Cá em casa não deixamos o bebé a chorar
Eu decidi escrever este texto há uns dias atrás quando uma amiga que está grávida me falou entusiasmada de um destes métodos. Seria qualquer coisa deste tipo: de cada vez que o bebé chorasse, dever-se-ia aumentar o tempo de resposta e gradualmente o bebé deixaria de chorar “sem razão” e aprenderia a autocontrolar-se.
E porque é que não concordo com isto?
Em primeiro, porque não acredito que um bebé chore sem razão.
O choro é a sua forma de nos comunicar as suas necessidades, por vezes, depois de já ter tentado fazê-lo através de outros sinais, sem ter sido compreendido ou correspondido. E, por necessidades entenda-se fome, fralda suja, sono, ou qualquer outra coisa (igualmente importante) de que sinta falta ou que o esteja a incomodar.
Quantas vezes a minha bebé chora com verdadeiras lágrimas a escorrerem-lhe pela cara, parando de imediato e substituindo-as por um rasgado sorriso quando a seguro ao colo? Algumas! Chorava sem razão? Não! Chorava porque sentia saudades do meu abraço, ou queria sentir o meu calor, ou estava farta de estar na espreguiçadeira e queria ver o mundo da minha perspetiva, ou porque tinha uma dor qualquer que desapareceu quando se distraiu, ou porque… Enfim, na maior parte dos casos não o saberei. Mas sei que alguma coisa foi e, mesmo que a mim não me pareça importante, para ela sê-lo-á certamente e merece ser respeitado.
Em segundo lugar, não acredito que um bebé aprenda a autocontrolar-se.
Acredito que deixe de chorar por cansaço e para não despender mais energia num comportamento que não está a ter resposta.
No caso especifico da minha bebé, se não houver resposta ao seu choro, este tem tendência a aumentar. Penso que com os outros bebés seja semelhante. Para um método desses resultar, creio que será necessário muito sofrimento da parte do bebé.
Imaginem-se na pele de um bebé. Desconfortáveis, e sem saber quanto tempo esse mal estar poderá durar. Ou até se será para sempre. Estar dependente de outra pessoa para tudo deve ser terrível!
Então mas a minha bebé nunca chora?
Isso era o sonho de qualquer pai (ou vendo bem, talvez não, pois seria sinónimo de que algo não estava bem na capacidade de comunicação do bebé)… Chora.
E eu consigo sempre evitar que o faça?
Não. Há situações, em que pela força das circunstâncias, é inevitável.
Se a coloco no ovinho e não vou logo para a rua, chora. Contudo, eu tenho de fazer aquelas coisas necessárias antes de sair de casa, que não me são possíveis com ela ao colo.
Se estamos a jantar e ela chora, comemos num ápice, levantamo-nos à vez para tentar distraí-la, mas ainda assim durante esses instantes ela chora. Estou desejosa que se possa sentar numa cadeira da papa para nos acompanhar nas refeições, pois esta é uma situação muito recorrente…
Quando lhe coloco a fralda, às vezes, ela sente-se incomodada e chora. Mas eu não posso, ou pelo menos ainda não me convém, deixá-la andar de rabo ao léu!
Acredito que respondendo às suas necessidades, estou a criar uma criança mais confiante.
Confiante na sua forma de comunicar com os outros, e se for compreendida antes do choro tanto melhor, o que terá impacto na forma como estabelecerá relações. Confiante no mundo que a rodeia, sentindo-o como um lugar bom, o que terá repercussões na sua curiosidade e capacidade para atuar sobre ele…
E uma criança confiante tem já meio caminho percorrido para ser uma criança feliz! Não é isso que todos queremos?
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3 comentários
Podia ter sido eu a escrever isto…obrigada…
Ainda não sou mãe, mas fico passada com essa história do “temos de os deixar chorar” ou “não os podemos habituar ao colo porque ficam com manhas”… Cada mãe tem a sua opinião e aprendi a respeitá-la, por isso calo-me e reduzo-me à minha insignificância, mas que fico doida quando me dizem isto e deixam a criança a chorar, ah fico! Como se um bebé que nem segurar a cabeça consegue, tivesse a capacidade de manipular um adulto… enfim. Bom texto!
Não poderia estar mais de acordo com este texto. Também defendo que os bebés nunca choram sem razão e jamais deixaria a minha menina chorar até à exaustão.