
E se não houver sol? Uma mão cheia de coisas…
E se não houver sol? Uma mão cheia de coisas…
Já todos sabemos como acabou o Gato…o Gato Malhado…lembras-te?
Mesmo assim, gostamos de reler. Talvez haja uma esperança de chegarmos ao fim e ele – o final – ser diferente, não é?
Como se reler um livro, rever um filme ou reencontrar uma pessoa, fosse capaz de trazer finais diferentes. Não. Não é capaz.
Sei que deves estar a pensar: “Então mas as pessoas não mudam?!“. Mudam. Mas pouco.
Nestas férias, temos um final à nossa espera. Voltaremos para a barriga da cascavel? Provavelmente.
A mim ninguém me tira da ideia…a cascavel tem um chocalho! Eu, se fosse o gato, teria ouvido o chocalho! E teria fugido.
O problema não é esse, bem sei. O problema era a vontade do gato! Eu não quero acabar na barriga da cascavel.
Não quero férias como uma tarde de verão.
Não desejo terra à vista, como quem grita “fim à vista”. Vou beijar demorado, vou acordar cedo, vou tentar o equilíbrio entre a rotina e a falta de regras. Vou beijar roubado, vou acordar tarde…
E vou fazer mais uma mão cheia de coisas. E se não houver sol?
Quero reencontrar-te diferente no fim destas férias porque fizeste o mesmo. Quero ler em ti outro final, porque reescreveste as tuas histórias.
Vou fazer isso também, numa mão cheia de coisas:
- Vou contar aos meus filhos a história de uma nuvem feia, má, triste, suja,…E vou explicar a força do vento. O vento capaz de empurrar as nuvens feias para longe. Essa força está dentro deles. Falarei de persistência, de resiliência, claro está. Mas falarei da nuvem e do vento.
- Vou contar ao amor da minha vida a história de uma brisa fresca, traiçoeira, aborrecida…e vou explicar a força da prevenção. Esta brisa, chamada “a idade a chegar” pode ser terrível! Mas, como me preparo, hei-de ter sempre um casaquinho. Não se pode confiar neste clima. A partir de certa idade, um casaquinho vai sempre bem. Falarei de regar o amor, claro. E de brisas que afinal, com preparação, não são alterações climáticas. São naturais.
- Vou contar sobre o meu sonho matinal. Sonho onde reúno os amigos (aqueles três…quatro…) com frequência. É a história de um cardume navegante, conquistador, capaz de cortar as águas porque está em grupo.
- Vou contar sobre o avô Jaime e sobre a forma como morreu. A forma como deixou um legado de boa disposição, de humor, de sorriso e de vinho tinto (daquele incapaz de deixar mancha). De vinho tinto capaz de deixar marca. Uma marca boa.
- Vou contar a história do sorriso doce mais inexplicável. A luz surpreendente, surgindo como uma música de ANAVITÓRIA, ou melhor, Rubel em “Quando bate aquela saudade”. Vou contar sobre o sonho. Sonho.
Sonho com o gato a fugir da cascavel. Não, não chega a casar com a andorinha, mas está escrito com outro fim, com outra cor e luz. Sonho com o chocalho a avisar. Sonho com uma noite de verão que, no fim de contas, pode ser a vida toda. E se não houver sol?
Sonho que, afinal, em vez de gato, sou um sol.
Boas férias.
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A criação do Mundo Brilhante permite-me visitar escolas de todo o país e provocar os diferentes públicos para poderem melhorar. Agitamos. Queremos deixar marcas.