Brincar

Brincar com os quatro elementos

Os Gregos descreviam os quatro elementos como ponto de partida para a compreensão do mundo e do ser humano. E a natureza oferece-nos diversas possibilidades de matérias/materiais que podem ser tocados, experienciados, e, consequentemente, permitem estimular os sentidos e as várias capacidades da criança.

A areia seca, a terra húmida, ramos, seixos, a água, ajudam-na a moldar bonecos, a criar canais e a edificar torres (que por sua vez permite vivenciar um processo arquitetónico), o calor que sente na praia solidifica o castelo que construiu na areia (ou fá-la perceber que tem de fugir do sol quente), as nuvens podem entretê-la durante as viagens…

Tudo isto soa bem, lugar-comum… mas o fato é que a tendência atual é a de levar os mais pequenos a brincar na rua apenas quando o tempo está “bom”. Assim que começam os primeiros pingos ou ar frio, ou porque achamos que se pode aborrecer, recolhemos.

E aqui reside uma enorme e perigosa limitação: se é no exterior que a criança experiencia os elementos e toma contato com desafios, como pode dar-lhes resposta se for resguardada em casa ou levada de volta à sala de aula, ou porque o tempo mudou ou porque há uma série de trabalhos a fazer?  

Fala-se cada vez mais na importância do brincar lá fora. Por quê? A chuva, a lama, o vento, a água, a areia, proporcionam desafios reais, cujo risco propicia oportunidades de crescimento. O risco ensina, tem consequências reais que nos torna mais cautelosos e criativos para lhe fazermos face. Além disso, tornam-nos mais conscientes de nós mesmos, dos outros e do ambiente que nos rodeia. Imagine-se uma criança para quem os desafios do brincar lá fora são apenas obstáculos a ser ultrapassados: em adulto terá provavelmente maior capacidade de resposta às intempéries da vida do que outra que foi privada de desafios e consequências na infância.

Nas grandes cidades obviamente é mais difícil relacionarmo-nos com os quatro elementos, até porque nesta cultura tecnológica em que vivemos a criança movimenta-se menos, e o seu corpo fica menos hábil. Mas ainda há parques, pequenos e grandes, praias e quintas com animais. E se a terra, os troncos e a água não chegarem para a brincadeira, há brinquedos que, pela sua qualidade, são também mais próximos da própria natureza da criança.

Brinquedos simples, de materiais ecológicos em vez de eletrónicos, podem potenciar os estímulos básicos da criança, ao invés de a limitar a um ecrã, que facilmente a faz esquecer-se do resto do mundo.

E se esses brinquedos puderem servir para o exterior e para casa, então é ouro sobre azul. É mais ecológico (do ponto de vista ambiental, económico e educacional) escolher brinquedos que não fiquem limitados à estação do ano: camiões que sirvam para brincar no quarto todo o ano, que carreguem areia da praia durante o Verão e depois possam ir ao parque levar as pedrinhas no Outono e Inverno. Ou um barquinho que sirva para tornar o banho mais divertido e na época balnear pode ser levado à praia. Ou um regador que para além de regar as plantas em casa pode refrescar na praia.

Portanto, faça chuva ou faça sol, e obviamente com as devidas adaptações seja ao nível do vestuário (com roupas de fibras naturais, em que a pele respira), do calçado (ténis flexíveis), da pele (com recurso ao protetor solar caso necessário) ou até da utilização de um playmat para o bebé estar sentado a brincar, é fundamental levarmos as nossas crianças a vivenciar o mundo lá fora. Crianças que brincam no exterior tornam-se mais aptas, criativas e positivas. Porque os desafios não as impedem de fazer novas coisas

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