Começa a época do… consumismo!
Está em todo o lado: quem tem crianças dificilmente conseguirá escapar ao bombardeamento que começou há umas semanas. São bonecas de todos os tipos, peluches, carrinhos telecomandados, drones, jogos interactivos, maletas para miniaturas, pistas para carros, bonecada que já se vendia no meu tempo de miúda e outras completamente inovadoras… e a lista não tem fim.
É difícil para uma criança exposta a este tipo de mensagem filtrar a informação que recebe, mas cabe aos pais gerir a forma como ela a processa.
Temos por hábito incitar a que as crianças escrevam uma carta ao Pai Natal ou façam uma lista ao menino Jesus. Ora bem, sejamos sinceros, o menino Jesus recebeu ouro, incenso e mirra que eram apenas simbólicos. Tal como os presentes que damos e recebemos deveriam ser. Uma lista é logo um mau princípio.
Sou da opinião que os miúdos deviam pedir UMA coisa que gostassem muito de receber. (Cá por casa já trabalhamos o gostar em vez de querer: “gostava de fazer isto” em vez de “quero fazer isto” e o mesmo vale para o verbo ter). Fazê-los criar uma lista dá-lhes a ilusão que devem receber tudo o que pedem. E que devem pedir bastantes coisas. Ninguém precisa de muitos brinquedos e, definitivamente, as crianças não precisam de muita quantidade para serem felizes. Se se focarem em pensar naquela coisa que os deixaria mesmo satisfeitos e com que irão decididamente brincar, então a felicidade de a receberem (se o pedido for realista, claro) será muito maior que abrir presente atrás de presente.
A minha filha fez anos há três meses e tenho um saco gigante com brinquedos que lhe ofereceram e que ainda não lhe dei para brincar. Porquê? Porque recebeu mais brinquedos num dia do que algumas crianças recebem durante toda a infância. Porque se lhos tivesse dado de imediato ficaria perdida no meio de tanto estímulo e depressa perderia o interesse. Vou dando durante o ano para que ela aprecie o que recebe. E acreditem quando vos digo que os presentes que recebeu no Natal chegaram quase ao aniversário, que é em Agosto.
Não sou uma defensora de uma infância sem brinquedos. Defendo, isso sim, uma infância para além dos brinquedos.
Nesta época acho importante ensinar os nossos filhos a olhar em volta. A selecionarem quais os brinquedos com que já não brincam, que já estão desadequados à sua idade. Para os darem a quem não os pode ter sem ser através de doações solidárias. Isto ensina-os a conhecerem a realidade à sua volta, a importância de partilhar, de dar sem esperar receber, de quando se tem mais ser capaz de olhar para quem tem menos, de serem solidários.
Por outro lado também acho importante envolve-los nos presentes de Natal da família. Fazer doces ou compotas e decorar os frascos e as tampas, pintar molduras feitas de molas para oferecer com os seus retratos, desenhar as etiquetas que vão ser postas nos presentes, elaborarem os postais. Porque o Natal é isto mesmo, é a entrega ao próximo, é o fazer sentir o outro que nos lembrámos dele e não apenas que gastámos dinheiro com ele.
Natal, mais do que tudo, é estar. Partilhar momentos, afectos, memórias. Os presentes são o bónus.
Se ensinarmos os nossos filhos a crescerem menos consumistas e mais afectuosos teremos um mundo melhor, sem a menor dúvida.
Ainda falta algum tempo para o Natal, por isso não há desculpa para não pensar no assunto e perceber se é importante mudar alguma coisa.
Cá por casa, vamos tentando.
E tentar já é meio caminho andado.
Saiba quais são as 8 principais razões para se livrar do excesso de brinquedos!
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!