Carta aberta às mães de crianças sem alergias alimentares

Carta aberta às mães de crianças sem alergias alimentares

Queridas mães de crianças sem alergias alimentares,

Eu, que não me recordo de alguma vez ter invejado alguém (excluindo, talvez, a primeira menina da minha rua a ter a Bota Botilde), dou por mim a sentir um bocadinho de inveja vossa.

Gostava de, tal como vós, ter o à vontade para entrar em qualquer restaurante e sentar-me, descontraidamente, a saborear uma refeição com a minha família.

Gostava de, depois de um dia extenuante de trabalho, poder comprar uma refeição já feita e não ter de ir directa para o fogão (sem passar pela casa de partida!). Adorava que uma refeição fosse somente isso mesmo e não tivesse de estar, constantemente, com o “radar ligado”.

Adorava ir de férias sem a despensa atrás e ter de, invariavelmente, cozinhar todos os dias (ainda que de biquini).

Tal como vocês, quando o meu filho tosse ou lhe aparecem umas borbulhas, gostava apenas de constatar: “está com tosse” ou “apareceram-lhe umas borbulhas” e não listar mentalmente tudo o que ele comeu/contactou nas últimas horas/dias e ficar na dúvida se aquilo se trata, ou não, de uma reacção alérgica.

Quando recebo convites para as festas de aniversário dos vossos filhos fico sem pinga de sangue, mas não é porque esteja a pensar no presente que terei de comprar ou porque seja anti-social (bem, talvez só um bocadinho). Na verdade, uma festa de aniversário infantil é a mais radical das experiências para mim. Numa mesa onde há cupcakes, cake-pops, guloseimas variadas e bolos de toda a espécie, eu vejo cianeto, arsénico, antrax… não é uma visão lá muito festiva pois não? E se há azar?

Dirão que estou sempre a falar no mesmo. Sim, é verdade. Estou sempre a falar no mesmo, mas, se o faço, é porque conto convosco para me ajudarem a manter o meu filho em segurança. Se vissem uma criança lançar-se a uma movimentada estrada tratariam de a impedir, não é? As consequências poderiam ser terríveis. Aqui, passa-se exactamente o mesmo.

Por último, mas não menos importante, quero que saibam que isto não é uma escolha nossa, não é uma moda, não é uma dieta de exclusão maluca que nos lembrámos de fazer.

É uma condição clínica, potencialmente mortal.

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