Comportamento Borderline em crianças
O transtorno de personalidade borderline (TPB) é mais frequentemente associado a adultos, mas a sua manifestação em crianças é um tema de interesse e preocupação crescente não só para pais mas também para os profissionais de saúde mental.
Identificar e compreender os sinais de comportamento borderline em crianças é crucial para fornecer o apoio necessário à família e ajudar no desenvolvimento saudável da criança.
O que é Comportamento Borderline em crianças?
O comportamento borderline em crianças pode ser definido por uma gama de características que refletem uma instabilidade emocional significativa, padrões intensos e impulsividade. A maioria das crianças pode exibir comportamentos impulsivos e emocionalmente instáveis em situações pontuais e específicas. Mas as crianças com comportamento borderline, apresentam traços persistentes e prejudiciais ao seu bem-estar e funcionamento social e emocional.
“Em crianças, o transtorno caracteriza-se por uma insatisfação contínua com tudo. A criança oscila muito de humor, tem uma tendência maior a fazer birra sem motivos aparentes, eventualmente tem certa agressividade e irritabilidade. Elas possuem um complexo de se sentirem injustiçadas e incompreendidas muito forte. Também vale ressaltar que elas insistem em ter razão nas suas justificativas, em seus argumentos”, relata o psiquiatra e psicoterapeuta Wimer Bottura Júnior.
Sinais de Comportamento Borderline em Crianças:
1. Instabilidade Emocional
As crianças com comportamento borderline apresentam mudanças de humor intensas e frequentes, passando de momentos de extrema felicidade para profunda tristeza ou raiva em curtos períodos de tempo.
2. Relacionamentos Intensos e Instáveis
Estas crianças tendem a alternar entre idealizar e demonizar pessoas significativas nas suas vidas tais como os pais, irmãos ou amigos. Estas relações podem ser marcados por mudanças dramáticas na perceção da criança relativamente à outra pessoa, levando a conflitos e instabilidade geral.
3. Impulsividade
Crianças com comportamentos impulsivos, como por exemplo gastar dinheiro de maneira irresponsável, envolver-se em comportamentos de risco ou ter explosões de raiva incontroláveis.
4. Medo do Abandono
O medo intenso de serem abandonadas ou rejeitadas pode levar a comportamentos desesperados de procura de atenção e aprovação.
5. Autoimagem Instável
Estas crianças podem ter uma autoimagem instável, oscilando entre uma visão idealizada e/ou depreciativa de si próprias. Têm dificuldade em manter uma visão consistente e positiva da sua pessoa.
Desafios de lidar com o Comportamento Borderline em Crianças:
- Dificuldade em estabelecer limites e disciplina eficazmente devido à intensidade das emoções da criança;
- Sensação de exaustão emocional devido à imprevisibilidade do comportamento da criança;
- Luta para manter relacionamentos familiares estáveis e saudáveis devido aos altos e baixos emocionais da criança;
- Preocupações com o bem-estar emocional e mental futuro da criança.
Estratégias de Apoio:
1. Calma, muita calma
É importante manter a calma durante uma crise emocional da criança. Se o adulto também se tornar agitado ou stressado, poderá intensificar a situação. Respire fundo e tente transmitir uma sensação de tranquilidade à criança.
2. Empatia e Validade Seus Sentimentos
Mostre à criança que entende o que está a sentir e que os seus sentimentos são válidos. Use frases como por exemplo: “Percebo que estejas triste, com raiva, assustado, etc., e é natural sentires-te assim.”
3. Forneça um Espaço Seguro
Quando a criança está sobrecarregada de sentimentos muito fortes e não consegue gerir, dê-lhe a opção de se retirar para um espaço tranquilo e seguro, onde se possa acalmar. Certifique-se de que esse espaço é acolhedor e confortável.
4. Use Técnicas de Regulação Emocional
Ensine à criança técnicas de regulação emocional, como respiração profunda, contar até dez, ou imaginar um lugar calmo e seguro. Isto ajudará a criança a lidar com os sentimentos mais intensos de forma construtiva. Pratiquem regularmente estas técnicas juntos.
5. Estabeleça Rotinas e Limites Claros
Rotinas estruturadas e limites claros são essenciais para as crianças. As regras ajudam as crianças a sentir-se seguras e a previsibilidade das rotinas dá-lhes estabilidade.
Durante uma crise, é importante estabelecer limites firmes, mas gentis. Por exemplo, pode dizer: “Eu entendo estejas chateado, mas não é seguro atirares objetos. Vamos encontrar uma maneira mais segura de lidar com esta situação juntos.”
6. Evite Julgamentos ou Críticas
Evite julgar ou criticar a criança durante uma crise emocional. Foque-se em oferecer apoio e orientação positiva.
7. Promova a Comunicação Aberta
Depois da crise passar, encoraje a criança a falar sobre o que aconteceu e a forma como se sente. Promova uma comunicação aberta e honesta, e esteja disposto a ouvir sem julgamento.
8. Procure ajuda Profissional
Se acredita que o seu filho tem comportamentos borderline, é fundamental que seja avaliado por um profissional de saúde mental qualificado. Só assim poderá (ou não) diagnosticar o problema e desenvolver um plano de tratamento adequado.
9. Cuide do seu bem-estar
Não se esqueça de cuidar do seu próprio bem-estar emocional e mental enquanto cuida de uma criança com comportamento borderline. Procure também apoio dessa rede/estrutura de amigos, familiares ou profissionais que o rodeiam.
10. Crie uma rede de apoio saudável à vossa volta
Construa uma estrutura de apoio estável na vida da criança não só com a família, mas com amigos, professores, treinadores etc, para que desenvolva skils de relacionamento saudáveis e se sinta envolvida nessa estrutura que a ama.
A importancia de envolver a escola num diagnóstico de comportamento bordeline
Já falamos na importancia da rede/estrutura de apoio à crianças e família, estando nesta rede incluindo, obviamente, a escola.
Educadores e professores informados sobre as necessidades específicas da criança podem implementar estratégias eficazes para lidar com os eventuais desafios comportamentais e emocionais que surjam, promovendo o bem-estar académico e emocional da criança.
Juntos, os pais e os educadores/professores podem criar um ambiente que promova a compreensão, aceitação e inclusão. Por outro lado, oo estabelecer uma colaboração eficaz entre casa e escola, os pais podem sentir-se mais apoiados e capacitados para enfrentar os desafios que surgem ao cuidar de uma criança com Transtorno Borderline.
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