É tão bom ter-te aqui
Cheguei à creche para ir buscar a minha filha e ela segurou-me a cara entre as mãos, feliz como nunca, e disse com os olhos cheios de amor: “olá mamã, olá mãe”.
Estava feliz por me ver, como eu me sinto feliz só por saber que ela dorme no quarto ao lado depois de um dia agitado, cheio de brincadeiras.
Não há como explicar este amor.
Desconfio até que deveria ser criada uma nova palavra para o definir, porque “amor” já é tão cheio de tantas coisas, tantas coisas que nada têm a ver com o que vivemos e sentimos por um filho. É um mundo à parte. Um compartimento fechado que se estende aos demais, quantas vezes erradamente se lhes sobrepõe, mas que não se mistura.
A minha filha, agora um papagaio autêntico, decidiu que é mais divertido chamar-me pelo nome do que tratar-me por mãe. Acho graça, mas corrijo, porque Marta sou para toda a gente: quem me quer bem, quem não me conhece, quem só comigo falou uma vez.
Mãe sou só dela. Para ela.
É com ela que partilho as minhas gargalhadas mais genuínas, algumas esquecidas desde a infância.
É com ela que canto a toda a hora, desde que nasceu, mesmo quando lhe quero explicar algo.
Para ela tento ser um ser humano melhor.
É nela que tento aplicar o que me ensinaram, que tento não repetir os erros que vejo à minha volta, que me esforço por melhorar os meus.
Partilhamos a inicial dos nossos nomes, a nossa casa, o amor pelo pai, momentos de ternura e algumas chamadas de atenção.
Foi por ela que, grávida como um pinguim, me levantava da cama ao sábado de manhã para fazer a ginástica pré parto – quando só queria dormir mais um bocadinho (já sabendo que era melhor fazê-lo na altura que guardar para depois).
É por ela que hoje madrugo ao sábado de manhã para entrar na piscina com ela, para a ver aprender a mergulhar, para a ver destacar-se pela sua audácia, pela sua curiosidade de engolir o mundo.
A minha filha faz-me comer bem, cozinhar melhor, ter atenção a todas as minhas escolhas.
É com ela que converso de igual para igual porque sei que alguma coisa ficará lá dentro.
Foi para ela que inventei as minhas melhores histórias.
Ela não sabe, mas é a tal.
E até pode gastar-me o nome, mas nunca gastará o que significa aquela pequena palavra de três letras apenas.
Por mais que me chame, nunca deixarei de vir.
É tão bom ter-te aqui
É tão bom ter-te aqui
imagem@weheartit
Autora orgulhosa dos livros Não Tenhas Medo e Conta Comigo, uma parceria Up To Kids com a editora Máquina de Voar, ilustrados por aRita, e de tantas outras palavras escritas carregadas de amor!
1 comentário
fantástico Marta!!!! Adorei!!! Este texto é de facto lindamente ternurento!!!
Obrigada!!!