Crianças transgénero. Uma palavra que nos assusta, seja pela estranheza, seja pela conotação muitas vezes dada. Crianças transgénero são crianças cujo expressão ou identidade de género é diferente da esperada tendo em conta o seu sexo biológico.
Falamos de crianças transgénero, por exemplo, quando uma criança rapaz brinca com bonecas, gosta de se vestir com vestidos ou prefere praticar ballet. Muitos cuidadores não veem (e bem) nisto qualquer problema em termos de desenvolvimento. Outros ficam assustados, com receio de que seja um indicador da orientação sexual dos filhos. No raciocínio de que “quer vestir vestidos e ir para o ballet? É gay”, reprimem os filhos, ensinando-lhes que é “errado” comportarem-se assim (muito baseado no pressuposto infeliz de que “ser gay é mau e/ou inferior”, (o que dará matéria para outro artigo).
Com efeito, a literatura indica-nos que o principal grupo que inflige maus tratos às crianças é o familiar, principalmente familiares mais próximos. Acontece que, muitas vezes, os cuidadores não estão preparadas para aceitar a expressão ou identidade de género não normativa dos seus filhos, o que pode desencadear, por um lado, sentimentos de culpabilização dos pais e conflitos no sistema conjugal (caso um dos pais integre mais facilmente estas questões) ou, por outro, rejeição do membro da família que seja transgénero.
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Desfazendo a primeira confusão, criada com base nos estereótipos existentes: a orientação sexual é independente da expressão/identidade de género. Isto significa, por exemplo, que um rapaz gostar de vestir saias em nada indica qual é a sua orientação sexual. Impedi-lo de se expressar porque “é isto que os meninos/meninas fazem são” apenas o vai tornar mais triste e ensinar-lhe que é errado ser quem ele é.
A importância da família, enquanto instituição social responsável pela transmissão de competências sociais e morais às crianças e aos jovens, é inquestionável. Deste modo, uma comunicação efetiva no âmbito de uma relação positiva é essencial para a promoção de práticas parentais mais adaptativas. No que concerne a vivência de questões de expressão e identidade de género, estudos sugerem que tem um impacto significativo no desenvolvimento destas crianças e jovens, nomeadamente no seu ajustamento psicológico, perceção de suporte e envolvimento no meio social.
Para pais que possam ter dúvidas ou sejam curiosos, deixo-vos dois artigos interessantes de ler, um com testemunhos na primeira pessoa e um outro com alguns dos principais mitos sobre estas questões de género.
Andreia Pires Pereira, Psicóloga Clínica da Horas de Sonho, apoio à criança e à família,
para Up To Kids®
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A Horas de Sonho é um Negócio Social Sustentável (cooperativa de solidariedade social), que engloba diversos serviços de apoio à criança e à família, adequados aos diversos ciclos das suas vidas.