
Criar com o coração é ancorar, é conectar com as crianças.
Criar com o coração
A mente que se abre a uma nova ideia jamais regressa ao seu tamanho original.
Se há seres que vêm para nos transformar, para expandir a nossa percepção, são as crianças. As crianças como um todo. E cada uma delas. Individualmente.
Se conseguimos entender, se estamos dispostos a aceitar que assim é, isso já é um desfio diferente. No entanto isso não anula esta verdade. As crianças são catalisadores de expansão. Todas elas e cada uma individualmente.
Mas para que possam fazer bem o seu trabalho, precisam de ter ao seu lado adultos conscientes, que os aceitem. Que os respeitem. Que mesmo que não consigam entender na totalidade a forma como se expressam, a forma como sentem ou vivem, consigam nutrir e acompanhar partindo do ponto mais importante. Da raiz fundamental.
Ficamos frustrados quando não conseguimos compreender os nossos filhos.
“Mas eu quero a minha chávena amarela com riscas azuis!”… “Não quero ir à escola hoje. Não vou!”… “Não me lavaste as calças e hoje tenho treino de ginástica, tiro ao alvo e salto à vara!”
Só conseguimos ver o que está à superfície. Então o nosso piloto automático fica no comando. Reagimos. Recorremos àquilo que aprendemos ao longo do nosso próprio crescimento. Às nossas referências.
No entanto, muitos pais – cada vez mais reconhecem que o seu piloto automático não se coaduna com o caminho que querem seguir na educação dos seus filhos.
É o coração a falar mais alto.
Não é por acaso que o coração é o primeiro órgão a formar-se. Já pensou porque razão não é o primeiro nas nossas decisões e escolhas?
A resposta é simples. Não aprendemos. Não sabemos. Crescemos desconectados do nosso coração. Das nossas emoções.
Passamos a vida inteira a sentir: segue o teu coração. Mas no dia-a-dia, atolado de situações e posições desafiantes e pensamos: Sim. Pois. Claro. O coração.
E, claro, depois há a nossa infância – o gigante disfarçado onde vivem todas as raízes de como pensamos e agimos.
Na infância, somos permanentemente bombardeados com frases que nunca esperámos ouvir.
Porque na infância não se vive noutra frequência senão a do coração. Que é a frequência da conexão.
Quem não ouviu frases do tipo: “Usa a cabeça. Tens de usar a cabeça.”… “Quem manda aqui sou eu.”… “Não quero saber se a Agripina se deita às 11 da noite!”
E o coração vai-se desvalorizando. Vai perdendo a força enquanto elemento fundamental na conexão entre as pessoas. De confiança. De valor.
Quando o coração é, não apenas a raiz física – fisiológica – como também, a raiz emocional. Simbólica. De onde tudo parte.
Crescemos – e daí vivermos – de forma tão desconectada que se torna tarefa quase impossível reconectarmo-nos. Parece impossível mas não é.
No entanto, reconectarmo-nos, de forma a podermos criar com o coração, implica refazer ligações – novas ligações – que ficaram danificadas ao longo do nosso próprio crescimento.
Então o que é criar com o coração? Começo pelo que criar com o coração NÃO É. Criar com o coração não é uma escolha que se faz uma vez e se abandona.
Criar com o coração é libertar-se do controlo. É libertar-se da necessidade de poder. É libertar-se de todos os mitos, preconceitos e percepções que construiu durante o seu próprio crescimento. Das suas próprias experiências de desconexão.
É conectar-se consigo mesmo em primeiro lugar. E amar-se como um ser pleno.
Criar com o coração é ancorar, depois, na sua forma de educar apenas em práticas e ferramentas que partem de um ponto de amor. De gratidão.
Criar com o coração é deitarmo-nos hoje e decidir: sou grato pelas crianças que estão na minha vida.
Pode nem sempre ser fácil, mas hoje tenho CORAGEM de escolher MUDAR a maneira como ajo com os meus filhos.
É acordarmos amanhã de manhã e pensarmos que por mais difícil que seja, hoje vou ser corajoso e conseguir gerir as minhas emoções antes de falar/ de agir/ de reagir.
Hoje, em vez de ser a projecção das minhas dores ansiedades ou do meu passado, hoje vou ser quem eu SOU. Hoje vou abrir uma nova página e ser quem eu quero ser.
Quero desde já assegurar que apesar de à primeira vista isto parecer aterrador ou mesmo até conversa fiada – garanto-lhe que esta pequena prática vai provocar alterações significativas num processo a que vou chamar reconexão (rewiring em inglês).
Há inúmeros estudos que cobrem esta matéria. O seu cérebro vai fisicamente estabelecer novas conexões e restituir ligações que estavam quebradas.
Criar com o coração é um processo, uma caminhada de avanços, recuos e novos avanços. Não é um toque de varinha mágica que elimina desafios, momentos difíceis os medos ou as incertezas.
Não, não vai acordar amanhã e o mundo estar perfeito.
Vai continuar a ter momentos em que vai ter vontade de trepar paredes, arrancar os cabelos ou enfiar-se num vaivém espacial e aterrar noutro planeta. E ficar lá até os seus filhos terem trinta e cinco anos.
Mas a boa notícia é que não temos de ser perfeitos. Temos de ir caminhando. Não gostamos da maneira como agimos com os nossos filhos? Arrependemo-nos constantemente do que dizemos ou fazemos?
Esta é uma forma de o nosso coração nos confirmar que estamos prontos para mudar. Devemos escutá-lo.
Parece ser demasiado exigente? É na verdade apenas mais consciente. E esta é uma palavra vital na interacção humana. E muito em especial na formação de crianças mentalmente saudáveis.
Não vamos acordar amanhã e estar diferentes. Não. Espere. Isso provavelmente vai acontecer. É um dos efeitos de expandir a nossa percepção e de absorver novo conhecimento.
Sei que cada adulto que implemente esta prática verá melhorias não apenas na comunicação com as crianças, nas suas manifestações verbais e não verbais, mas também melhorias na sua própria vida.
Ao ampliar a sua percepção, o seu cérebro vai fazer novas conexões.
A mente que se abre a uma nova ideia jamais regressa ao seu tamanho original. Jamais. Já dizia Einstein.
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