
Ansiedade de separação: Uma ansiedade de relação
Ansiedade de separação: Uma ansiedade de relação
A ansiedade é uma componente importante das nossas vidas. Todos nós lidámos com ela, em algum ponto do nosso crescimento. A tendência poderá ser vê-la como desvantajosa, no entanto, em muitas situações pode ser um recurso, por exemplo:
- “Obrigar-me” ou “motivar-me” a entregar um trabalho
- Mobilizar-me para ultrapassar a ansiedade, resultando num sentimento de que sou competente.
Quando a ansiedade ganha dimensões em que nos sentimos vulneráveis, incapazes de a combater e de concretizar o nosso quotidiano, é que esta se assume um problema.
Com as crianças a situação é semelhante.
A diferença é que elas precisam da colaboração dos pais para conseguirem enfrentar a ansiedade. Naturalmente, quando somos mais pequenos optamos por evitar a ansiedade: se algo desconfortável surge, a criança tenta fugir dessa sensação. A colaboração dos pais é essencial em qualquer ansiedade, no entanto, é especialmente importante na ansiedade de separação pois esta é uma ansiedade relacional. Como o próprio nome indica, ficar repetidamente ansioso com uma separação implica a existência de uma relação.
Uma vez que a relação pais-filhos é fundamental para o crescimento e desenvolvimento da criança, promovendo um sentimento de segurança, estabilidade e conforto, é natural que possa trazer ansiedade quando ocorre algum tipo de separação. Para além disso, é preciso perceber que os filhos são um reflexo, em muitos sentidos, dos pais. Ou seja, é possível que a ansiedade ocorra quando os próprios pais estão a passar por um período difícil (quer se relacione diretamente com a separação ou não). Os vossos filhos podem sentir-se particularmente seguros perto dos pais, mas também os pais se sentem seguros perto dos filhos.
A escola costuma ser uma fonte de ansiedade em determinadas etapas do crescimento.
Em alguns casos, a entrada na escola é altamente problemática porque, para além de a criança enfrentar um novo ambiente, tem de “largar” os pais; para outras crianças a escola traz dificuldades mais tarde, quando surgem problemas com uma professora mais rígida ou com colegas mais gozões ou agressivos.
É também frequente que o vosso filho demonstre querer estar convosco e não longe de vós.
Uma vez que são o “porto seguro” dos vossos filhos, é natural que eles precisem de estar convosco quando surgem situações de ansiedade. Por vezes é difícil perceber se os sinais ou sintomas que surgem (ex: chorar, gritar, vomitar, dores de barriga) se relacionam com a necessidade de vos ter por perto (ansiedade de separação) ou com outra dificuldade.
Uma atitude consistente pode trazer vantagens:
- Antes de tomar uma atitude pense sobre aquilo está a sentir. Sente-se ansiosa ou triste quando deixa os seus filhos na escola? Os filhos captam isto, não se esqueça que eles são especialistas em comunicação não verbal, isto é, mesmo que não se expressem verbalmente, eles conseguem captar bem o que os pais estão a sentir e reagem em consonância. Como pode lidar melhor com essas sensações pessoais?
- Mostre aos seus filhos que eles têm de enfrentar os medos (Quem os orienta também os ensina a lidar com ansiedades e medos);
- Diga-lhes que acredita neles e que sabe que vão conseguir ultrapassar o que se está a passar (aproveite também para lhes dizer quais as características positivas que eles têm que os podem ajudar a ultrapassar isso);
- Fale das suas experiências positivas com a escola mas também de alguns medos que teve em criança e de como os conseguiu ultrapassar.
- Demonstre-lhes claramente que os ama e que está disponível, como pai ou mãe, para os confortar depois de enfrentarem as suas dificuldades.
- Promova um ambiente estável e uma rotina que transmita segurança, tal como estar na escola para receber o seu filho à hora programada.
Ansiedade de separação
Para finalizar, enquanto adultos, os pais são uma ferramenta chave para potenciar apoio emocional e na resolução de problemas com os filhos. No entanto, é fundamental que não se culpabilizem pelo que está a acontecer ou se sintam demasiado responsáveis pela resolução da ansiedade dos vossos filhos. Podem vê-la como uma oportunidade para o crescimento de ambos, não se esquecendo que é também na distância que se cria proximidade, isto é, para perceber e acreditar que os pais estão presentes de forma incondicional é preciso experimentar estar longe (dando-vos a oportunidade de estar lá para os receber depois de um dia mais difícil).
Se sentir que já tentou todas as estratégias referidas, não se esqueça que há a possibilidade de recorrer a um acompanhamento psicológico. Uma vez que a temática é relacional poderá ser importante recorrer a um psicólogo especializado em crianças ou famílias. O nosso trabalho é ajudar os pais, a família e a criança a co-constuir relações mais saudáveis.