A solidão de ter um terceiro filho
Estou grávida. Estou grávida do terceiro filho.
Quando temos o primeiro filho a alegria é contagiante mesmo que não tenha sido planeado, mesmo que ainda tivesses planos para concretizar ou que não te sintas preparada,. Quando acontece ficas como que anestesiada, não sabes o que vai acontecer, não sabes como é, só sabes o que toda a gente à tua volta te diz, que é maravilhoso, que é lindo. Algumas pessoas assumem que não é fácil, mas todas elas concordam que é o melhor da vida. Quando ficas grávida pela primeira vez vives tudo intensamente, sentes-te acompanhada e nunca estás sozinha.
O segundo filho é sempre uma escolha tua, pode ser logo de seguida, podes esperar uns anos mas é aquilo que toda a gente espera de ti. O segundo filho. Acontece e novamente a onda de calor, de amizade de alegria gira à tua volta. É claro que tens medo, é normal. O primeiro ainda é pequeno, ainda precisa de atenção. Vais para a maternidade e deixas as gavetas etiquetadas e a roupa separada para um mês. Vais para a maternidade ter o segundo mas não consegues deixar de pensar no primeiro.
Aquilo por que não esperavas é que a intensidade de amor que tens pelo teu primeiro se multiplique pelo teu segundo. Não conhecias em ti a capacidade de amar tanto. E não conhecias em ti a capacidade de aceitar o amor sem fronteiras, sem limites, sem prerrogativas que todos os dias recebes das pequenas criaturas de quem cuidas.
Voltas à rotina.
Ao trabalho, foco na carreira agora, aquela que deixaste em suspenso, tentas ser o que eras mas nunca mais serás a mesma. Porque inevitavelmente as tuas prioridades mudaram. E aceitas. Aceitas que não consegues ser excelente, que talvez a tua evolução profissional seja mais lenta do que desejavas. Mas não sentes rancor. Tens a família que sempre imaginaste.
Um dia chegas a casa e percebes que alguma coisa está diferente e como que intuitivamente fazes um teste de gravidez. Positivo. Estás grávida outra vez. O choque é demasiado grande e choras, choras porque não planeaste, choras porque não querias, choras porque não queres deixar a tua vida perfeita para enfrentar mais desafios. Choras não sabes por quê. Pensas o que vais fazer e as opções que tens mas muito antes de tomar uma decisão o universo toma por ti, e assim de um dia para o outro, sem mais nem porquês o que encaraste como um problema deixa de existir. E assim, de um dia para o outro o que encaravas como um problema era, afinal, tudo o que querias na vida. Um terceiro filho.
A partir desse dia passas a viver com essa ideia no coração e tu sabes que as ideias que se cravam no coração são sempre as que mais dificuldade tens em esquecer.
Mas falta-te a coragem, falta-te o apoio.
Ninguém fala sobre isso, ninguém imagina que o queiras, ninguém sabe do teu coração. Só tu.
Passam uns dias e fazes outro teste, e outro e dali a uma semana mais um… só para garantir. Dás a noticia ao teu marido num tom seco, confuso, não esperas foguetes, não esperas música, marcas consulta no médico e vais, sozinha. E é a partir desse momento que a tua terceira gravidez te torna solitária. Solitária nas tuas escolhas, solitária nos teus pensamentos, nas tuas culpas, nos teus anseios.
Consideras todas as opções, fazes tantas contas à vida, à segunda casa que vais ter de vender, às escolas privadas que não vais conseguir pagar. Mas o amor não tem preço e não há suborno possível para a vontade do teu coração. E decides. Não sabes se bem ou se mal. Mas decides.
E suportas os enjoos, a má disposição, as quebras de tensão. Sozinha. E quando chega a hora começas a dar a notícia. Quase ninguém te dá os parabéns, quase ninguém te felicita. Mas não faz mal, ninguém sabe quando são as tuas consultas, não querem pormenores, afinal , já é a terceira. Devem pensar que foi um deslize ou que estás doida. O terceiro filho…
E nessa solidão caminhas grávida e orgulhosa. Só tu sabes.
Escrevo sobre o que me faz feliz, escrevo sobre o que me faz triste. Escrever faz-me feliz. Adoro desafios! Ser mãe é o maior desafio da minha vida.