A vida não é um iPad
As crianças de hoje vivem de facto uma nova era não só em termos de tecnologia, mas também sociologicamente contaminada pelo fator tempo. O tempo tornou-se no bem mais precioso de cada um.
Quantas vezes ouvimos a frase, não tenho tempo para nada.
Trabalhamos que nos desunhamos para podermos dar boas condições aos nossos filhos, é certo, mas quase não sobra tempo para estarmos com eles. Quando temos filhos o tempo ainda é mais precioso, o pouco que passamos deve ser vivido com qualidade. Mas com o ritmo acelerado que hoje vivemos, porque tudo é contado ao segundo, tempo de qualidade é de facto uma coisa rara. Ou porque estamos atrasados para a missa, ou porque estamos atrasados para o almoço ou jantar, estamos sempre atrasados para qualquer coisa. Mas nunca nos lembramos de estar atrasados para estar com eles, com os nossos filhos que são quem mais precisa de calma, estabilidade e equilíbrio. Principalmente nos primeiros anos de vida, em que estão a formar a sua personalidade.
As tecnologias vieram ajudar, concordo.
Mas o seu uso excessivo veio de certa forma acelerar o tempo de resposta. Passo a vida a dizer as minhas filhas, eu não sou o botão do iPad, a vida não é um iPad!
É preciso estimular o pensamento. O tempo para pensar está cada vez mais condicionado ao imediato. Porquê? Porque hoje em dia facilmente se obtêm respostas carregando num botão. Facilmente se resolve um assunto, um desafio, um dilema carregando num botão. Não pode ser. As crianças precisam de ser estimuladas a pensar por elas, a resolver os seus assuntos, sob pena de quando chegarem a adultos se tornarem pequenos ditadores, onde tudo lhes é devido na hora e nada devem a ninguém. É preciso travar esta onda de aceleração do tempo, onde facilmente se lhes dá o Tablet ou o telemóvel para as mãos apenas porque não temos tempo para estar com elas ou até mesmo paciência. Eu contra mim falo porque muitas vezes acabo por ceder, mas sempre que posso evito. É no equilíbrio desta utilização que está o segredo, porque não queremos filhos infoexcluídos desta realidade. Nem o Oito nem o Oitenta. A ponderação é a base de uma boa educação.
10% das crianças portuguesas entre os 2 e os 10 anos têm uma duração do sono insuficiente em relação à média.
Segundo o website da CUF, um estudo americano verificou que 4 em 5 crianças/adolescentes dorme com o telemóvel à cabeceira. A expectativa/iminência de poderem receber uma mensagem ou uma chamada levam-nos a manterem o telemóvel ao seu lado e, segundo os pediatras envolvidos nesta pesquisa, este comportamento interfere nos padrões e qualidade do sono dos mais novos.
Coincidência ou não, uma pesquisa recente realizada pelo Dr. Filipe Glória Silva, pediatra do hospital CUF Descobertas, apurou que 10% das crianças portuguesas entre os 2 e os 10 anos têm uma duração do sono insuficiente em relação à média. Comparativamente a dados dos Estados Unidos, China e Holanda, foi também verificado que as crianças portuguesas se deitavam tarde e apresentavam mais sintomas de sonolência diurna. Por sua vez, a privação de sono está associada a problemas emocionais, cognitivos e comportamentais, tem impacto na qualidade de vida familiar e justifica a marcação de uma consulta do sono, em que especialistas ajudam os pais a estabelecer hábitos de sono saudáveis de acordo com as necessidades fisiológicas de cada criança.
Por razões de segurança, ou até dos novos padrões sociais de hoje, é quase inevitável que se chegue a uma idade e não temos outro remedio senão dar um telemóvel aos nossos filhos.
Nada contra, agora tudo dependerá da idade, do sentido de responsabilidade e do grau de maturidade. Mas, acima de tudo, quando chegar esta altura as regras têm de ser muito bem definidas bem como os critérios de utilização. Explicar muito bem as questões ligadas ao cyberbullying e acima de tudo quais são as razoes principais da sua boa utilização, sem esquecer o uso regrado do equipamento, porque a vida é para ser vivida em sociedade, em comunidade, ao vivo e a cores.
A vida não é um iPad!!
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Somos uma associação de afetos, como diz a presidente da APSA, uma pessoa fora de série como há poucas nesta vida.