
Crianças sem escola. Por que motivo ninguém faz nada?
Crianças sem escola. Por que motivo ninguém faz nada?
Passou mais de um mês do primeiro dia de aulas e há ainda crianças sem professores a várias disciplinas. E há crianças sem educadores nas salas e que ainda não podem ir à escola. São crianças sem escola.
Falo de um caso que me é próximo, no pré-escolar, crianças de cinco anos que não podem ser recebidas na escola porque a educadora tem vindo a apresentar baixas quinzenais que são actualizadas umas a seguir às outras. E a escola não tem capacidade para criar uma alternativa, uma forma de as crianças serem recebidas e acolhidas numa outra sala, sob pena de sobrecarregar os restantes alunos, cujas salas tudo funciona como deveria.
A minha sobrinha, que é de quem falo, tem a possibilidade de ser recebida no espaço onde faz o ATL e é aí que tem passado os seus dias: com educadoras, a fazer as atividades que faria na escola (pública, mas cujo serviço público deixa a desejar), com amigos do ano passado, num espaço a que chama casa. O preço? É pago pelos pais, no caso monetariamente.
Mas e quem não tem esta alternativa?
Quem, em seu devido direito, tem como ATL o “oferecido” (paga-se por ele…) pela escola? Onde estão estas crianças? Com quem são deixadas? Por que motivo ninguém faz nada que mude esta situação?
Numa época em que os horários de trabalho são muito pouco “family oriented”, em que os avós trabalham até cada vez mais tarde, as crianças têm na escola a sua segunda casa. E esta segunda casa deveria ser tão capaz de as receber como a primeira.
Este caso acontece na escola pública, em que a burocracia impede que haja substituições imediata de educadores e auxiliares, em que quem fica penalizado é indubitavelmente a criança. E entristece-me pensar no stress que estas têm de ultrapassar quando tudo deveria estar nos conformes. Porque os pais têm de cumprir prazos, regras, entregar mil e setecentos documentos para os seus filhos poderem frequentar a escola pública, para terem uma vaga/colocação.
O mínimo que se exige é que em troca as crianças possam frequentar a escola.
Os impostos que pagamos deveriam garantir isso (e a escola pública deveria ser gratuita desde a creche – eu disse creche, essa figura que não existe na rede pública…), os milhares de professores sem colocação, os educadores de infância que não têm vagas (não que não existam, mas que a burocracia impede que sejam por eles preenchidos) deveriam ter oportunidade de trabalhar e as crianças têm o direito à educação.
Este direito é básico e em Portugal ainda não é cumprido completamente.
Tenho uma grande admiração pelo trabalho desenvolvido na escola pública, sei das dificuldades, sei das condições. Sei dos profissionais competentes que existem, dos alunos bem formados, da importância da formação. Sei também que o caso da minha sobrinha, felizmente, não é regra. Que há escolas em que isto não acontece nem nunca aconteceu, em que tudo corre como é suposto desde sempre. É como em tudo, há casos e casos, mas acho importante falar-se das excepções.
Porque nas excepções estão também as crianças que serão o nosso futuro. E todas deveriam ter as mesmas oportunidades.
Lutemos por isso.
É do futuro das nossas crianças que falamos.
Do nosso país.
Da nossa herança.
imagem@weheartit
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Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!