A Maria vai cantar a solo no espetáculo de final de ano da sua escola. É um momento muito aguardado pela própria e pelos seus familiares. Ensaiou dias a fio com a professora de música, sabe cada parte da canção e a respetiva coreografia. Chegou o grande dia…entre espectadores atentos e curiosos, quando entra no palco sente um silêncio constrangedor, as suas pernas tremem e de imediato pensa que o melhor seria desistir, sair daquele espaço e correr, correr, correr sem parar, mas enche-se de força e resolve avançar. Segundos após terminar a sua atuação a plateia levanta-se, ouvem-se palmas. A Maria cruza o seu olhar com o dos seus pais, que de olhos brilhantes e sorriso rasgado aplaudem energeticamente o êxito da sua filha.
João estudou imenso para o teste de História, sente alguma dificuldade na aprendizagem dos conteúdos da disciplina, sabendo disso tem que redobrar o seu investimento. Os testes são entregues por ordem alfabética e João sente, à medida que o professor se dirige aos seus colegas, o bater do seu coração a intensificar-se. Quando recebe o seu teste, respira fundo, precisa de ganhar coragem para olhar para a classificação, não vale a pena propagar a sua ansiedade por mais tempo. Quando se enche de coragem, apercebe-se que do seu esforço resultou apenas um 9,4 numa escala de 0 a 20 valores. Sente-se frustrado e pensa que o seu esforço foi em vão.
Joana mudou recentemente de escola. Na antiga escola todos a conheciam pelo seu cabelo ruivo e pele sarapintada. Sentia-se única e especial pelas suas características, era assim que os seus colegas a faziam sentir. Nesta nova escola foi de imediato apelidada de “Pintarola” e todos os dias ouve comentários depreciativos dos seus novos colegas acerca das suas características. Cada dia que passa lhe custa mais ir para a nova escola.
Pedro trabalha há mais de 10 anos numa empresa na área da informática, colaborador dedicado, procura atualizar-se regularmente trazendo novas ideias e dinamismo para a sua equipa, faz o que gosta, dedica-se como se da sua própria empresa se tratasse. Na quinta-feira foi chamado ao gabinete do seu chefe, todos na empresa tinham uma impressão negativa acerca do superior. Pedro desconhecia o motivo de tal pedido, correu a sua memória vezes sem conta para encontrar um motivo que poderia ter desapontado o seu chefe, mas nada. No final da reunião, sentia-se bem consigo próprio e com uma maior vontade de trabalhar e fazer a diferença com o seu trabalho, o seu chefe chamou-o para lhe agradece toda a dedicação que tem mostrado ao longo dos anos, reconhecendo a importância de Pedro para o desenvolvimento da empresa.
Ao longo da nossa vida passamos por situações similares ou vivenciamos sentimentos idênticos aos da Maria, do João, da Joana e do Pedro. Da vivência destes momentos poderemos sair felizes e reforçados, cheios de sentimentos positivos acerca de nós próprios ou pelo contrário, poderemos sentir-nos em baixo, derrotados, considerando que não temos competências ou que tudo o que fazemos corre sempre mal. É do equilíbrio dinâmico entre as experiências e momentos positivos e negativos que ao longo das nossas vidas, com base nas relações vividas construímos a nossa auto-estima.
Todos nós já falámos ou ouvimos falar de auto-estima. É uma palavra presente na linguagem popular regularmente tratada nos media. No entanto, embora estejamos mais despertos para este conceito, reconhecendo a importância do mesmo para o bem-estar psicológico do ser humano, está longe de ser um conceito recente. O psicólogo William James foi o pioneiro nesta área e já em 1890 explicou que “ a auto-estima se situa no interior da pessoa e se define pela coesão entre as suas aspirações e os seus êxitos”.
Desde William James aos nossos dias são inúmeros os estudos sobre auto-estima. Com base nesses trabalhos científicos sabe-se que a auto-estima enriquece e modifica-se há medida das vivências e do desenvolvimento da personalidade do indivíduo, sofrendo alterações ao longo da vida.
