As nossas crianças são heróis em tempos de pandemia

As nossas crianças são heróis em tempos de pandemia

As nossas crianças são heróis em tempos de pandemia

Acordam para mais um dia em casa. Espreitam pela janela e vêm que o sol brilha ou a chuva chegou.

Tomam o pequeno-almoço com um sorriso, conversam sobre os sonhos da noite e perguntam quanto tempo falta até a escola começar.

E depois sentam-se à secretária, ou à mesa e, com tudo preparado, começam o dia.

Ainda há um mês corriam com os colegas, ainda que em bolhas, no recreio. Ouviam o riso dos amigos, ajudavam um colega que caiu por causa de uma rasteira, faziam fila para jogar à macaca.

Ainda há um mês já se tinham habituado a esta nova realidade, diferente da do ano passado e muito diferente da dos anos antes desse.

Pergunto-me o que guardam dos dias de liberdade, em que se podia abraçar toda a gente, brincar no parque infantil, circular sem máscaras, a ver o sorriso de todos.

As nossas crianças, resilientes, fortes, adaptaram-se.

E deram-nos uma lição ao fazerem o que lhes era pedido.

Ainda há muitas pessoas que não honram o sacrifício pedido às nossas crianças, fingindo que nada mudou, convivendo com quem desejam, alheios ao esforço que tantos outros fazem para que possamos regressar à normalidade possível.

E, entretanto, enquanto os adultos erram e criam um mundo que neles terá sempre efeito, as nossas crianças sorriem.

E as que têm sorte continuam a ter uma infância, em que conseguem sair para andar de bicicleta ou correr na rua. Mas muitos há que nem uma casa quente têm. Meios para estarem na “escola” como os colegas. Muitos que vivem em ambientes nada propícios para aprender.

E dói pensar nas consequências que estes tempos terão nas nossas crianças, mas esta aprendizagem fará delas ainda mais fortes.

Fará com que nunca mais dêem como adquirido o simples facto de irem à escola. De abraçarem um amigo. De festejarem o aniversário em família. Irem ao cinema e comerem pipocas. De estarem no supermercado e poderem mexer nos artigos das prateleiras, folhear um livro numa livraria. De fazerem festinhas nos bisavós e os fazerem rir sem ser através de uma câmara.

As nossas crianças têm sido heróis.

E precisamos lembrar o que lhes pedimos quando entram em stress, quando fazem birras, quando ficam num modo de excessiva frustração.

Precisamos, também nós – pais e educadores – de mostrar como se faz. De darmos as mãos e dizer que não temos todas as respostas, mas por agora um abraço irá salvar o dia.

Abracemos as nossas crianças, com um “obrigado” sussurrado pelo coração e um “desculpa” dito em voz alta quando assim for preciso.

As nossas crianças estão a ter uma infância diferente, mas tentemos por tudo que não deixe de ser uma infância. E mais importante ainda, de nos lembrar que são apenas crianças.

Porque acredito num tempo, em breve, quando falaremos sobre o que estamos a viver, sem nostalgia dos dias encerrados, mas com a felicidade de podermos estar em segurança e ter os nossos connosco.

Até lá, demos as mãos, abraços, choremos o que tivermos de chorar (porque está a ser tão difícil para nós também) e, juntos, sigamos em frente.

O que nos espera também depende de nós e se for feito com amor, o caminho faz-se mais leve.

MÃE DE UMA MENINA, É PARA E POR ELA QUE ESCREVE SEMANALMENTE, PASSANDO PARA PALAVRAS OS MAIORES SEGREDOS DO VERBO AMAR.

Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!

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