É urgente ensinar as crianças a brincar!
No meu dia-a-dia como terapeuta ocupacional e trabalhando em comunidades educativas noto que as crianças estão cada vez mais “trapalhonas”. As crianças “trapalhonas” são aquelas que batem com as pernas e braços em tudo, aquelas crianças que chegam a casa cheia de nódoas negras e nem sabem explicar como as fizeram, aquelas que vemos correr e parece que não sabem muito bem como fazê-lo, são descoordenadas, estão sempre a cair.
E também ouço muitos educadores/professores/pais com queixas em relação à letra (caligrafia) das crianças, à forma como recortam, como pegam nos talheres, como realizam a maioria das atividades que envolvem motricidade fina. Estas crianças são as “desleixadas”.
Estas crianças “trapalhonas” e as “desleixadas”, normalmente são as mesmas!
Dando um bocadinho uma visão mais técnica, para que as crianças tenham bons desempenhos motores têm também que exercitar músculos, a coordenação e outras competências motoras. Mesmo para escrever é importante ter uma boa motricidade global porque, de uma forma muito simplificada isto também vai “mexer” com a postura nas atividades gráficas e tem um impacto enorme na coordenação motora fina.
O que se passa, é que a maior parte destas crianças não têm atividades motoras suficientes e eficazes nos primeiros anos de vida! Antigamente corria-se, trepava-se árvores, brincava-se ao eixo, à apanhada, ao berlinde…
Estas atividades eram excelentes práticas motoras que faziam com que as crianças fossem muito mais desenrascadas. Neste momento, o que se vê são crianças que jogam PlayStation e Tablets e não sabem fazer carrinhos de rolamentos.
O que os pais estão a ensinar às crianças?
Algumas crianças que acompanho até sabem empilhar cubos, e sabem extremamente bem contá-los. Até sabem fazer contas de adicionar e subtrair com esses mesmos cubos! Mas, por vezes, não sabem como fazer uma casinha, ou um foguetão! Não que não seja importante ensinar brincadeiras com conteúdo pedagógico, ou seja, as cores, os tamanhos, os números! Isso é deveras importante! Mas uma brincadeira lúdica, apenas por ser lúdica, também é importante! Brincar em liberdade! E depende apenas dos adultos as crianças conseguirem brincar! É urgente ensinar as crianças a brincar! Ou melhor, estimulá-las a brincar, porque brincar é inato! Brincar é tão inato ao ser humano que o nosso primeiro brinquedo é o cordão umbilical que nos liga às nossas mães! Impressionante!
O que vejo muitas vezes no meu dia-a-dia com crianças é que elas não sabem brincar!
Isto deixa-me triste! Sabem muito bem utilizar computadores, tablets, telefones! Sabem mexer nestes gadgets de uma forma brilhante, mas depois não sabem fazer encaixes de peças tridimensionais, não sabem brincar aos papás e mamãs, ficam perplexos quando vêem um brinquedo que não tenha botões e muitos perguntam ” onde é que se liga?”.
Pais e avós dizem que os miúdos já saem da barriga das mães a saber mexer em Tablets e telefones de última geração. Eu faço uma correção: os miúdos sabem o mesmo que sabiam há anos atrás, a grande diferença é que os adultos só sabem mexer nesses gadgets e as crianças são muito observadoras e perspicazes que aprendem com o que veem! E o que veem são adultos a deslizar apressadamente páginas nos Tablets e o “tiritar” dos dedos nas teclas do ecrã do telemóvel! E de forma impressionante (e porque está nos genes) imitam!
A verdade verdadeira é que nós, adultos, não sabemos como ensinar as crianças a brincar!
A serem mais ativas para o bem delas e para bem geral. O brincar mais motor faz com que as crianças libertem o stress, interajam com as outras crianças, conheçam o seu corpo e aprendam a ter controlo motor eficaz.
São os adultos que têm que reensinar as crianças a brincar. Mas como podemos ajudar as nossas crianças a brincar?
Por mais estranho que pareça a resposta é: brincar! E a receita é bastante simples!
Os adultos também têm que se treinar. Precisam de reaprender a brincar. Isso implica saber distanciar-se dos tabus, deixarem levar-se pela imaginação, relembrar-se das brincadeiras que mais gostavam!
É preciso voltar a desenhar macacas no chão e jogar à apanhada!
Aqui vão algumas dicas:
- Não são necessários grandes brinquedos! Aliás ficaríamos impressionados com a quantidade de brincadeiras que e possível fazer sem brinquedos nenhuns! Só pessoas! Criatividade é a palavra de ordem!
- Precisamos de tempo! Mas também não é necessário assim tanto! E a máxima aqui é: mais vale 30 bons minutos do que 60 minutos “brincados a correr”.
- É importante estar realmente presente! Estar ali com a criança, mesmo! Ajudá-la, estimulá-la, protegê-la, ensiná-la! Responder às suas perguntas! Aceitar o copo com gelado que a criança fez na sua cozinha de brincar, ajudar a deitar a boneca, por o avião a voar, montar legos de várias formas, ajudar a trepar o escorrega, jogar à bola, mesmo nunca tendo sido grande futebolista!
Por mais que seja difícil para o adulto, é importante deixar os problemas dos adultos à porta do quarto das brincadeiras, fora do parque de diversões! Quarto (e mais importante): reforçar TUDO o que a criança faça bem! Se a criança sentir confiança nas suas ações, mais facilmente ela vai continuar a tentar coisas novas. E é assim que as aprendizagens multiplicam-se.
Estas dicas não me parecem muito difíceis! Há que pô-las em prática, e também nós, adultos nos divertirmos com as brincadeiras das nossas crianças!
Boas brincadeiras!
Thaís Candido, Terapeuta Ocupacional, para Up To Kids®
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4 comentários
Reblogged this on carlagerardo14.
é verdade, mas cada vez mais os mi+udos estão na sala de aula, o professor apresenta-se em stress porque tem receio de não conseguir dar as matérias. no meu tempo apenas existia um livro para cada disciplina, agora é a moda das fichas, as crianças levam o tempo a fazer fichas, como é possível o adulto sentir-se cansado qdo faz uma formação, e as crianças será que tem tempo para descansar, para fazer o que lhe dá na telha, brincar autonomamente,sem o adulto a chatear. nem tempo tem para estar com a família, chega cansada a casa e dp. deixa-se dormir, está exausta. as famílias parecem que estão desejando de despejar os filhos nas escolas. dizem não o aguento mais ……
A brincadeira não se ensina, é preciso apenas tempo, paciência e não interferir com a vontade da criança de experimentar.
gostei