Bullying em alunos com NEE (necessidades educativas especiais)
O bullying é um fenómeno preocupante, cada vez mais frequente no meio escolar. O bullying define-se como todos os comportamentos agressivos (físicos e/ou verbais) de intimidação, aplicados de forma regular e frequente, traduzindo-se em práticas violentas exercidas por um indivíduo ou por pequenos grupos (Costa, 1995).
Sabe-se que, os alunos com deficiência e/ou NEE, são menos aceites que os seus colegas, e são mais suscetíveis de sofrer de bullying, devido às suas limitações tanto físicas como mentais.
Habitualmente, os alunos com NEE que sofrem de bullying não o partilham com os adultos, contudo existem alguns sintomas presentes nas vítimas de bullying aos quais se poderá estar atento: enurese noturna, alterações do sono, cefaleia, desmaios, vómitos, paralisias, hiperventilação, queixas visuais, síndrome do cólon irritável, anorexia, bulimia, isolamento, tentativas de suicídio, irritabilidade, agressividade, ansiedade, perda de memória, depressão, pânico, relatos de medo, resistência em ir à escola, insegurança por estar na escola, mau rendimento escolar e autoagressão.
O conceito de Escola Inclusiva, tem como objetivo perspetivar a criança/adolescente como um tudo, ou seja, tendo em conta o seu ritmo de aprendizagem escolar, desenvolvimento pessoal, social e emocional, de forma a que também tenha acesso ao ensino, de acordo com a suas competências e capacidades (Correia, 2008).
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Apesar da redefinição do conceito de NEE com a Declaração de Salamanca e de se terem verificado benefícios para estes alunos, como a melhoria do seu comportamento pró-social, auto-estima, autoconceito e também o sucesso académico, têm-se verificado igualmente algumas barreiras na aplicação de uma Escola Inclusiva. Nomeadamente, a falta de competência dos professores em relação aos alunos com NEE, falta de tempo, valorização excessiva nos resultados académicos, falta de iniciativas de interações sociais e o bullying.
De acordo com a minha experiência profissional enquanto Psicóloga Clínica numa Equipa CRI, tenho vindo a constatar a frequência de fenómenos de bullying junto de alunos com NEE, e a sua influência nas relações interpessoais e aproveitamento/motivação escolares. São alunos com poucos recursos ao nível das competências sociais, pessoais e emocionais, tornando-se urgente o acompanhamento e/ou uma atuação preventiva, de forma a estimular o treino destas competências e torná-los mais autónomos e integrados socialmente. Tal poderá ser trabalhado através da aplicação de projetos de desenvolvimento de competências sociais, pessoais e emocional, ao nível individual e/ou grupal.
É importante que o meio escolar não tenha apenas como foco principal o aproveitamento escolar do aluno, mas também estar atento à sua conduta social e relacionamentos interpessoais, uma vez que o estabelecimento de amizades nos alunos com NEE, contribuem para o desenvolvimento interpessoal e emocional (auto-estima e auto-conceito).
O Bullying tem implicações não só em toda a comunidade escolar, como também nos alunos e seus familiares, neste sentido, torna-se essencial uma abordagem multidisciplinar, mobilizando todos os agentes educativos para uma resolução mais eficaz.
Os profissionais de saúde são agentes fundamentais, estes devem clarificar o impacto do bullying nas crianças/adolescentes e escolas, promovendo ambientes de amizade, respeito face à diversidade e de solidariedade.
Também os auxiliares de ação educativa e alunos, devem ser sensibilizados a supervisionar e intervir nas situações de bullying. Sendo conhecido os benefícios da amizade nos alunos NEE, é importante sensibilizar/estimular o aluno a estabelecer relações com um colega ou colegas com quem se sinta bem e aceite.
Para prevenção de futuros incidentes, podem ser trabalhadas junto dos alunos algumas estratégias como forma de proteção; Ignorar os apelidos; fazer amizades com colegas não agressivos; evitar locais de maior risco; informar professores ou funcionários sobre o bullying sofrido.
Por último, podem ser aplicadas técnicas de dramatização e ou grupos de apoio, para os alunos adquiram estratégias para lidar com as diferentes situações.
A Escola Inclusiva não deve apenas ser visto como um conceito ou utopia, é importante que seja trabalhada continuamente e concretizada. O bullying apresenta-se como uma das suas principais barreiras pelo que deverão ser tomadas medidas urgentes de forma a prevenir, eliminar ou diminuir a sua frequência. Tornemos a escola um espaço saudável e seguro, que aceite e se adapte a todas as diferenças contribuindo para o desenvolvimento de futuros cidadãos, responsáveis e autónomos.
Por Telma Santos, Psicóloga Clínica, para Up To Kids®
A Horas de Sonho é um Negócio Social Sustentável (cooperativa de solidariedade social), que engloba diversos serviços de apoio à criança e à família, adequados aos diversos ciclos das suas vidas.
3 comentários
O meu filho é asperger, tem 8 anos,na sua turma ninguém excepto a professora fala com ele durante o dia. Ele era super meigo, agora anda extremamente irritável, qualquer coisa e chora. Osmpais dos outros meninos criaram um watsup onde comentam as birras dele na aula, e pelo que me parece incentivam os filhos a não se aproximarem dele.Nunca é convidado para participar em brincadeiras no recreio, passa todo esse tempo sozinho. Já falamos com a escola, mas parece que é muito difícil criarem jogos entre ele e os 9 colegas da aula. Da muito trabalho.
Inclusão?? Mentalidade de pais Doutores, Doutoras e Engenheiros?
As atitudes dizem tudo.
Enquanto isso vejo o meu filho a mudar a personalidade por causa destas mentalidades….
Infelizmente o caminho para a mudança das mentalidades é longo e ainda estamos longe doa meta. Já experimentou interagir com esses pais para expor o caso do seu filho?
Que tema tao atual! Onde se podem estudar “projetos de desenvolvimento de competencias sociais, pessoais e emocionais”, como referido no texto? Obrigada