Estudos demonstram também que a auto-estima ajuda a prevenir problemas de comportamento e de aprendizagem e protege da depressão, podendo ser vista como um factor de prevenção primário. Por outro lado, a falta de auto-estima considera-se um fator de risco para o consumo de drogas, condutas delinquentes, suicídio e problemas de stress.
Se a auto-estima é uma das bases fundamentais para o desenvolvimento infantil e simultaneamente causa e efeito de um crescimento saudável, certamente todos os pais gostariam de saber como contribuir da melhor forma possível para o desenvolvimento da auto-estima dos seus filhos. Tomo assim a liberdade de partilhar algumas noções e estratégias importantes para o desenvolvimento da auto-estima do seu filho.
Antes de mais é fundamental perceber que o que as crianças solicitam aos pais e adultos que cuidam de si é que reconheçam a sua existência e que reconheçam o seu valor. A auto-estima do seu filho nasce da relação de vinculação que ambos estabelecem. Enquanto criança, a noção que tem de si próprio é criada através das pessoas que o rodeiam.
Há inclusive autores que defendem que antes dos 7/8 anos não se pode falar de uma verdadeira auto-estima. A auto-estima implica a capacidade da criança elaborar juízos lógicos sobre si própria e para tal é necessário desenvolver um pensamento lógico. Antes dos 7/8 anos o pensamento da criança é ingénuo e egocêntrico, por isso os pais e adultos que cuidam são a porta para o desenvolvimento desta auto-estima.
É igualmente importante que os gestos positivos do seu filho sejam assinalados. Se facilmente repreende ou chama a atenção do seu filho quando tem um comportamento desajustado, não se deve esquecer que é fundamental reforçar os seus comportamentos positivos. É o reforço constante das conquistas que permite que o seu filho desenvolva as crenças positivas acerca de si próprio e quando se depara com uma situação problema, a sua voz vai soar na sua cabeça e recordará que perante determinada situação lhe disse “Vês, o importante é não desistires, vai haver o momento em que conseguirás”, “quando queres consegues ser mesmo bom”. Desta forma o seu filho enquanto criança, adolescente, jovem e adulto desenvolverá uma atitude positiva perante as adversidades da vida, procurando alternativas de resposta porque acredita em si.
Os pais têm ainda um papel fundamental em consciencializar o seu filho do seu valor. Há muitas pessoas que dão provas de grandes competências embora possam ter uma fraca auto-estima pois não têm consciência dessas competências. Não basta viver os êxitos se não se tem consciência deles.
Mas atenção, não podemos cair em excessos, o reforço positivo deve ser dado quando merecido, não é saudável, por mais que ame o seu filho reforçar positivamente cada passo que dê, se assim o fizer fará com que o seu filho desvalorize os constantes reforços ou então que os sobrevalorize considerando que é uma Super-Criança. É importante ensinar o seu filho que ninguém é igualmente competente em tudo o que empreende e desenvolver uma boa auto-estima significa ter consciência das suas forças e das suas dificuldades.
Por último, é importante ter em conta que para a criança ter êxito é fundamental que lhe proponha objetivos realistas.
Acredite que enquanto pai e mãe ou adulto cuidador, contribuir para que o seu filho tenha uma boa auto-estima é um dos maiores tesouros que este poderá levar consigo no seu dia-a –dia. Nesse tesouro estão todas as pedras preciosas que o ajudarão a enfrentar as dificuldades ao longo da sua vida, consciente do seu valor pessoal.
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A Horas de Sonho é um Negócio Social Sustentável (cooperativa de solidariedade social), que engloba diversos serviços de apoio à criança e à família, adequados aos diversos ciclos das suas vidas.
1 comentário
Fiquei na dúvida se a autora fala de auto-estima ou de auto-confiança!?