
Avaliações escolares ou Pedagogia Montessori
Quando comecei a pensar em pôr o meu filho na escola lembro-me de, rapidamente, me ter deparado com a questão do método de ensino que iria optar para a sua educação, pelo menos nos primeiros anos escolares.
Sendo eu da área artística, sempre achei que deveria encontrar um método onde identificasse as ideologias em que acredito, para que os miúdos cresçam a saber decidir por vontade própria e ter liberdade para pensar fora da caixa. Tudo este pensamento parece muito simples e coerente… não fosse aquele pequeno pormenor de que estou, assim, a decidir o futuro dos meus filhos, e quando se trata de “filhos” eu, como todas as mãe, tendo a ficar estupidamente criteriosa nas minhas escolhas.
Comecei por informar-me sobre metodologias alternativas, tais como, Waldorf, Montessori, Reggio Emilia, HighScope, Piaget e outros. Já conhecia algumas, outras nem por isso. Depois de pesquisar, de ler, de perguntar, comparar, e ponderar, com receio (para não dizer medo) de entregar a educação dos meus filhos a um método menos convencional, acabei por pô-los no ensino regular. Tal como eu andei. Achei que estava a tomar a decisão certa (ou pelo menos segura) regendo-me pelo que eu vivi e pelo que eu conheço. Obviamente que, o regime de ensino hoje em dia nada tem a ver com aquele que eu frequentei um dia. E, ainda por cima, as metas curriculares.
As metas curriculares e as avaliações escolares foram as minhas preocupações principais, pois achei que um dia quando saíssem do ensino regular tudo poderia tornar-se mais complicado. (Se calhar a complicação era só na minha cabeça…)
Enquanto mãe e educadora, preocupa-me o facto de poder ter tomado uma opção preguiçosa, e estar assim a condicionar o desenvolvimento dos meus filhos. Por isso procuro descobrir e desenvolver diferentes formas de lhes dar acompanhamento em casa, naquelas áreas que, acredito que sejam menos desenvolvidas na escola. Através da realização de actividades lúdicas e culturais, através da brincadeira, da liberdade, da exploração dos materiais, etc. Deixando que desenvolvam as suas áreas preferenciais, que no fundo serão os seus talentos e competências inatas e ocultas.
Há dias nesta minha expedição pelas metodologias alternativas descobri um texto que achei extremamente interessante. Foi escrito por uma aluna finalista de Portland, Kate, que frequentou escolas Montessori, e que com este artigo ganhou o prémio Gold key.
Conseguimos perceber o resultado de algo em que muitos educadores investem. Quanto a mim, vou continuar a desenvolver estratégias que os ensine a aprender pelo prazer da aprendizagem.
Deixo-vos para refletir.
“Lembro-me da primeira vez que ouvi aquela pergunta. O ano letivo tinha começado há duas ou três semanas, eu estava no secundário numa aula de ciências e alguém perguntou: “Isto vai sair no teste?” O meu primeiro pensamento foi: “O que é que isso interessa?” Até ao 2ºCiclo andei numa escola que seguia o método Montessori, onde os meus dias eram um mix de lições dadas pelo professor, e o trabalho que eu queria desenvolver. Não havia testes ou sequer notas. Ao invés de aprendermos conteúdos curriculares, ou de sermos preparados para alcançar determinadas metas, eu aprendi sobre temas que me interessavam. Eu estava ansiosa para chegar à secundária. Estava desejosa por ter trabalhos de casa, e acima de tudo de ter notas! Nessa altura pensar nisso era como um romance. Mas rapidamente o entusiasmo desapareceu: as notas não eram divertidas, mas sim preocupantes. Quando iniciei o secundário decidi que não ia tornar-me obcecada por notas. Sabia que eram importantes para entrar na faculdade, mas achei que se desse o meu melhor, e continuasse a aprender pelo aprender em si, que tudo correria bem. Isso resultou apenas no meu primeiro ano de caloiro. As aulas eram básicas e muitas vezes extremamente chatas e aborrecidas. Um dia de aulas não era nada cansativo, e o stress nesse meu primeiro ano foi causado por ter atividades extra curriculares a mais. A minha escola é extremamente competitiva, e tem uma reputação grande a nível de exigencia e rigor académico. Isso tem as suas vantagens. Ninguém sofre bullying por ser inteligente ou nerd. Mas também cria uma cultura