Por ocasião do Dia Mundial da Alimentação, que se assinalou há umas semanas com iniciativas de ordem variada, dei por mim a pensar o quanto mudou a alimentação da minha família, após o diagnóstico da alergia alimentar do meu filho.
As mudanças começaram pela óbvia supressão do alergénio: a proteína do leite de vaca, neste caso. Eu fui a primeira a adoptá-la, pois à altura do diagnóstico ainda amamentava e tive de fazer a evicção como se eu também fosse alérgica.
Creio que ao longo do processo a maior mudança sucedeu, justament, ao nível da nossa relação com os alimentos, bem como, ao nível das experiências a eles associadas.
Do plano “isto faz bem/faz mal” mais ou menos comum a todas as famílias, passámos a escrutinar todos os rótulos e a dominar a, por vezes hermética, linguagem dos mesmos. Aos poucos, começámos a “tratar por tu” a caseína, a lactoalbumina, a lactoglobulina e afins – ainda que os seus nomes complexos remetessem para uma certa formalidade. Este escrutínio dos rótulos (incluindo os dos produtos não alimentares), passou do plano “vamos lá ver se isto tem proteína do leite”, para um outro ainda mais detalhado e, creio, foi neste ponto que sucedeu a grande mudança. Começámos a determo-nos nos gramas absurdos de açúcares e gorduras de certos produtos, na quantidade preocupante de corantes, aromatizantes e conservantes e a reflectir, seriamente, sobre aquilo que andamos a comer.
Citando George Orwell, “Ver aquilo que temos à frente do nariz, requer uma luta constante”.
No caso da alimentação, não poderia ser mais verdade.
Por Marlene Pequenão, Autora do blogue Copinho de Leite
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