Dá-me a mão e fecha os olhos.
Sente a brisa, o cheiro da relva acabada de cortar, o latido dos cães ao fundo.
Vamos parar o relógio por alguns minutos e sentir.
Sente as cócegas que a lã da camisola de gola alta te provoca no queixo e sorri.
Abre os olhos e corre para a poça mais larga e salta.
Imagina um castelo alto no topo do escorrega e ordena ao teu reino que seja feliz.
Desce e sente as pedras debaixo da sola das botas.
Descalça-te e arrepia-te com o frio que elas te provocam.
Larga a minha mão e dá a mão a um novo amigo e mostra-lhe como é bom ser livre.
Cantem e corram até vos faltar o ar.
Calcem-se e joguem à bola e às escondidas.
Sintam a chuva que começa a cair e abriguem-se.
Dá-me novamente a mão e encosta-te a mim, que eu protejo-te da chuva.
E do mundo.
Partilha o meu chapéu mesmo que fiquemos molhados.
Põe a língua de fora e sente as pingas da chuva.
Deixa de sentir o nariz porque enregelou.
Aponta para o arco-íris que se forma, agora que a chuva deu tréguas.
Descobre uma nova flor, que cresce no canteiro e maravilha-te com a sua cor.
Tira-lhe uma fotografia mental para que a possas desenhar mais tarde.
Espera por mim ao fundo da rua e não atravesses sem eu chegar.
Dá-me a mão.
Segue comigo.
Devolve o sorriso que te dou só por te ver tão feliz.
Sente como a felicidade não se segura com as mãos, mas sente cá dentro.
Encosta o ouvido ao meu peito e ouve o meu coração a bater.
Sorri, mesmo que a trovoada seca lá ao longe te provoque medo.
Não largues a minha mão.
Conta-me as tuas histórias e não poupes pormenores.
Fala-me dos amigos que tens na escola e de como te fizeram sentir durante o dia.
Partilha o que aprendeste e surpreende-me com a tua boa memória.
Canta-me ao ouvido e pede-me para cantar contigo, mesmo que desafine.
Janta e come o que está no prato.
Agradece a sorte que tens.
Abraça os que mais te amam.
Escova os dentes enquanto contas até cem.
Vai deitar-te e ouve uma história que te dá sono.
Diz que gostas de mim e sente-me a puxar os cobertores até estares bem tapado.
Dá-me a mão e adormece.
Amanhã começamos a nossa aventura outra vez.
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
3 comentários
Um texto belíssimo, com sabor a oração….Um hino à Educação do olhar…à infância…à beleza…à gratuidade…às grandeza das pequenas coisa…
Da nossa autora Marta coelho, que tem o dom da escrita
Adorei. Este artigo intitulado “Dá-me as mãos e fecha os olhos” fez-me regressar à minha infância tão feliz e em que fazia tantas das coisas descritas aqui. É tão bom lembrarmo-nos de que tivemos uma infância boa, descontraída e super feliz. Foi um excelente esteio para toda a minha vida. Ainda hoje, já avó, sinto que sou uma pessoa de bem com a vida.