
Diz-me como foi a tua infância E dir-te-ei como resolverás conflitos em adulto…
As vivências no contexto familiar e, mais concretamente, o relacionamento com os pais é determinante para as crianças aprenderem a lidar com as emoções.
É no seio familiar que surgem, normalmente, os primeiros conflitos e onde as crianças são colocadas à prova na regulação das suas próprias emoções, para que estas não comandem as suas atitudes, numa desgovernada ultrapassagem de limites.
Muitos pais queixam-se sobre a difícil capacidade dos seus filhos gerirem a frustração, quando não lhes dão aquilo que pretendem, quando não lhes proporcionam uma atividade na hora que desejam ou mesmo quando lhes pedem que interrompam ou terminem aquilo que que lhes está a dar prazer para fazerem uma outra qualquer tarefa que não lhes agrada. O habitual descontrolo vivido em muitas casas é resultado de um processo de aprimoração da inteligência emocional que está ainda em construção. Portanto, ainda que estas situações sejam desagradáveis ou mesmo muito desgastantes, são muito necessárias para ajudar o seu filho a desenvolver as suas habilidades emocionais. Por outras palavras, os conflitos lá em casa são ótimas oportunidades de treino, pelo que não as desperdice!
Ainda que a genética possa ter um palavra nesta questão e os pais com padrões emocionais mais instáveis possam constituir “fator de risco”; a verdade é que pode aproveitar conflitos para ajudar o seu filho a tornar-se um expert emocional! E já desde a primeira infância, uma fase de desenvolvimento marcada pelo aumento da mobilidade e dependência da criança, em que a criança pode ensaiar as suas competências emocionais.
Sempre que os pais se mantêm regulados, firmes e confiantes (transmitindo segurança e clareza nas suas mensagens) ajudam os seus filhos a regular-se em conflitos, com impacto a curto e longo prazo! De forma contrária, quando os adultos reagem de forma brusca ou irritada para com os seus filhos estão a aumentar a probabilidade destes também agirem impulsivamente e apresentarem mais birras do que seria de esperar na sua idade.
Pai e mãe sejam modelos de emoções e reações!
- ALERTA VERMELHO: ajude o seu filho a identificar quando está sob o controlo de uma emoção como a zanga ou frustração;
- STOP: ajude o seu filho a controlar o primeiro impulso, que pode ir desde um descontrolo verbal (dizer algo sem pensar, gritar) a um descontrolo físico (agredir, partir objetos). Sempre que sentir a “onda” do impulso imagine um grande sinal de STOP e esse é o momento para se distrair de forma a diminuir a intensidade da emoção e aliviar pressão, “baixando a temperatura”!
- BAIXAR A TEMPERATURA: ajude o seu filho a regular e acalmar estados emocionais descontrolados: afastar-se um pouco, sentar-se num local confortável e respirar lenta e profundamente; contar de 50 até 0, ouvir uma música que o acalme, caminhar e apanhar um pouco de ar, pensar em algo que gosta de fazer… ou outros recursos internos que funcionem bem em momentos como estes;
- NÃO AGIR DE CABEÇA QUENTE: ensine o seu filho a não tomar decisões em momentos de zanga, raiva, irritação ou frustração; pelo contrário, a encontrar soluções, apenas nos momentos em que está calmo e sereno. É preciso existir um intervalo de tempo entre o sentir e o agir;
- REFLETIR: sobre as razões que o fizeram perder o controlo do que estava a sentir. Este é um excelente momento, para pais e filhos partilharem aquilo que sentiram no momento em que se iniciou o conflito.
Atenção, vontade e empenho são fundamentais para interromper padrões de comportamento impulsivo e desenvolver boas habilidades na forma como se lida com os conflitos. Agora nunca se esqueça que isto é um trabalho em equipa e começa de cima para baixo. Lembre-se que pode transmitir ensinamentos valiosos, normas e máximas de vida importantíssimas ao seu filho… contudo, ele vai sempre seguir o seu exemplo!
imagem@flickr
Queria perceber onde é que o artigo faz a “ponte” entre a educação que nós próprios recebemos e a educação que damos aos nossos filhos, como o título sugere….
Caro Marcelo,
Grata pela sua questão. Possivelmente muitas outras pessoas poderão ter a mesmo dúvida. A nossa capacidade de resolver conflitos em adulto está intimamente relacionada com o desenvolvimento da nossa inteligência emocional, aquando crianças. “É no seio familiar que surgem, normalmente, os primeiros conflitos e onde as crianças são colocadas à prova na regulação das suas próprias emoções, para que estas não comandem as suas atitudes, numa desgovernada ultrapassagem de limites.” É neste momento que os pais ajudam as crianças a reconhecer a sua frustração, a moderar a sua zanga e respeitar os limites que os tornarão adultos capazes de resolver conflitos, encarar a frustração e moderar a zanga (uma vez que situações como estas vão proliferar ao longo da vida). No fim, algumas dicas para os pais ajudarem as crianças neste valioso desenvolvimento emocional com repercussões para toda a vida. Espero ter respondido à sua questão.
Abraço,
Vera Lisa Barroso
Sempre fui uma criança triste; vejo pelas minhas fotografias; o meu pai não cria que eu nascesse. Nunca tive-mos um bom relacionamento.