas sobre /vestidos de noiva. E depois sobre filhos. O primeiro. Se já tivermos feito check nessa caixinha, sobre o segundo e por aí fora, porque as pessoas nunca se dão por satisfeitas.
E as pessoas que nos fazem estas perguntas tão íntimas sobre a nossa vida são de um espectro vastíssimo que vai desde a nossa avó à senhora que sobe connosco no elevador uma vez por ano.
Entendo que exista curiosidade, carinho, preocupação, expectativas. Entendo mas acho que na maior parte dos casos devemos parar para pensar antes de perguntar porque não fazemos a menor ideia do que se passa do outro lado – mesmo quando são pessoas de família às vezes estão às escuras porque há coisas difíceis de partilhar, de tão íntimas e sofridas que são.
Falo-vos de um casal amigo que estava junto desde a escola secundária, casados há três anos. À volta estava toda a gente a começar a ter o primeiro filho. Lembro-me como se fosse ontem, estava eu grávida da Mariana, num jantar de aniversário de um amigo em comum e foram três pessoas que lhes perguntaram sobre quando iam eles ter filhos. A resposta foi a educada, “estamos a trabalhar nisso”. Meses mais tardes separaram-se e viemos a saber que estavam a tentar há três anos sem sucesso. Que essa luta diária trouxe para dentro de casa um stress, desilusão e culpa tão grande que o amor acabou por não ser suficiente. No caso deles havia uma razão médica para a gravidez não acontecer.
Noutro casal amigo, em vias de separação, era constante a pergunta de quando viria o segundo filho. Ninguém sonhava que estavam a atravessar uma crise e que por isso o segundo filho estava longe do horizonte.
Noutro ainda o facto de o pai querer mais um filho e a mãe não sentir que era esse o caminho também não transparecia, mas a pressão externa pouco ajudou.
E depois há simplesmente as pessoas que não querem ter filhos.
As que não querem pensar nisso para já.
As que querem mas não podem. Porque financeiramente não seria viável ou porque as suas vidas não lhes permitem ter a família que gostariam.
É por isso que nunca faço esta pergunta aos meus amigos, mesmo aos mais próximos. Porque eu posso conhecê-los bem mas não sei tudo, nem é suposto saber. Como amigos devo criar um ambiente de confiança e tocar no assunto, eventualmente falando da minha própria experiência, e deixar espaço para que se a outra pessoa quiser falar o possa fazer. Sem pressões.
Fazemo-lo com boas intenções mas há momentos em que uma simples pergunta pode provocar uma tempestade. Dentro da pessoa, dentro da sua casa.
E que temos nós a ver com o desejo de uma pessoa ter filhos, se casa ou não casa, se descasa, se compra carro ou vai a pé? Se for apenas companheirismo e preocupação, então que a façamos chegar em forma de amor e não de interrogatório.
Empatia. Pormo-nos no lugar do outro. Lembrar-nos de quando nos fizeram perguntas que preferíamos não ter tido de responder.
Ser amigos, filhos, pais, sogros, padrinhos, sem pressões.
Só amor.
Pode parecer difícil mas é mais fácil do que parece.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
Ciclo vicioso Infernal”
devemos sempre pensar e pensar antes comentar…
Gostei do artigo….mesmo. Pode ser que ajude os Pais de hoje a deixarem de vez os seus filhos serem e fazerem o que gostem e não o que os pais deles gostam……Talvez demore muitos anos, mas já se vê algum progresso. O principio da liberdade, do respeito, da educação vem de casa. Se não se consegue fazer este trabalho, os jovens serão sempre uns prisioneiros do que os pais gostam e do que está “estipulado” na sociedade. Uma criança livre e sem bitolas ou conceitos muito vincados, será sempre uma criança feliz e capaz de fazer as suas escolhas, mesmo que erradas possam ser. Se partirmos do principio que para os pais poderão parecer erradas e para eles não
MESMO……