de superioridade nos alunos. Eu ouço conversas dos meus colegas que passam noites em claro para terem melhores notas. Talentos, como artes ou desporto estão subvalorizados. A preocupação da maior parte dos estudantes do secundário, é a entrada para a faculdade. Lentamente eu senti-me a ser absorvida por este vortex de classificações, notas e candidaturas à universidade. Tenho uma amiga que, sempre que resolve fazer qualquer coisa de diferente pensa duas vezes se isso será benéfico para a sua candidatura. Quando os professores começam a ensinar para os testes e os alunos começam a aprender para os testes, e aqui, perde-se uma parte fundamental do processo. Um dos maiores elogios que recebi nos últimos dois anos foi relativamente à minha capacidade de resolver problemas, por procurar soluções através de diferentes ângulos. Quando os professores nos ensinam para nos para um teste, perdemos a oportunidade de explorar por nós mesmos. Nós ensinamos-lhes que há uma única resposta correta e que não há apenas uma maneira de chegar a uma solução. Nós desativamos a mente dos professores, pelo menos a parte que interroga e questiona. Eu preciso de saber como as coisas funcionam. Eu não fico contente quando me dizem apenas como tenho de fazer ou responder. Em vez de se concentrar num objetivo final, como um teste ou uma meta, o método Montessori baseia-se no trabalho realizado para alcançar determinado resultado. Eu sou capaz de resolver problemas de diferentes maneiras porque Montessori ensinou-me a pensar fora da caixa, e a fazer sempre o melhor que posso. Nunca foi importante o que tinha feito, desde que eu e os meus professores soubéssemos que estava a fazer o meu melhor, tendo consciência de que o melhor varia de pessoa para pessoa. Eu acredito que as crianças querem aprender, e que se lhes dermos as ferramentas certas, irão exceder todas as expectativas. Em vez de criar marcadores para todos os alunos e implementar testes padronizados que não medem a resolução de problemas, precisamos incutir uma cultura onde os desafios são valorizados. Recentemente ouvi um estudo onde colocaram crianças da China e crianças dos EUA a resolver um problema de matemática. O que os miúdos não sabiam, é que o problema não tinha resolução. A maioria dos alunos americanos parou de tentar resolver o exercício ao fim de um minuto. Os alunos chineses foram interrompidos ao fim de 1 hora, porque era a duração máxima deste estudo. Nos EUA o esforço não é grandemente valorizado. Nós valorizamos a inteligência, e vemos o esforço com um indicador de que um indivíduo é lento, porque a escola não é suposto ser difícil para uma pessoa capaz. Houve uma altura que eu tinha medo de ler em voz alta porque achava que se iam rir de mim cada vez que pronunciasse mal uma palavra. Este ano, tive uma disciplina extremamente desafiante para mim. O professor é conhecido por estragar as médias brilhantes dos alunos. Mas o paradoxo é que ele costuma dizer que as notas não interessam, e que adorava não ter de fazer avaliações. Agora, voltando à questão: “Isto vai sair no teste?” Quando os educadores nos ensinam que os resultados são o produto mais importante de uma experiência, não estão a ajudar-nos. Conforme crescemos, não teremos sempre alguém a dizer-nos quais as metas a atingir para sermos bem sucedidos. O aprender não para quando concluímos os estudos. E ainda bem porque aquilo que aprendemos até então é uma ínfima parte daquilo que temos capacidade de aprender. Ensinar para os testes dá aos alunos ferramentas para serem bem sucedidos nesse teste. Mas ensinar o prazer de aprender dá aos alunos ferramentas para quererem continuar a aprender até ao resto das suas vidas. Muitos pais com crianças em escolas Montessori, receiam que os seus filhos percam qualquer coisa pelo simples facto de não fazerem testes, e não serem avaliados. Acontece que a verdade é exatamente o oposto. Por não serem pressionados com testes e notas, estas crianças aprendem o prazer de aprender, algo que ficará com eles mesmo depois de esquecerem formulas matemáticas e das diferentes partes que compõem uma célula humana.”
Kate é uma Childpeace Montessori e Metro Montessori Middle School Alumni
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