
Das coisas que não se perguntam
Das coisas que não se perguntam
Vivemos numa sociedade regulada por um estereótipo de vida. As pessoas que nos rodeiam empurram-nos para aquilo que socialmente consideram “o caminho a percorrer”.
Nascemos e crescemos habituados a que nos perguntem o que queremos ser quando formos grandes. Na adolescência perguntam-nos se já temos namorado. Quando acabamos o curso, querem saber – Então? quando é que te casas?
Casamos. No dia da cerimónia: Queres ter filhos? O bebé é para quando?
Nascido o primeiro filho, ainda na maternidade, avançam: Para quando um irmão?
A maternidade tem sido para mim um constante ensinamento não só enquanto mãe, mas enquanto mulher e enquanto pessoa. Aprendi que há coisas que não se perguntam. Não se pergunta a uma mulher (casada ou solteira) se quer ter filhos. Por trás desta pergunta pode haver uma resposta difícil e dolorosa.
Um dia também eu estive grávida. Não uma, mas duas vezes antes da minha primeira filha. Foram gravidezes sem sucesso que me foram difíceis de superar. Difícil de superar por quem tanto anseia a maternidade. E sim, faziam-me às vezes as perguntas que considero proibidas. Por vezes respondia o politicamente correcto – sim, um dia! Outras vezes, respondia de forma a terminar logo a conversa – quando a natureza o permitir! Outras vezes, fingia que não ouvia, mas a realidade é que, foram tantas as vezes que me apeteceu responder de forma rude e mal educada – não tens nada a ver com isso!
Parece que o sentir na pele não me foi o suficiente.
Quando estava grávida do segundo filho encontrei uma amiga na última consulta antes do parto. Tinha sido minha colega de faculdade, daquelas que tive mesmo pena de não conseguir manter por perto. Sempre gostei muito dela. Divertida, bem-disposta e de sorriso na cara. Perguntei-lhe se estava grávida já que ali estava, e arrependi-me de imediato, mas respondeu-me que sim. Suspirei de alivio e perguntei-lhe se era a 1ª vez, pois tinha a sensação de que ainda não tinha filhos, raios partam o Facebook… Respondeu-me que não, que já tinha tido uma gravidez anterior e perdera o bebé.
Não foi por mal, queria de alguma forma transmitir-lhe confiança e esperança e começo a dizer-lhe que não fique triste. Que não conseguir levar uma gravidez a bom porto é mais comum do que se pensa e que eu própria já tinha perdido uma vez com 9 semanas outra vez com 10 semanas, e que o stress a que estamos sujeitos blá blá blá quando sou interrompida: –Eu estava de 35 semanas!
Fiquei literalmente sem chão. Gelei, engoli em seco… afinal eu estava quase a fazer 35 semanas, senti-me a pessoa mais estúpida ao cimo da terra, na minha cabeça imaginava-me a esbofetear-me a mim própria. Desfiz-me em desculpas e disse-lhe que me sentia ridícula.
Este episódio tem quase 3 meses e todos os dias me assalta o pensamento, não consigo esquecê-lo por nada.
Aprendi de uma vez por todas: há coisas que não se perguntam.
“Mesmo com poucas semanas de gravidez perder um bebe é devastador.”
Ter-vos aqui comigo a dividir momentos da minha vida e da vida dos meus filhos, a lerem esta construção cheia de amor e erros deste que é o desafio de ser mãe de alguém, é muito bom.
A Vanessa não o fez por mal. E já tendo passado por essa situação acaba por ser um pouco mais normal fazer a pergunta, porque se a resposta do outro lado for má, podemos responder “não estás sozinha, a mim também me aconteceu”. O que me irrita profundamente é as mesmas pessoas (que têm filhos e nunca tiveram problema algum) estarem sempre a perguntar o mesmo. Eu nunca perdi nenhum, porque nunca consegui sequer engravidar (3 FIV e ainda nenhuma chegou ao fim: 2 foram interrompidas e na outra não houve fecundação).
Ok, as pessoas não sabem disso mas não têm que se meter na nossa vida. Se ainda não os temos só há duas respostas: não queremos ou não podemos. Seja qual for a nossa ninguém tem nada a ver com isso.
No entanto, quem sabe do meu problema pergunta “então, como estão as coisas?” no fundo a pergunta vai bater ao mesmo porque é uma forma delicada de me perguntar se já estamos em novo tratamento para engravidar e aí eu já não levo a mal.. Como também não levo se vier de alguém que eu sei que passou pelo mesmo.
Acredito que lhe tenha custado essa situação mas tenho a certeza que a sua colega compreendeu e não levou a mal 🙂
Beijinho grande *
https://cantinhodossmurfs.wordpress.com
A Vanessa não o fez por mal. E já tendo passado por essa situação acaba por ser um pouco mais normal fazer a pergunta, porque se a resposta do outro lado for má, podemos responder “não estás sozinha, a mim também me aconteceu”. O que me irrita profundamente é as mesmas pessoas (que têm filhos e nunca tiveram problema algum) estarem sempre a perguntar o mesmo. Eu nunca perdi nenhum, porque nunca consegui sequer engravidar (3 FIV e ainda nenhuma chegou ao fim: 2 foram interrompidas e na outra não houve fecundação).
Ok, as pessoas não sabem disso mas não têm que se meter na nossa vida. Se ainda não os temos só há duas respostas: não queremos ou não podemos. Seja qual for a nossa ninguém tem nada a ver com isso.
No entanto, quem sabe do meu problema pergunta “então, como estão as coisas?” no fundo a pergunta vai bater ao mesmo porque é uma forma delicada de me perguntar se já estamos em novo tratamento para engravidar e aí eu já não levo a mal.. Como também não levo se vier de alguém que eu sei que passou pelo mesmo.
Acredito que lhe tenha custado essa situação mas tenho a certeza que a sua colega compreendeu e não levou a mal 🙂
Beijinho grande *