DIVERTIDA–MENTE explicando as emoções

O nosso sistema límbico, ou seja, o “centro das emoções” – tão bem ilustrado no filme DIVERTIDA–MENTE, permite-nos fazer a distinção entre o que é agradável ou nos causa desprazer e desenvolver ações em conformidade como que sentimos. É a zona do nosso cérebro que comanda muitos dos comportamentos necessários à nossa sobrevivência.
O modo como reagimos é alavancado por emoções, como medo, ódio, alegria, tristeza (entre tantas outras). São processos intrapsíquicos, que se expressam pelo sentir, pela linguagem verbal e corporal e estão estreitamente relacionados com as funções cognitivas (memória, atenção, pensamento e linguagem). O “centro das emoções” vai influenciar a maneira de ser e a capacidade de raciocinar, ou seja, tem impacto em alguns aspetos da identidade e da personalidade de cada pessoa.

Apesar de parecer paradoxal, algumas emoções tidas como negativas podem ser positivas. E aqui identifica-se um importante “mediador” – o córtex pré-frontal. Esta zona do cérebro processa várias funções, incluindo o controlo funcional das emoções. Dito de outra forma, é responsável pelo desenvolvimento do juízo crítico e do autocontrolo. Não tem a ver com o saber se é o correto (a criança até pode saber que não é a melhor atitude), mas com a capacidade de fazer o correto. O córtex pré-frontal permanece em desenvolvimento por mais de 20 anos e muitos adultos não chegam a conseguir uma maturidade saudável. Estando em desenvolvimento a regulação do pré-frontal, outras zonas, entre elas a amígdala cerebral (muito associada a situações de explosão de raiva), tornam-se dominantes o que, dentro de certos parâmetros, é perfeitamente normal e esperável em crianças e adolescentes.

Mas a raiva tem o seu lado positivo. Funcionando como antídoto do medo, permite avaliar as situações, distinguindo o que é benéfico do que é prejudicial para nós ou para os outros. A título de exemplo, imagine que vai de viagem e o seu carro e não tem indicador de fim de gasolina. A qualquer momento pode ficar sem combustível e sem poder continuar a viagem. A raiva funciona, de certo modo, como esse indicador da reserva. Sinaliza que alguma coisa não está a correr bem e que algo necessita de ser feito. Regra geral, crianças que têm crises frequentes de raiva são crianças em que a angústia e a tristeza predominam e pode significar um pedido, latente, de ajuda.

Tristeza e alegria andam lado a lado e uma não existe sem outra. Por estranho que possa parecer, muitos momentos bons, em que a criança se sente amada, acarinhada e suportada, ficam “gravados na memória” como resultado de alguma situação menos positiva (uma queda, por exemplo). No entanto, sociedade atual está cada vez mais orientada para o prazer e para a recompensa imediata. Somos diariamente bombardeados com a necessidade de ser, permanentemente, felizes, a qualquer custo e em qualquer circunstância. As crianças estão a crescer num contexto em que apenas a alegria importa e não aprendem a sentir a perda e a frustração. Os pais compram um jogo e após algumas jogadas o filho perde o interesse, ao que os pais compram um jogo novo para reforçar e dar continuidade ao prazer da criança. A criança faz birra ou fica irada porque quer um gelado, apesar de saber que a regra é comer gelados apenas ao fim de semana. Os pais, também eles orientados para a ideia de que sentir alegria é o que mais importa e não estando preparados para lidar com a raiva dos filhos, não são capazes de os frustrar, mantendo o que está acordado.

Mas é, precisamente, o afeto balizado pelas regras, o facilitador, “a ponte” nas ligações entre o córtex pré-frontal e amígdala cerebral. No fundo, é o amor e o desejo manifesto dos pais pelos seus filhos, associado aos limites que consideram ser os adequados, que permitem o estabelecimento das ligações neurais que promovem o tal juízo de valor e o autocontrolo emocional.
Este afeto balanceado, a que podemos chamar de cuidado, é o “alimento” do nosso sistema límbico e leva à concretização ou à inibição de condutas adequadas e ao desenvolvimento de comportamentos, mais ou menos, saudáveis.

Se puder, não deixe de ver o filme e aproveite para discuti-lo com o seu filho, explorando as várias componentes: a afetiva (o que foi sentido), a expressão verbal e facial dos vários estados emocionais e as respostas ou comportamentos que se verificaram.

imagem@saudeinfantil

Compreender o ser humano, perceber os seus comportamentos e sentimentos é algo que me fascina, quase tanto como perceber as mudanças que vão ocorrendo pela intervenção psicológica.

É, para mim, um privilégio poder ser facilitadora dessa mudança e do conhecimento próprio.

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