Para quem não está familiarizado com o termo Parentalidade com apego (Attachment parenting), é um estilo de parentalidade caracterizado por praticar a disciplina positiva, o co-sleeping (filhos e pais partilharem uma cama) ter uma resposta rápida ao choro e alimentar em livre demanda sempre que possível. Se a parentalidade com apego não é para si, então este artigo também não é. E não há problema. Isto não é nenhuma manifestação contra a parentalidade convencional (nem qualquer outra!) De certeza que os outros estilos de parentalidade terão vantagens para os pais e os filhos, mas eu não sei nada sobre elas, por isso não posso falar nem comparar.
Mas sobre a parentalidade com apego, eu sei.
Os meus quatro filhos foram criados assim, e quero tranquilizar os pais que enquanto observam os filhos a dormir nas usa cama se questionam se os estarão a “estragar”. Eu estou a falar para a mãe que está a amamentar não só para alimentar mas também para tranquilizar ou adormecer, e se questiona se deveria deixar os filhos chorar para aprenderem a acalmar-se sozinhos. Eu estou a falar para o casal que não tem um fim-de-semana desde que o bebé nasceu porque tu estás a amamentar, e questionas-te se valerá o esforço. Se és esta mãe, então sim, o artigo é para ti!
Nós não planeamos ser este tipo de pais. Nunca houve um momento de reflexão que nos levasse a decidir ser pais com apego. Aliás, quando tivemos o nosso 1º filho nunca tínhamos pensado muito sobre o assunto. A parentalidade com apego aconteceu naturalmente, simplesmente fez sentido.
Quando o bebé ficava na nossa cama dormia melhor e consequentemente nós dormíamos melhor. Então passamos a praticar o co-sleeping. Não com o intuito de dar resposta a horários, era simplesmente mais fácil e mais natural já que estava a amamentar em livre demanda dia e noite. Como o bebé estava sempre comigo, quando o punha na alcofa ou no carrinho ficava impossível, e rapidamente descobri a maravilha dos slings. Muito mais fácil de transportar, e ele ficava feliz.
Em pouco tempo tornamo-nos em pais com apego a 100%. E apesar de ter sido tudo natural e agradável para nós e para o nosso filho, eu continuava a ter dúvidas quanto às nossas escolhas e a quanto a explorarmos caminhos menos convencionais da parentalidade.
Foram essencialmente algumas fases e etapas de desenvolvimento dos nossos filhos que nos fizeram questionar as nossas escolhas: quando o meu filho mais velho fez 4 anos desenvolveu uma intensa ansiedade de separação dos pais. Será que estávamos a torna-lo muito dependente? Com 5 anos, o meu segundo filho arrastava-se invariavelmente para a nossa cama a meio da noite. Seria normal? O meu terceiro filho até aos 18 meses só queria andar ao colo. Recusava-se a caminhar. Estaria tudo bem? E o bebé começou a falar muito mais tarde que as outras crianças. Será que o tínhamos mimado demais, que lhe tínhamos dado tudo antes sequer que ele nos pedisse?
Eu só gostava de saber na altura o que sei hoje: que os meus filhos se iriam desenvolver bem. Que iriam crescer e tornar-se em adultos responsáveis. Não quero falar antes de tempo, porque ainda não são todos adultos. Só um é que já saiu de casa, e o “bebé” tem 12 anos.
Mas correu tudo bem. E eu não atribuo tudo ao tipo de pais que fomos, porque acredito que grande parte da personalidade deles é de nascença, mas acredito que tê-los criado com tanto amor e tanto a apego teve um profundo efeito positivo nos meus filhos.
Da minha experiência, estes são alguns dos resultados a longo prazo da parentalidade com apego:
Miúdos criados com apego são gentis.
Os meus filhos não são perfeitos, mas são genuinamente gentis uns com os outros, connosco, e com miúdos que têm problemas na escola. Estes miúdos crescem a acreditar na gentileza alheia. Quando choram, alguém gentilmente lhes dá atenção. A disciplina é gentil. O resultado de serem gentis para as pessoas é que, geralmente, lhes respondem mesma forma.
Miúdos criados com apego são independentes.
Uma das críticas da parentalidade com apego é que cria crianças dependentes. Esta constatação não podia estar mais longe da verdade. Eles não eram independentes aos três ou quatro anos de idade, ou mesmo até aos seis ou sete anos (e ainda bem). Mas na pré-adolescência e depois disso os meus filhos e outras crianças que conheço que foram criadas pelos mesmos princípios, tornaram-se completamente confiantes e autónomos. Eu acredito que a segurança profunda que é transmitida na parentalidade com apego promove a independência.
Miúdos criados com apego são afectuosos. Já há muito tempo que não ouvimos aqueles passos de criança no corredor à noite em direcção à nossa cama (sim, cada um dorme na sua cama hoje em dia). Mas os meus filhos gostam de se aconchegar. A minha filha de 12 anos gosta de estar aninhada connosco quando vemos um filme juntos. As minhas filhas adolescentes riem-se juntas e abraçam-se com frequência quando estão a ver alguma coisa no computador. Os meus filhos raramente entram ou saem de casa sem esperarem um abraço. Os miúdos criados com apego sentem-se confortáveis a demonstrar afecto mesmo quando é suposto serem “fixes”!
Miúdos criados com apego são apegados – num nível saudável. Apesar de todas as advertências sobre os pais não serem amigos dos filhos, nós somos. Isso não significa que não sejamos responsáveis ou que os tratemos como se fossem adultos. Mas nós gostamos genuinamente de passar tempo com eles e vice-versa. Já reparei que se passa o mesmo com outras famílias apegadas. Há uma facilidade e ligação na relação pai/filhos que contraria o estigma da adolescência difícil.
Miúdos criados com apego têm ligações fortes com os irmãos. Os meus filhos lutam. Os filhos das ouras pessoas também lutam. Mas para lá disso, existe um amor duradouro e persistente que supera tudo, provavelmente derivado da criação de um vínculo familiar forte.
Miúdos criados com apego são miúdos felizes. Todas as crianças que conheço criadas com apego, incluindo os meus filhos, são crianças felizes. Viveram uma infância e primeira infância literalmente nos braços das pessoas mais importantes da sua vida, os pais. Foram inundados de amor e carinho. Atenção, afeto e a segurança de terem pais presentes são tão importantes como uma necessidade básica nas crianças. Uma criança criada com apego é bem nutrida de amor. O resultado é uma criança saudável e feliz.
Para nós, a criação com apego é o único caminho para a parentalidade. Os meus filhos estão longe de ser perfeitos. E eu fiz mais do que a minha conta de erros como mãe. Mas eu gosto das pessoas em que se tornaram. Gosto da sua essência.
Não sou, nem pretendo ser, uma especialista de parentalidade. Mas quando era uma mãe inexperiente não foram especialistas que me deram respostas às minhas dúvidas e preocupações. Foram outras mães – mães que me contaram como tinham feito, o que tinha resultado com elas.
A parentalidade com apego resultou connosco e com os nossos filhos. Por isso, se estás a ter dúvidas, relaxa. A parentalidade com apego por vezes é muito exigente, mas o tempo é curto e passa a voar, por isso aproveita. Estás a criar momentos inesquecíveis e miúdos incríveis.
Por Laura Hanby Hudgens para Huffingtonpost
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