Já quase todas se cruzaram umas com as outras a determinada altura das suas vidas: na sala de espera de um médico, nas urgências, num internamento, num teste de provocação oral, na farmácia, numa loja de alimentação adaptada, num workshop de culinária, num hipermercado a estudar rótulos, num grupo de apoio presencial, num grupo de discussão na Internet.
Mas quem são estas mães? Como reconhecê-las? Até que ponto a condição clínica dos seus filhos as define? O que podemos esperar delas?
10 tipos de mães de crianças com alergia alimentar:
1 – A Mãe a “apanhar do ar”
Esta mãe ainda não percebeu bem onde está metida. Geralmente sai das consultas médicas mais confusa do que quando entrou. É frequente vê-la colocar à consideração dos seus pares cibernéticos, pareceres médicos e análises clínicas.
2 – A Maratonista
A mãe maratonista já andava farta de “correr”, mesmo antes do running se tornar numa moda. Antes de sair de casa para ir trabalhar, já cozinhou tudo o que o seu filho comerá naquele dia. Aproveita a hora do almoço para dar um salto ao supermercado, enquanto confere no telemóvel as últimas tendências em termos de substitutos do ovo. Para que o seu filho possa participar em segurança no próximo jantar de família, compromete-se a confeccionar o menu completo… para 27 pessoas.
3 – A Veterana
A mãe veterana já percorreu o verdadeiro “caminho das pedras”. Outrora mãe de criança com alergia alimentar é, agora, mãe de adolescente ou adulto com alergia alimentar.
É a mãe que qualquer iniciante nestas andanças deveria conhecer. Foi confrontada com um diagnóstico numa altura em que a oferta de alimentação adaptada era escassa ou inexistente, não se falava do assunto, não havia Internet, nada!
Ela pode afirmar, com toda a propriedade, “são muitos anos a virar frangos… sem alergénios!”
4 – A Calimera
À mãe calimera acontece de tudo e esta, pura e simplesmente, não consegue ultrapassar o registo lamurioso. Queixa-se essencialmente por dois motivos: por tudo e por nada.
5 – A Empreendedora
A mãe empreendedora vê, definitivamente, o copo meio-cheio. Organiza sessões de esclarecimento informais no prédio onde vive, na escola dos filhos, distribui panfletos, cria negócios, dá workshops de alimentação adaptada. Em suma, transforma uma dificuldade numa oportunidade.
6 – A Resolvida
A mãe resolvida assume com desassombro que isto das alergias alimentares é um aborrecimento, mas há que lidar com isso da melhor maneira possível. É tão resolvida, que às vezes sente que deveria fazer terapia para apurar se tamanha aceitação é normal.
7 – A “Mea Culpa”
A mãe “mea culpa” ainda se recrimina por aquela sandes de queijo que comeu, no dia da concepção. Basicamente, sente-se culpada por tudo: pelos genes que transmitiu ao filho, pelo pão sem glúten que fica sempre rijo que nem uma pedra, pela indiferença da sociedade, pelo buraco na camada de ozono.
8 – A Verborreica
A mãe verborreica está sempre a falar sobre alergias alimentares. Às vezes, até a ela lhe escapa o que terá dado azo à conversa. No outro dia, disse “boa tarde” à vizinha do rés-do-chão e, a seguir, sem saber bem como, já estava a falar sobre anafilaxia.
9 – A “Douta”
A mãe douta gosta de discorrer sobre hipersensibilidades mediadas por IGE, linfócitos T e atopia. Às vezes a coisa corre bem, outras nem por isso.
Tem no grupo das “mães a apanhar do ar” o seu público favorito.
10 – A Pessoana
A mãe pessoana tem em si todas as outras mães acima descritas. Pode acordar meio calimera ao lembrar-se dos tempos em que andava a apanhar do ar, mas depressa passa ao registo maratonista, não sem antes ter tido um ataque de douta verborreia, o que lhe causa culpa. Aspira a ser empreendedora, a ser cada vez mais resolvida e torce os dedos para não chegar a veterana.
Por Marlene Pequenão, para Up To Kids®
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