Cada criança é única
O manifesto de mãe/pai:
No futuro vamos nos agradecer por hoje as vermos como únicas. Por lhes darmos liberdade para serem quem são. Por não as prendermos ao mesmo lugar pelos nossos medos, por as deixarmos ir em frente com a sua coragem. Por todos os ensinamentos que elas nos deram e que iluminam o nosso caminho como uma pequena lamparina.
Por a cada muralha que a criança levanta à nossa frente, por cada voltar de costas, por cada careta, por cada palavra menos amiga, que tenhamos a humildade de agradecer e aceitar a sua revolução de quem não quer ser encaixada num perfil. De quem não quer ser etiquetada com um rótulo ou encaixada num diagnóstico.
Gritam-nos, muitas vezes, para mostrar que não gostam de ser comparadas.
Que não vivem para ser humilhadas, nem inferiorizadas, mas sim para serem amadas, abraçadas, acarinhadas e escutadas. Se nos é pedido a nossa presença, o nosso ombro e o nosso colo, todos eles gratuitos, o que nos leva a confiar mais nas teorias e tabelas do que a própria criança que está ali a nossa frente?
A criança não pede aquilo que ela não quer.
Somos muitas vezes invadidos por uma onda de medo de que se vão magoar e que vai doer. Se vai doer, se vão existir obstáculos, se vão cair várias vezes sem conta, isso é uma certeza e a nossa mão não estará lá sempre para as agarrar. Apenas estará a certeza de que a força imensa nos seus corações de guerreiras as vão ajudar a continuar.
Vamos perder o controlo a qualquer instante sobre as suas vidas (se é que alguma vez controlamos!). E conseguimos ver isso quando de pontas dos pés elas começam a sair da proteção das nossas asas. Confiemos! Confiemos que as nossas asas deram-lhes tudo o que precisavam para agora.
E é normal. Temos muito receio que não se encaixem nos padrões da sociedade. Que não saibam lidar com as críticas e os julgamentos, quando na verdade somos nós que não sabemos. Que fiquem abaixo no ranking que ninguém se vai lembrar anos mais tarde, nem mesmo no 15º encontro de antigos de alunos.
Não dá para encaixar um quadrado num triângulo nem num círculo.
Cada criança tem a sua forma. A particularidade no seu olhar leva a um mundo tão mais sereno e real do que aquele que vemos e isso assusta-nos. O sentir em cada célula o ar que a circunda e que lhe toca na pele torna a criança mestre dos seus limites. O ouvir de cada nota e dançar a melodia dá-lhe o sabor da vida, distinguindo o que lhe dá paz no coração e o que cria trovoadas na sua cabeça.
Cada criança é mesmo única. Sem um padrão. Sem lista de estratégias. Sem plano de combate. Sem diagnóstico, que lhe permite dar o que ela precisa. Na verdade, ela apenas precisa de um vínculo seguro, um vínculo emocionalmente presente, que é construído e reparado gentilmente sempre que precisa de ser cuidado.
Sempre senti em mim a coragem de ajudar o próximo. Sentia que o caminho começava por mim, enquanto pessoa e como terapeuta e rapidamente percebi que esse caminho é para a vida toda.