Cada vez mais fartinha de Mães

Calma, não me entendam mal. Gosto de vocês, gosto de nós. Somos umas leoas, queremos o melhor para os nossos filhos, adoramos este mundo e queremos partilhá-lo com todos, mas convenhamos: somos muito chatinhas. E mázinhas. Temos poucos filtros, como se nos pudéssemos escudar no nosso papel e na nossa experiência para dizer o que os outros devem fazer, sem pensar nas consequências.
Faço parte de alguns grupos de Mães no Facebook. Adoro, super úteis, com pessoas impecáveis, gente que se dá ao trabalho de responder a dezenas de publicações só para ajudar outras mães. É ali que se vê o espírito de entreajuda que nos une. As Mães têm um coração grande.
Mas é ali que se vê também muito cinismo. Muitos comentários desajustados, a armar ao pingarelho. Há temas que, regra geral, dão cocó: amamentação/leite adaptado, o sono do bebé e o “deixar chorar”, o cosleeping, ir ou não para a praia com bebés… Numa publicação em que a mãe pede conselhos para alhos (alho x ou alho y?), respondem “mas olha que bugalhos é muito melhor”. Se fazem uma pergunta sobre leites de fórmula para o bebé, surgem sempre comentários que visam a opção da mãe em não amamentar, pouco inteligentes na forma de abordagem e muitas vezes despropositados. Partimos do princípio que a pessoa não está informada, podendo estar a mexer na ferida de uma opção difícil, mas a dela. Depois, já vi pessoas a pedir ajuda para as assaduras dos bebés e é o “Ai jesus, um rabo, não há noção nenhuma, publica-se tudo.” Ou “não devia ter deixado chegar a esse estado.” Julgamos demasiado. Às vezes queremos ajudar, com a nossa experiência, mas não temos tacto. Calçamos muito pouco os sapatos dos outros. 
Às vezes receio que o façamos por aqui, no nosso cantinho. A casa é nossa, verdade, só cá vem quem quiser entrar, as portas estão escancaradas, não temos tabus, somos genuínas, temos opiniões, mas corremos o risco de magoar alguém com elas. Têm o direito a chatearem-se, claro. A dizer que não concordam. Temos muitas coisas em comum, mas temos sensibilidades diferentes, gostos diferentes, vidas e experiências diferentes. Acho que é com essa pluralidade que saímos todas a ganhar. Mas… é sempre um risco. Não se deixem magoar: são só palavras. Faço esse exercício, quando nos dizem coisas feias, aqui no blogue. São só palavras. E às vezes não lemos o que lá está, lemos o que a nossa lente quer ler ou consegue alcançar. Às vezes também levamos tudo demasiado a sério e perdemos o sentido de humor. Arrrr… hormonas.

Mães, mães: esses seres fantásticos e tão “especiais“, em todos os sentidos!E não, não estou fartinha de Mães. Só dos filtros que vamos perdendo e que, às vezes, nos ajudam a conviver com sanidade. Sejam bem-vindas, mães que dormem com os filhos até aos 30 anos, mães que põem os filhos nos quartos ao terceiro dia, mães que amamentam, mães que não o fazem, mães que não gostam, mães que gostariam, mas não conseguiram, mães que amamentam em público, mães que não o fazem, mães que beijam os filhos nos lábios, mães que vão de férias sem os filhos, mães que levam os filhos para todo o lado, mães que tomam banho com os filhos, mães que nem pensar!, mães que lhes dão comida aos 4 meses, mães que esperam pelos 6, mães que trabalham fora de casa, mães que se dedicam a 100% aos filhos, mães que são todas fit, mães que pesam mais 20 kgs do que gostariam, mães que põem os filhos na creche, mães que os deixam com as avós ou com amas… E por aí fora. São as opções de cada uma. Somos todas Mães. Exercício: tentar compreender mais. Julgar menos.

Publicado originalmente em A mãe é que sabe.
imagem@motherHoodofficialvideo

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