
8 coisas que aprendi com a educação na Finlândia
A Finlândia, país conhecido por ter um dos sistemas de ensino mais elogiados do mundo, está constantemente na vanguarda das metodologias de ensino. Em 2015, foram integrados 35 professores brasileiros em turmas de ensino básico, profissional e superior, na área de ciencias e tecnologia.
A BBC Brasil conversou com quatro desses professores, para apurar de que forma poderão aplicar as ferramentas lá desenvolvidas em contexto de sala de aula, de forma a melhorar o aprendizado nas instituições públicas de ensino onde atuam.
Os professores relatam que podem agregar partes do ensino finlandês às suas rotinas, criando pequenas revoluções na aprendizagem. Ficam os 8 tópicos, que estes professores mais valorizaram na educação na Finlândia
1. Desenvolvimento de projetos em sala de aula
Os projetos elaborados por alunos e a resolução de problemas têm grande protagonismo no ensino finlandês, em detrimento das aulas tradicionais.
São as metodologias chamadas de “problem-based learning” e “project-based learning” (ensino baseado em problemas ou projetos). Aqui, problemas – fictícios ou reais da comunidade – são o ponto de partida da aprendizagem. Os alunos aprendem pela experimentação e procuram soluções.
“Os projetos são desenvolvidos sem o envolvimento tão direto do professor, em que os alunos aprendem não só o conteúdo, mas a gerir um plano e lidar com erros” – Bruno Garcês, professor de Química do Instituto Federal do Mato Grosso
“Um curso de Administração tem disciplinas tradicionais no primeiro ano. Mas, nos dois anos e meio seguintes, os alunos deixam de ter professores, passam a ter tutores, formam empresas reais e aprendem enquanto desenvolvem o negócio”, Francisco Fechine, coordenador do Instituto Federal de Tecnologia da Paraíba.
Não é uma estrutura que sirva para qualquer tipo de curso, mas funciona nos voltados, por exemplo, a empreendedorismo: “Os alunos têm uma carga de leitura, para procurar nos livros as ferramentas que precisam para resolver os problemas.” Joelma Kremer, do Instituto Federal de Santa Catarina.
2. Produção de conteúdos
A resolução de problemas e projetos é parte dum ensino centrado na produção pelo próprio aluno. Ao professor cabe mediar a interação em sala de aula e saber quais metas que devem de ser alcançadas em cada projeto.
“O mais comum é o professor preparar a aula, dar e corrigir exercícios. O aluno faz pouco. Podemos dar mais espaço para o aluno avaliar o que vai desenvolvendo“, Giani Barwald Bohm, do Instituto Federal Sul-rio-grandense.
“No modelo tradicional de ensino, o professor é o que aprende mais. Na Finlândia, o foco é o aluno. O aluno é que pesquisa os conteúdos, e o professor tem de saber qual o objetivo da aula. Para isso não é precisa muita preparação, mas sim de conhecimento qualificado (dos docentes)“, Joelma Kremer.
3. Repensar a avaliação
Neste contexto, a avaliação é diferente, diz Kremer: “A avaliação está presente, mas os alunos autoavaliam-se, avaliam-se uns aos outros, e o professor avalia os resultados dos projetos“.
“Ao reduzir o número de testes (formais) e avaliar mais os trabalhosde grupo e atividades realizadas, os professores têm um “filme” do desempenho do aluno, e não apenas uma foto (do momento da teste)”, diz Fechine.
“Conhecemos um professor de física finlandês que avaliava seus alunos pelos vídeos que eles gravavam dos experimentos feitos em casa e mandavam por e-mail ou Dropbox.”
4. Tecnologia como meio
A tecnologia não é o foco deste processo, mas complementa o trabalho do professor como ferramenta de trabalho.
“Em vez de proibir o uso dos telemóveis, os professores aproveitam-nos para estimular a participação dos alunos – por exemplo, utilizando aplicações específicas para dar resposta a trabalhos específicos.”, conta Kremer.
“A aula torna-se mais interessante para os alunos. E evita que o professor esteja constantemente a criar inimizades por retirar ou mandar desligar os telemóveis diversas vezes vezes por aula.”
Existem também salas de aula com mobiliário específico, projetado especialmente para ir ao encontro das necessidades de aprendizagem dos alunos e dos métodos aplicados.
“Muitas salas têm sofás, poltronas, mesas ajustáveis para trabalhos individuais ou em grupo e vários projetores. É um mobiliário pensado para essa metodologia diferente de ensino.”, diz Kremer. “
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5. Desenvolver competências adaptadas ao século XXI
O ensino fundamental finlandês continua dividido em disciplinas tradicionais, mas cada vez mais centrado no desenvolvimento das competências dos alunos, e não apenas na assimilação de conteúdo tradicional.
“São desenvolvidas competências como comunicação, pensamento crítico e empreendedorismo”, Giani Barwald Bohm
Estimular a autonomia do aluno é uma forma de interromper o ciclo “alunos passivos, que só fazem a tarefa se o professor obrigar, e que interagem muito pouco“.
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6. Aulas mais curtas com intervalos frequentes
No ensino básico, as aulas têm a duração de 45min com interrupção de 15min para intervalo – Esta prática, embora já seja utilizada em algum cursos de ensino profissional pois “Alivia a tensão de ficar tantas horas sentado“, poderia ser aplicada em vários outros países.
A ideia é, teoricamente, interessante, mas aponta para uma carga horária menos exigente. E não esquecendo que na Finlândia existe uma forte cultura de pontualidade. “As aulas começam à hora exata e aluno rapidamente entra na (rotina de) resolução de problemas.”
7. Criar ligações com empresas
Parte dos projetos dos estudantes finlandeses são elaborados em parceria com empresas, de forma a desenvolverem uma consciência real do mercado de trabalho.
“o aluno desenvolve algo diretamente para o mercado de trabalho, que vai ter relevância para o próprio estudante e é contextualizado com as empresas locais.”
8. Formação prática e valorização do professor
A formação dos professores é apontada como a principal chave do sucesso do ensino finlandês. Existe uma maior interacção entre o professor e os alunos, tal como uma relação mais direta entre os professores, os diretores pedagógicos e os diretores escolares.
“Além disso, há uma valorização cultural do professor, que é tem melhores condições de trabalho, mais tempo, e é melhor remunerado“
Por Paula Adamo Idoeta, para BBC Brasil, São Paulo
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